Quem somos, de onde viemos, para onde vamos?

Professora Doutora Ana Santos Silva-Herdade Presidente da SPHM Professora Auxiliar da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa Investigadora no Instituto de Medicina Molecular

 

Quem somos?

A Sociedade Portuguesa de Hemorreologia e Microcirculação (SPHM) é uma associação científica multidisciplinar, constituída por médicos, biólogos, bioquímicos, engenheiros e outros investigadores na área da saúde que tem interesse no estudo, desenvolvimento científico e aplicação prática dos conhecimentos sobre hemorreologia e microcirculação.

Se microcirculação é um termo totalmente conhecido e aplicado pela comunidade científica e médica, a hemorreologia tem acabado por ficar com o papel secundário. O termo hemorreologia, entendido desde 1937 como a ciência que estuda as propriedades e deformação do fluxo sanguíneo, aparece, nos dias de hoje, definido no dicionário como «ramo da Medicina». Definição esta que me parece expressar bem a importância e aplicabilidade deste conceito.

A hemorreologia é ainda muito negligenciada na literatura e na prática clínica apesar da crescente investigação científica nesta área. Vários estudos demonstraram já que a viscosidade do sangue muda de acordo com as taxas de cisalhamento (shear stress) e depende de fatores celulares e plasmáticos. A agregação e deformabilidade eritrocitárias, dois parâmetros hemorreológicos, são os principais determinantes das características do fluxo sanguíneo e a viscosidade plasmática é o principal fator regulador da resistência ao fluxo na microcirculação. Sabe-se, por exemplo, que valores aumentados de viscosidade sanguínea e viscosidade plasmática estão correlacionados com fatores de risco cardiovascular. Em doenças como a obesidade e a diabetes há também uma correlação com o aumento da agregação e a diminuição da deformabilidade dos eritrócitos. E como tão importante como o diagnóstico é a prevenção, é importante realçar que mudanças no estilo de vida, como o aumento do exercício físico podem, a longo prazo, melhorar a agregação e a deformabilidade dos eritrócitos e produzir uma aptidão hemorreológica que protege contra doenças cardiovasculares.

Um olhar atento no resultado de toda a investigação desenvolvida nesta área pode, certamente, influenciar a prática clínica, com reflexos na procura de novos métodos terapêuticos. Inclusivamente, alguns dos medicamentos utilizados em determinadas situações patológicas podem revelar-se, à luz dos princípios hemorreológicos, mais prejudiciais que benéficos.

De onde viemos? Um pouco de história.

A Sociedade Portuguesa de Hemorreologia e Microcirculação (SPHM) teve origem em 1977, num grupo de investigadores e docentes de bioquímica da Faculdade de Medicina de Lisboa interessados no metabolismo do glóbulo vermelho. Do seu interesse e atividade de investigação resultou, em 1982, o Grupo Português de Trabalho sobre Filtração Eritrocitária. Dois anos mais tarde, em 1984, foi constituído o Grupo Português de Hemorreologia, admitido como secção afiliada da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, e que marca o início da nova associação científica. Em 1986 sucedeu a sua autonomização como Sociedade Portuguesa de Hemorreologia. Em 1993, sob a nova designação de Sociedade Portuguesa de Hemorreologia e Microcirculação (SPHM), obteve o reconhecimento como “pessoa coletiva de utilidade pública”. Além das numerosas reuniões, simpósios e congressos nacionais realizados, a SPHM recebeu a incumbência de organizar, em 1997, o 10º Congresso Europeu de Hemorreologia Clínica. Em setembro de 2004, a SPHM acolheu em Lisboa, como sociedade nacional organizadora, o 23º Congresso da Sociedade Europeia de Microcirculação. É de salientar que as duas reuniões europeias promovidas pela SPHM incidiram, cada uma, nas perspetivas científicas que são os seus principais objetivos institucionais. Em 2012 e associado à comemoração do 28º aniversário da fundação da SPHM, foi finalmente lançado o website www.hemorreologia.com. Em 2016, Lisboa recebeu o 18th Conference of the European Society for Clinical Hemorheology and Microcirculation, cuja organização foi da responsabilidade da SPHM. Vários dos membros da Sociedade estiveram envolvidos o que permitiu uma científica e saudável interação entre todos.

Vénula pós‑capilar (diâmetro aproximado: 30 mm) da rede microvascular de mesentério de rato (Rattus norvegicus), observada por microscopia intravital de transiluminação. No interior do vaso sanguíneo visualiza-se um fluxo sanguíneo e glóbulos brancos a interagir com a parede vascular.

Para onde vamos?

A Sociedade está hoje e sempre apostada em divulgar a hemorreologia e a microcirculação como duas peças fundamentais no nosso organismo e consequentemente na prática clínica. A edição e publicação, neste momento anual, de um boletim periódico de divulgação de documentos científicos de interesse comum é uma das formas que usamos para manter o interesse e a divulgação da hemorreologia. Este boletim é divulgado entre os membros da SPHM, mas fica também disponível para consulta no nosso website. Aceitamos artigos de investigação, de revisão ou até de opinião.

Tentamos promover o estreitamento de relações científicas entre os associados e toda a comunidade clínica. Os membros da SPHM têm representado a sociedade em instituições, congressos e conferências científicas nacionais e estrangeiras. Temos ainda uma participação ativa de alguns associados nos órgãos e atividades da European Clinical Society of Hemorheology and Microcirculation (ECSHM), European Society of Microcirculation (ESM) e no Conselho Editorial dos jornais de âmbito científico afim.

Estamos sempre recetivos a novas colaborações e parcerias, e disponíveis para apoiar e divulgar a hemorreologia. Estamos à distância de um click: www.hemorreologia.com.

You may also like...