O futuro da engenharia civil

A CTL é uma empresa que faz parte do grupo francês CTE-SA que se dedica à engenharia e consultoria especializada na análise, otimização e estudos de conceção e execução de projetos de estabilidade e betão armando. A Revista Business Portugal esteve à conversa com o madeirense Cláudio Silva que fundou a empresa, em 2013.

A ligação entre Cláudio Silva e o grupo CTE deu-se por um feliz acaso. “Comecei o meu percurso profissional há 20 anos, não como engenheiro civil, mas como desenhador de projetos de betão armado. Mais tarde, já com 28 anos decidi fazer o curso de Engenharia Civil na Universidade da Madeira, enquanto trabalhava na área. Acabei o curso com 33 anos”, começa por explicar Cláudio.
“Para a minha dissertação de final de curso, escolhi desenvolver o tema da compatibilidade de projetos em edifícios de alvenaria estrutural. Na Madeira, isso não se fazia, mas em França sim. Contactei o meu irmão que residia em França para saber se ele podia encontrar algumas obras para visitar e tirar fotografias”, relata, acrescentando, “uma das empresas que visitei foi a CTE em Estrasburgo.”
Uma visita que deveria demorar meia hora arrastou-se por três horas. No final, perguntaram a Cláudio se não queria deixar o currículo. “Não tinha o currículo em francês, nem tinha como objetivo sair de Portugal para trabalhar, mas na mesma fui para casa e preparei o currículo em francês e no dia seguinte voltei a CTE para deixá-lo. Três dias após ter regressado à Madeira, o Diretor da CTE contactou-me e propôs-me uma entrevista por videoconferência, mas eu entendi que a oportunidade merecia uma entrevista presencial e voltei a viajar até França no mês seguinte”, conta com um sorriso que deixa facilmente adivinhar o resultado da reunião.
“Aquilo que eu pensava que era uma condicionante para o desenvolvimento da minha carreia como engenheiro civil – a minha idade – acabou por ser uma mais-valia, pelo menos aos olhos da CTE. Trabalhei quase um ano em França e entretanto propuseram-me criar e gerir uma agência da CTE em Portugal”, recorda. Assim, em junho de 2013, juntamente com um amigo de longa data, o Engº Armando Ramos, também ele madeirense, Cláudio criou a CTL com o objetivo de fazer a ligação com as agências do grupo CTE em França com a agência do Brasil.
Contudo, a agência do Brasil tornava-se cada vez mais próxima das agências francesas e a CTL Portugal começou a trabalhar exclusivamente para França, focando-se em projetos de estabilidade e betão armado, entre eles os projetos para fundações de torres eólicas, que é um mercado cada vez maior. O portefólio vai longo e todos os projetos são especiais, mas Cláudio Silva confessa que o que lhe deu mais prazer foi o projeto do estádio do Olympique de Lyon com uma capacidade que passa os 59 mil lugares, o Parc Olympique Lyonnais, em Lyon, França, “ainda mais sendo um estádio que acabou por fazer parte do percurso da selecção nacional de futebol rumo a conquista do Campeonato da Europa de Futebol em 2016, tendo a seleção disputado dois jogos nesse estádio” refere.
Para além do já referido estádio, Cláudio Silva fala em várias obras que fazem parte do percurso da CTL e que são referências, como os vários edifícios realizados junto ao Parlamento Europeu em Estrasburgo: “o projeto Osmose que está atualmente em curso com cerca de 40 mil metros quadrados, a Escola Europeia realizada em 2015 e que é uma escola para os filhos dos diplomatas e funcionários das instituições europeias, o Consulado da Turquia também em 2015, as Torres Black Swan com 45 mil metros quadrados, a Torre Elithis Danube que é um edifício energeticamente auto sustentável, a Clínica Rhena, uma das clínicas mais prestigiadas de Estrasburgo, o empreendimento Saint Urban, entre outras” destaca Cláudio Silva, não sem antes relembrar o projeto dos Edifícios Origine em Paris com cerca de 69 mil metros quadrados realizado em 2019 e o projeto Fischer em curso com cerca de 61 mil metros quadrados em Estrasburgo.
Desde 2013 até hoje a empresa tem crescido continuamente e as principais mudanças sentidas por Cláudio Silva foram o aumento do volume de trabalho, a necessidade de trabalhar com prazos cada vez mais curtos e o surgimento do BIM (Building Information Model) que representa uma mudança de paradigma na forma de realizar projetos.

Dinamizar o BIM no mercado português
Atualmente, a CTL não trabalha com o mercado português, mas a ideia é mudar isso com a aposta no BIM que corresponde a criação de modelos digitais em 3D de uma edificação, permitindo reunir num só modelo as informações relativas a arquitetura do edifício e seus materiais, mas também todas as informações das demais disciplinas da engenharia. “Os modelos BIM permitem-nos identificar mais facilmente problemas de compatibilização entre a arquitetura e as especialidades, para além de podermos introduzir os prazos e custos de construção, permitindo ver e estimar valores em qualquer fase do projeto”, explica Cláudio Silva.
Em Portugal, ainda se aposta pouco nesta metodologia, mas uma das aspirações da CTL é conseguir dinamizar a utilização do BIM no mercado nacional. “Uma metodologia que é especialmente útil em projetos grandes”, conclui o engenheiro. “Temos contactado empresas que trabalham com o BIM de forma a perceber como tem sido a sua evolução e também com o intuito de procurar parcerias futuras”. A CTL tem como objetivo realizar projetos BIM em Portugal nos próximos dois anos.

Olhos no futuro
O grupo CTE é uma referência no mercado internacional onde já atua há mais de 30 anos e tem uma posição credível e bem consolidada. A CTL esteve à altura dos padrões da empresa mãe e o trajeto tem sido o melhor que se poderia esperar. Uma das razões que explicam o sucesso é a equipa que está por detrás do projeto. “Somos mais que colegas, somos amigos e por isso faço questão que todos saibam qual é o panorama geral da empresa”, começa por contar o fundador da CTL Portugal. “Regra geral sou eu quem faz a ligação com os parceiros em França e faço sempre questão de ter a equipa informada se estamos bem nos objetivos e nos prazos, sendo a própria equipa a tomar a iniciativa de reunir esforços para colmatar eventuais atrasos” remata. Cláudio Silva diz ainda que, o que mais o orgulha em todo o percurso da CTL até a data é a equipa que criou e a sinergia que existe entre as pessoas. “Sem esta equipa, nada disto teria sido possível” complementa.
O último ano, 2019 foi um ano atípico com vários picos de elevado volume de trabalho o que obrigou a equipa da CTL Portugal a trabalhar longas jornadas e fins de semana. Na perspetiva de Cláudio Silva, o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal é essencial, por isso um dos objetivos para este ano é fazer com que não existam picos de trabalho tão longos, de forma a salvaguardar o bem-estar da equipa a todos os níveis. Para disso, o futuro passa por continuar a aumentar a equipa, mas antes das novas contratações é necessário encontrar novas instalações. No momento, a CTL Portugal está a trabalhar em vários projetos, dois dos quais localizados junto ao Parlamento Europeu de Estrasburgo.

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