“Profissionalismo, foco e orientação para o paciente”

Parentalidade e saúde mental, apesar de distintos, são temas igualmente importantes e para os quais Sandra Santos, psicóloga, chama a atenção em conversa com a Business Portugal.

Sandra Santos, Psicóloga

O sonho de criar um gabinete próprio concretizou-se em setembro de 2020. Que balanço faz deste percurso e quais os valores em que assenta o seu crescimento?

O balanço destes quase dois anos é muito positivo! Com a pandemia houve uma intensificação da procura, as pessoas estão mais sensíveis, abertas e atentas às questões de saúde mental e isso tem sido um fator determinante para o sucesso destes dois anos. Os valores em que este crescimento assenta são o profissionalismo, o foco e orientação para o paciente e uma prática assente na evidência científica. Estes valores permitem orientar os resultados e garantir a eficácia dos serviços prestados.

 

Quais as principais áreas de intervenção e quais os principais serviços que a clínica disponibiliza aos pacientes?

Os principais serviços disponibilizados são a avaliação, intervenção e acompanhamento psicológico, a avaliação e reabilitação neuropsicológica, o aconselhamento parental e a orientação vocacional. Para colegas de profissão tenho a supervisão clínica e para os futuros colegas a orientação do ano profissional Júnior como orientadora externa.

 

A Sandra R. Santos é psicóloga clínica, também especializada em parentalidade positiva, na sua ótica quais os maiores desafios que pais e filhos enfrentam? Neste contexto que conselhos recomenda para contribuir para uma relação mais profunda e saudável entre pais e filhos?

Os desafios são obviamente diferentes consoante as idades, mas de forma geral, pais e filhos enfrentam atualmente desafios como a dependência das tecnologias, a gestão de regras e limites e uma dificuldade na definição dos respetivos papéis. A passagem de uma estrutura familiar baseada numa hierarquia bem definida para uma estrutura mais horizontal trouxe algumas dificuldades na definição de uma linha clara que separa os diferentes papéis familiares e respetivas responsabilidades. Podemos ter uma relação de respeito mútuo, mas pais e filhos são pais e filhos e não amigos. O que não significa que a relação não possa ter características que existem numa amizade, mas há limites que devem ser intransponíveis para que a relação se mantenha saudável.

O conselho essencial que posso deixar é que se estabeleçam regras e limites claros, bem ajustados à idade e negociados com os filhos sempre que possível. Negociar também as consequências das transgressões é um ponto essencial para os responsabilizarmos pelas suas ações. Termos uma comunicação direta, aberta e disponível em que os filhos se sintam à vontade para partilhar problemas e preocupações sem julgamentos é também basilar. Sendo que ter esta linha de comunicação não implica falta de repreensão ou responsabilização pelas ações, significa apenas abertura e disponibilidade. Dar espaço para expressarem emoções positivas, mas sobretudo negativas! Elas existem e devem ser sentidas.

 

A saúde mental é um tema cada vez mais importante. Acredita que existe atualmente uma maior consciência e sensibilização para a importância do bem-estar mental aliado ao físico ou considera que ainda há um caminho a percorrer?

É notório que nos últimos anos tem havido um maior foco e abertura para se falar da saúde mental e para a importância do bem-estar mental, mas precisamos de continuar a investir nessa sensibilização e consciencialização. Continuar a derrubar os estigmas e os mitos associados à saúde mental e à doença mental. Para que enquanto sociedade possamos assim acolher mais a doença mental, aceitá-la e compreendê-la. E para que enquanto sociedade civil possamos exigir investimento, mais recursos, respostas adequadas às necessidades da população e pressionar para a concretização de projetos e propostas que estão há anos (se não décadas) na gaveta!