Não se constrói o futuro sem os jovens

Estima-se que existam, em Portugal, perto de 200 mil jovens NEET (Not in Education, Employment or Training, ou seja, não estudam, trabalham ou estão em formação), o que representa 10% de todos os portugueses entre os 15 e os 29 anos. É verdade que os números já foram mais sombrios: em 2013, durante a crise financeira, chegou a haver 441 mil “nem-nem” (“nem trabalha, nem estuda”). Mas a inatividade de tantos jovens continua a ser um problema social grave, bem como uma prova de que o nosso sistema de ensino e o nosso mercado de trabalho não são suficientemente inclusivos.

Alexandre Meireles, Presidente da ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários

Um grupo tão numeroso de jovens fora do mercado de trabalho e fora de qualquer programa educativo ou formativo constitui, sem dúvida, um desafio à capacidade de inclusão social e profissional do nosso país. Algumas iniciativas para minorar este problema foram lançadas recentemente, como o Programa Avançar (apoios à contratação de jovens desempregados) ou o Pacto Mais e Melhores Empregos para os Jovens. Mas há espaço para mais medidas, projetos e sobretudo estratégias para promover o acesso dos jovens a oportunidades de educação, formação, emprego ou empreendedorismo.

Para além do drama pessoal que a inatividade representa para os jovens, todos concordamos que uma sociedade que não consegue integrar as gerações mais novas está diminuída na sua dimensão cívica, na sua coesão social e na sua competitividade económica. Mais ainda se essa sociedade revelar uma forte tendência para o envelhecimento populacional e para a emigração jovem, como acontece em Portugal.

Por ora, as potencialidades da inteligência artificial, da robótica, do big data, da internet das coisas, entre outras tecnologias digitais, não estão a substituir o capital humano nas cadeias de valor. Assistimos, paradoxalmente, a uma revalorização do talento e da mão-de-obra, sem embargo de todas as reconhecidas vantagens da transição digital nas empresas. A produtividade e a competitividade das empresas ainda dependem muito do potencial humano, que começa a escassear em Portugal em diferentes áreas e setores.

Saber reter talento e valorizar quadros e trabalhadores são desafios cruciais para o país, num contexto de crescente mobilidade laboral e de intensa competição global por recursos especializados, sobretudo nas áreas tecnológicas. Mas, como vemos pela quantidade de jovens NEET e pela taxa de desemprego jovem (mais de 18%), há ainda muito trabalho a fazer em Portugal para integrar e maximizar todo o potencial humano. Quando não estão desempregados, os jovens são confrontados com empregos precários, funções desalinhadas com as suas competências, salários baixos e poucas perspetivas de carreira.

Em face do número de jovens NEET, da baixa inclusividade do mercado de trabalho e da sangria de talento para o estrangeiro, o país tem de desenvolver uma política ambiciosa para a juventude. Política, essa, que deve beneficiar os jovens com reduções fiscais sobre o trabalho, incentivos à contratação e à remuneração, bons programas de promoção do empreendedorismo, melhores condições de acesso à habitação, entre outros aspetos fundamentais para que a juventude portuguesa permaneça no país e seja absorvida pelo tecido produtivo.

Caso contrário, os efeitos do envelhecimento populacional sobre a economia tendem a acentuar-se, penalizando a inovação, a produtividade, a eficiência e a competitividade das empresas e consequentemente a sustentabilidade social do país.

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