O impacto do uso de máscara na sua saúde ocular

Créditos Foto: Esfera das Ideias |  J. Salgado-Borges, Médico e Cirurgião Oftalmologista Diretor da Clinsborges e Embaixador em Portugal do TFOS (Tear Film & Ocular Surface Society) www.clinsborges.pt / www.salgadoborges.com

No decorrer da pandemia de Covid-19 a utilização de máscara passou a fazer parte do quotidiano da população em geral, uma vez que esta é essencial para evitar a transmissão do vírus. Contudo, uso deste equipamento de proteção individual tem estado na origem de alguns problemas, nomeadamente ao nível da saúde ocular.
A irritação ocular associada ao uso da máscara é frequente e mais exuberante em pessoas com antecedentes de inflamação ocular e/ou de olho seco. Os sintomas ou sinais mais comuns são a presença de olho vermelho persistente, comichão, ardência, sensação de picada ou de corpo estranho e eventualmente lacrimejo.
Também o uso e abuso dos aparelhos digitais nos dias de hoje, tendência que veio a aumentar com o confinamento e restrições, mesmo transversais ou não à utilização da máscara culminam em cansaço ocular e desconforto acentuado.

Sendo o Olho Seco uma patologia multifatorial, estão envolvidas múltiplas causas, destacando-se pela sua frequência a exposição prolongada a um ambiente quente e seco, o uso frequente de aparelhos digitais, a idade e alterações hormonais.
Assim, sempre que possível, deve adotar-se um posicionamento adequado, manutenção do monitor ao nível ou abaixo dos olhos e frequentemente pestanejar para evitar a secura ocular. Comum ao tratamento de todas as situações, a administração de lágrimas artificiais revela-se crucial.

No que diz respeito à saúde ocular durante a utilização da máscara, o aumento do fluxo de ar através da mesma em direção aos olhos durante a respiração tem-se revelado também um fator etiológico complementar muito importante. Este aumento do fluxo de ar acelera a evaporação contínua do filme lacrimal ao longo de horas ou mesmo dias, traduzindo-se, inevitavelmente, num aumento excessivo da irritação e inflamação da superfície ocular.

Por outro lado, os utilizadores de óculos queixam-se pelo embaciamento das lentes e este revela-se constantemente um problema acrescido ao uso da máscara. Existem hoje lentes com caraterísticas próprias e processos de limpeza simples e eficazes capazes de diminuir a dificuldade no uso de óculos nestas condições. É importante salientar que não deve esfregar os olhos para proteção da córnea, evitando assim o risco de infeção. Mais importante ainda é o reforço dos cuidados básicos de higienização, como lavar frequentemente as mãos. As máscaras mais indicadas deverão ser aquelas que associem as caraterísticas de uma proteção certificada a uma melhor ergonomia, relativamente à fisionomia facial e, de preferência, que possuam uma prega metálica e moldável, para mais bem se adaptar ao dorso do nariz.


É reconhecida e provada que a transmissão do Covid-19 se realiza fundamentalmente através das mucosas da boca, das fossas nasais e da conjuntiva ou mucosa dos nossos olhos. Numa altura em que o risco de infeção impera, torna-se assim fundamental, por um lado, não descurar o uso da máscara e, por outro, combater e evitar o risco de irritação ocular, uma vez que nos leva ao ato continuado e desaconselhado de tocar na face, o que pode levar à inevitável propagação deste vírus.
Recomenda-se o uso de colírios não só para doentes com Olho Seco diagnosticado, mas também para a população em geral, dado o uso e abuso de aparelhos digitais e máscara.
Resumidamente, nos dias de hoje, o uso de colírios deve ser recomendado a toda a população, sendo aconselhável procurar aconselhamento junto de um profissional de saúde.

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