O homem por detrás da Neosanté
Com mais de 25 anos dedicados à indústria farmacêutica, João Pedro Paiva dos Santos é um nome incontornável no setor em Portugal. Atualmente, lidera a Neosanté – uma empresa que proporciona soluções e produtos farmacêuticos, genéricos, cosméticos, dispositivos médicos e suplementos alimentares completamente personalizados – e assume-se um líder que sabe equilibrar a vida profissional com a vida pessoal. Amante do desporto e da gastronomia portuguesa, concedeu-nos uma entrevista sobre a sua visão perante a atualidade do setor da saúde em Portugal e partilhou o testemunho, positivo e cauteloso, de um experiente empresário de sucesso português.
O seu percurso começou na área do Direito, mas a sua carreira desenvolveu-se em áreas muito diversificadas até culminar na fundação da Neosanté. O que o motivou a transitar para o setor farmacêutico e a criar uma empresa tão abrangente e internacional?
A minha transição para o setor farmacêutico deve-se ao meu pai. Deixando-me seguir o meu caminho enquanto advogado, começou a envolver-me na vida da empresa, de uma forma gradual. Primeiro, veio o fascínio por trabalhar com o meu pai, que sempre foi um profissional fantástico e muito conceituado. Comecei por gostar de trabalhar com ele e comecei, igualmente, a gostar de trabalhar na indústria Farmacêutica. É uma área que conheço desde pequeno. Por isso, decidi também ser advogado, fazer algo novo, que também adoro. A Neosanté é criada em paralelo com o processo de venda do Grupo FARMA-APS/Generis. Eu estava a preparar aquilo que seria uma nova área de negócio do grupo, mas, com o processo da venda, acabei por tornar a Neosanté num projeto próprio, que hoje tem uma forte vertente internacional.
O Dr. João já mencionou, várias vezes, que encara os desafios como oportunidades. Pode partilhar um momento marcante da sua carreira onde um grande desafio resultou numa inovação significativa ou num crescimento inesperado?
Logo no início da nossa atividade, um dos produtos que íamos lançar era uma representação. O negócio acabou por não acontecer por diversos motivos, mas eu considerava o produto essencial. Então desenvolvemos fórmulas para esse produto, e para um outro complementar, que nos tornou líderes de mercado em dois anos. Outra situação de destaque foi, numa altura em que a empresa estava a crescer, mas a sentir algumas dores desse crescimento, um destes produtos acabou por interessar a uma grande empresa europeia que se tornou o nosso maior cliente e que antecipou o nosso processo de internacionalização.
Tendo liderado equipas em diferentes contextos, quais são os valores e práticas que considera essenciais para ser um líder eficaz e inspirador, especialmente num setor tão exigente como o da saúde?
Em primeiro lugar, acho que temos de ser genuínos, até para que a nossa equipa nos conheça bem e saiba com o que pode contar. A ética, a honestidade e a exigência pela excelência terão de estar sempre presentes. Além disso, o valor da humanidade e respeito pelo próximo é algo que trago desde pequeno. Se a isto acrescentarmos saber dar o exemplo, mostrar que sabemos fazer aquilo que pedimos que façam, se soubermos explicar porque pensamos de forma diferente ou porque queremos as coisas de determinada maneira, as pessoas saberão desempenhar melhor as suas funções e fá-lo-ão com maior dedicação e satisfação.
Com uma agenda tão preenchida, como é que consegue manter o equilíbrio entre a liderança da Neosanté, os seus hobbies e a vida familiar? Há algum hábito ou rotina que considere fundamental nesse equilíbrio?
Tenho a sorte de ter tido um pai que me ensinou a equilibrar a vida profissional e a pessoal/familiar. Nem sempre foi assim. Eu saía tarde da empresa e trabalhava em casa toda a noite. Atualmente, sei gerir bem o meu tempo, embora esteja sempre contactável. Por outro lado, tenho a sorte de ter uma equipa e um braço direito que permitem que seja fácil delegar o trabalho. Isto consegue-se com confiança, bom ambiente e competência. Somos uma equipa unida e que trabalha muito bem. Finalmente, o mais importante: a minha família. O seu apoio, e em especial o da minha mulher quando fica muito tempo com as responsabilidades todas, enquanto eu estou no meio de um deserto e muitas vezes incontactável.
Sabemos que tem vários hobbies, incluindo a cozinha, a gastronomia e o desporto. De que forma estas paixões contribuem para a sua criatividade e energia no mundo dos negócios?
São fundamentais. Se temos algum tipo de escape, de hobby que nos permita recarregar as baterias e sermos felizes, de pensarmos noutras coisas, isso é fundamental para a nossa produtividade. Quanto à criatividade, acho que ela resulta também da vivência, do consumo de informação, de conhecer coisas, da partilha com amigos. Logo os hobbies são fulcrais.
A Neosanté é reconhecida pela sua capacidade de oferecer soluções personalizadas em saúde a nível global. Qual considera ser o fator-chave que distingue a empresa dos seus concorrentes no mercado internacional?
Eu não posso indicar apenas um, terei de indicar dois que se relacionam. O primeiro fator-chave é a nossa dimensão. Estamos dimensionados de forma a sermos mais eficazes e responsivos. Depois, a nossa competência especializada. Fazemos o que sabemos e o nosso foco é criar essas soluções personalizadas. Para isso, temos uma estrutura simples que nos permite ter um poder de decisão rápido e disponibilizamos soluções diferentes para cada cliente, ao invés de soluções fechadas. Finalmente, o nosso tempo de resposta e de implementação também se torna muito mais célere. Isto tudo somado à qualidade que temos, é imbatível.
Como é que avalia os desafios e as oportunidades atuais no setor da saúde, especialmente num contexto pós-pandemia e com a crescente digitalização e inovação tecnológica?
A nossa indústria sempre foi muito tecnológica. A inovação é uma constante na saúde. Essa vertente é a parte boa deste novo contexto. O que vemos de negativo na área da saúde, mas creio que isso é transversal a todas as áreas, é o elevadíssimo custo de tudo, desde o transporte ao armazenamento e, pior ainda, das matérias-primas. Torna-se muito complicado internacionalizar com transportes tão caros. Fica muito caro e a mim custa-me imenso ver o preço a que os produtos chegam aos pacientes.
Como empreendedor e líder, qual é o papel da ética e da responsabilidade social no mundo dos negócios? Como garante que esses valores estão integrados na cultura da Neosanté?
A ética é fundamental e está integrada na nossa cultura. Aliás, é um dos valores que mais promovemos. A responsabilidade social tem de estar a par com a ética. Esses dois princípios juntos levam-nos à maravilhosa frase do Comendador Nabeiro: “Se todos quiséssemos, o mundo seria extraordinário”. Ao longo dos anos, a Neosanté tem tido um papel do qual me orgulho, muito ao nível da responsabilidade social.
A saúde está em constante evolução. Onde vê a Neosanté, e o setor da saúde em geral, daqui a 10 anos? Quais são as tendências que acredita que terão maior impacto?
Acredito que no espaço de 10 anos podemos estar a falar de curas importantes para doenças graves. Acredito que em 10 anos a nanomedicina e a biotecnologia sejam as tendências. A Neosanté estará presente na comercialização, no fabrico e, espero, na investigação e desenvolvimento.
Com o mundo a enfrentar desafios globais, como as alterações climáticas e as desigualdades no acesso aos cuidados de saúde, que papel acha que as empresas farmacêuticas devem desempenhar para criar um impacto positivo a longo prazo?
No que respeita à ecologia e às alterações climáticas, quero começar por dizer que esta é uma das indústrias mais limpas que existem. Acho que se pode melhorar nesta e em todas as indústrias no que respeita à utilização de transportes, a escolhas de materiais de acondicionamento e em mais aspetos para termos um contributo ainda mais acrescido. As desigualdades no acesso aos cuidados de saúde pertencem ao Estado. É o Estado que deve proporcionar o acesso a hospitais e médicos, reduzindo as desigualdades a que assistimos atualmente. Quanto aos medicamentos, tentamos todos otimizar as produções para baixar os custos e não termos preços elevados.