Nasceu no norte, cresceu no sul e, é hoje, símbolo de resiliência, com um forte sentido de missão familiar. Em conversa com Diana Rebelo, Administradora da Cardiauto, conhecemos a história de uma empresa moldada pelo espírito empreendedor e pelos valores que a tornaram única.
Fundada por Carlos Rebelo, a Cardiauto começou em 2011, numa pequena oficina em Albergaria-a-Velha, no distrito de Aveiro. Com apenas uma caixa de ferramentas, um espaço modesto e uma determinação inabalável, Carlos deu os primeiros passos no que viria a tornar-se um projeto de referência. A sua ligação ao setor, no entanto, já vinha de longe – desde os 14 anos que se dedicava à área oficinal, acumulando experiência, conhecimento técnico e uma visão clara de futuro.

No entanto, a verdadeira viragem deu-se em 2014, quando a família decidiu recomeçar no Algarve, região onde Carlos tinha um familiar a residir. Diana Rebelo, filha do fundador, recorda esse momento como determinante: “O meu pai veio primeiro e esteve cá sozinho durante meio ano. Depois juntámo-nos a ele – eu, a minha mãe e a minha irmã. Foi, de facto, um recomeço do zero”.
Esse espírito empreendedor e familiar foi a chave para o crescimento da Cardiauto, que, ao longo dos anos, foi se expandindo com a abertura de novas oficinas em Lagoa e Armação de Pêra. Esta última, focada em serviços rápidos, consolidou a empresa como uma referência no setor automóvel da região. Hoje, com sede em Portimão e também presente em Lagoa, a Cardiauto é um exemplo de inovação e excelência.
DieselArt: projeto de serviços especializados
Um dos marcos mais significativos na trajetória da Cardiauto foi a criação da DieselArt, em 2021. Este laboratório especializado, que funciona num espaço separado e controlado, presta serviços exclusivamente a outras oficinas. “Aqui não reparamos só peças de carros. Trabalhamos também com maquinaria agrícola, industrial e até motores de barcos. A nossa especialização centra-se em sistemas de injeção, abrangendo desde injetores e bombas, dos sistemas mais antigos aos mais recentes e aos filtros de partículas e turbos”, explica Diana.
A aposta na DieselArt surgiu como resposta a uma lacuna no mercado algarvio e como forma de elevar o nível técnico da empresa. Com bancos de ensaio próprios e maquinaria de topo, a DieselArt distingue-se pela capacidade de reparação e recondicionamento de peças que, de outro modo, seriam substituídas. “Com a limpeza adequada, um filtro de partículas terá um custo financeiro significativamente mais baixo quando comparado com a aquisição de um novo”, exemplifica. A abordagem é técnica, mas também ambientalmente consciente. “É uma forma de poupar e de respeitar o ambiente. Não faz sentido descartar algo que pode ser recuperado”.

Inovação e o futuro do setor
A Cardiauto tem apostado na modernização dos seus serviços e na formação contínua da equipa, acompanhando um setor automóvel em rápida transformação. Integra a rede Checkstar Marelli, pioneira a nível mundial, e a Diagtec, focada na mecatrónica e eletrónica automóvel, verdadeiras comunidades de partilha e evolução. “Nenhum mecânico ou mecatrónico sabe tudo, e essa troca é fundamental”, destaca Diana.
A empresa atua em quatro áreas chave: mecânica geral, eletricidade, mecatrónica e sistemas de injeção, com forte incidência em marcas como o grupo VAG, Mercedes, BMW e PSA. A aposta na eletrónica é sólida: reparações de centralinas, reprogramações e diagnósticos com softwares oficiais e testes em movimento, como o Dinorolo. “Hoje, os carros são computadores sobre rodas. O tempo em que bastava trocar peças acabou”, refere.
De olhos postos no futuro, a Cardiauto está a investir em formação para veículos elétricos e híbridos, incluindo intervenções em baterias, como a substituição de células. “O elétrico é um estilo de vida, poupa-se combustível. E a produção das baterias também tem um custo ambiental que poucos discutem”.
O maior desafio? A acessibilidade. “Nem todos podem dar 40 ou 50 mil euros por um carro elétrico. Esse futuro existe, mas não é para todos”, afirma Diana, sublinhando que Cardiauto equilibra inovação com realidade, servindo tanto quem já circula com veículos do futuro como quem ainda mantém modelos mais antigos.
O objetivo é claro, continuar a crescer de forma sustentável, mantendo o rigor técnico e o cuidado com as pessoas. “Com motor a combustão, híbrido ou elétrico, a Cardiauto quer continuar a ser sinónimo de confiança e competência”, avança a entrevistada.
A equipa e a formação
Hoje, a Cardiauto emprega 18 pessoas e aposta fortemente na formação contínua, inovação técnica e, sobretudo, no bem-estar da equipa. “A nossa empresa é feita de pessoas. Sempre foi esse o lema dos meus pais. Isto não é só uma oficina, é uma segunda família. Passamos mais tempo aqui do que em casa”, afirma Diana. Para reforçar essa cultura, a empresa organiza almoços semanais, atividades de grupo e até disponibiliza apoio psicológico aos funcionários, uma iniciativa que nasceu da sensibilidade da mãe de Diana e que tem vindo a ganhar adesão entre a equipa.
Esse cuidado com as pessoas reflete também o nível de exigência técnica e profissional promovido desde a fundação da empresa.
“O meu pai sempre foi extremamente criterioso na escolha dos mecânicos e eletricistas. Ele nunca parou no tempo, foi-se formando, sempre a evoluir”. É esse espírito de aprendizagem constante e dedicação que molda a equipa e sustenta a qualidade dos serviços da Cardiauto.
A formação é vista como um eixo essencial do crescimento da empresa. A Cardiauto acolhe estagiários de escolas técnicas, mas não esconde a dificuldade em encontrar mão de obra qualificada. “Atualmente, a generalidade dos formandos têm interesse pela área da mecatrónica, mas é necessário salientar que é preciso compreender bem a mecânica, pois ambas têm que estar presentes e em simultâneo. O Estado devia investir mais nas escolas profissionais, para dar condições aos jovens de aprender com as mãos, com carros reais, com ferramentas adequadas. Isso faria toda a diferença”, partilha.

A importância da confiança e da transparência
Um dos maiores pilares da oficina é a relação de confiança com o cliente, e passa, sobretudo, por saber comunicar. “Saber lidar com as pessoas é muito complexo. Até porque depois da pandemia, parece que ainda ficou pior”. A realidade atual traz consigo um público mais impaciente e desconfiado, por isso, a oficina procura adotar práticas de total transparência, como mostrar peças substituídas e explicar com detalhe cada etapa do processo. “Sempre prezámos por um negócio limpo e justo”, advoga Diana.
Além disso, trabalham com muitas empresas, o que exige um ritmo ainda mais exigente “Nós não temos um armazém enorme de peças. Estamos pendentes das transportadoras para fazer aqui o elo de autoconexão”. O tempo de entrega, os erros dos fornecedores e os imprevistos logísticos são obstáculos diários que, quando explicados com clareza, ajudam o cliente a compreender os desafios enfrentados.
Crescimento rápido e sustentável
O crescimento da empresa tem sido significativo. “Tivemos um aumento de negócio muito grande no espaço de dez anos. Atualmente, temos uma carteira de clientes equivalente a empresas com décadas de existência”. Mas com o crescimento vem a necessidade de espaço e investimento. Apesar de terem 800 metros quadrados de instalações, já sentem que não é suficiente.
A ambição passa, no futuro, por construir um pavilhão que reflita a identidade da empresa. No entanto, o elevado custo dos terrenos representa um obstáculo considerável. Apesar da existência de fundos comunitários, o acesso a esse apoio está longe de ser tão simples quanto frequentemente se sugere. A gestão do negócio tem sido conduzida com grande dedicação, marcada por um percurso de constante esforço e aprendizagem prática.

Visão da empresa
Mais recentemente, a empresa associou-se ao Business Network International (BNI), uma rede de entreajuda entre empresários. “Decidimos aderir e já tivemos a nossa primeira reunião”, frisa, esclarecendo que este passo representa uma oportunidade para ganhar mais visibilidade, alargar contactos e crescer de forma estratégica.
O objetivo da empresa está bem definido, como sublinha Diana Rebelo: “Continuar a evoluir, a crescer e a oferecer cada vez mais e melhores serviços aos nossos clientes”. Com um compromisso inabalável com a qualidade e o rigor, a Cardiauto encara o futuro com ambição, mas também com sentido de responsabilidade, mantendo-se fiel aos valores que estiveram na sua origem: trabalho honesto, proximidade e dedicação. A história da Cardiauto é a prova de que é possível crescer com inovação, sem abdicar da alma familiar. Alicerçada no rigor técnico, na transparência e num foco genuíno nas pessoas, a empresa continua a traçar um caminho sólido e confiável no setor automóvel.




