Todos nós temos direito ao bem-estar mental

O Dia Mundial da Saúde Mental é assinalado anualmente a 10 de outubro e, como tal, no mês de outubro são várias as campanhas que realçam esta temática. No entanto, o objetivo é que este seja um tema falado todo o ano e que a população perceba que se trata de uma questão de saúde mental global, e ajudar a identificá-la como uma causa comum a todos os povos, ultrapassando barreiras nacionais, culturais, políticos ou socioeconómicas. 

 

Dr.ª Marisa Marques (cp. 21210), Psicóloga Clínica e da Saúde

 

Atualmente uma grande dificuldade que enfrentamos é o combate ao preconceito e ao estigma em torno da saúde psicológica. Contudo, temos de ressalvar que o trabalho desenvolvido ao longo dos últimos anos tem conduzido a uma diminuição do estigma.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a saúde mental uma prioridade e defende que a questão da saúde mental não é estritamente um problema de saúde, mas sim um problema social. Apesar da dedicação e investimento do Sistema Nacional de Saúde e do Governo, é importante que a sociedade compreenda a necessidade de investir na saúde mental. Em pleno século XXI, ainda existe um estigma associado à doença mental que é preciso eliminar. O diagnóstico e acompanhamento dos doentes é fundamental para que ganhem anos de vida, e que para que mantenham a sua participação ativa na sociedade.

Neste sentido, sendo que nas idades mais precoces este estigma e medo pela doença mental é mais impactante, torna-se ainda mais imprescindível romper o: silêncio da ausência de saúde mental na infância e na adolescência!

O período entre o nascimento e a entrada na escola primária é, habitualmente, considerado feliz e sem preocupações, pelo que, para a maioria das pessoas, é surpreendente saber que um número significativo de bebés e crianças sofrem de uma perturbação mental relevante.

Dada a importância da deteção e intervenção precoce nestas crianças, tem havido nas últimas décadas uma crescente preocupação com a saúde mental nesta faixa etária. São reportadas na literatura como sendo frequentes as perturbações do sono, alimentação, regulação emocional, processamento sensorial e de comportamento, com taxas de prevalência que atingem 10 a 20% das crianças tenham um ou mais problemas de saúde mental, sendo destes 25% nos problemas alimentares e 23% nos problemas de sono moderados. A maioria destes problemas têm impacto no desenvolvimento da criança, tornando-as também mais vulneráveis a vir a sofrer de doenças mentais na adolescência ou vida adulta.

Nesta faixa etária, as crianças não possuem as mesmas competências cognitivas, emocionais, e verbais que as crianças mais crescidas ou os adolescentes, pelo que a família é um alicerce fundamental para o diagnóstico e posterior tratamento. Também as abordagens são diferentes das utilizadas em crianças mais velhas, sendo frequentemente necessário a observação da interação cuidador-bebé, a sua separação e a posterior reunião ou mesmo a observação direta na creche ou em momentos chave do problema, como por exemplo, uma refeição.

Nos dias de hoje, os pais passam os dias a correr, têm cada vez dias mais longos de trabalho e menos tempo para a família. Chegar cansado, sem ter uma noite seguida de sono há meses, e cuidar de um bebé/criança com algum problema, inevitavelmente aumenta os níveis de ansiedade dos adultos que moram em casa, o que se transmite, involuntariamente, para os mais pequenos, aumentando por sua vez os problemas iniciais das crianças, criando um ciclo fechado, que precisa de ser interrompido.

As perturbações de saúde mental da primeira infância são mais comuns do que se imagina, sendo por isso frequente a desvalorização dos problemas e atraso na procura de ajuda. Embora algumas das perturbações (como PHDA, Autismo, entre outras) não apresentem tratamento curativo, é sempre possível melhorar a qualidade de vida dos mesmos e da família com uma intervenção adequada, o mais precocemente possível.

Segundo a Associação Americana de Psiquiatria da Infância e da Adolescência (AACAP) uma em cada cinco crianças apresenta evidência de problemas mentais e esta proporção tende a aumentar. De entre as crianças que apresentam perturbações psiquiátricas apenas 1/5 recebe tratamento apropriado. Dado que a doença mental não tratada na infância tem sérias consequências na vida enquanto adolescente e mais tarde enquanto adulto, condicionando a saúde física e mental e limitando oportunidades de vida.

Apoio médico é essencial. O encaminhamento da criança a profissionais qualificados como pediatras, psicólogos e psiquiatras pode salvar uma vida!

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