ISEC: A simbiose perfeita entre o ensino e o mundo empresarial
Em altura de balanço de final de ano, a Revista Business Portugal considera importante ter como parceiro um estabelecimento de ensino, que lidera pelo exemplo e prepara da melhor forma os profissionais de amanhã. Por isso mesmo, fomos ao encontro do Professor Doutor Mário Velindro, Presidente do ISEC – Instituto Superior de Engenharia de Coimbra que, por vivermos na era da tecnologia digital e de mudança constante e profunda, defende que o futuro do ensino passa por preparar os alunos no próprio mundo empresarial.
Quais são os maiores desafios de liderar uma instituição de ensino?
É o facto de termos de estar atentos àquilo que se passa no mercado. Os nossos cursos são acreditados, cada unidade curricular tem os seus conteúdos programáticos e temos que os ajustar às necessidades do mercado de trabalho, o que nem sempre é fácil. Hoje, com a inteligência artificial, a realidade aumentada e todos os avanços tecnológicos temos que acompanhar constantemente a mudança, caso contrário, não formamos alunos com competências para exercer a profissão. Esse é um dos problemas que se coloca e, portanto, o desafio para quem está à frente destas instituições é conhecer o mercado, estar nas empresas e ver a realidade, perceber que problemas existem, no sentido de ajudar a responder a essas dificuldades.
“Mais do que formar engenheiros, queremos formar grandes seres humanos.”
O ISEC é conhecido pela sua elevada taxa de empregabilidade. Isso deve-se a essa vossa aposta na proximidade com as empresas?
Não é essa aproximação que nos faz ter uma taxa de empregabilidade elevada, mas sim o nível de informação que é dada aos alunos que lhes permite, mal terminem o curso, que sejam recrutados com êxito nas empresas. Falando do ensino em geral, a maioria dos cursos tem, neste momento, uma empregabilidade média na ordem dos 70/75 por cento, não vai mais além. No caso do ISEC, verifica-se uma empregabilidade muito próxima dos 100 por cento no curso de Engenharia Informática, porque temos um sistema que permite aos alunos estagiarem nas empresas e, de uma forma geral, permanecem lá. Naturalmente que os engenheiros mecânicos, eletrotécnicos, biomédicos, estão todos a trabalhar na sua área, mas nem todos conseguem arranjar emprego de imediato, que é o que acontece de um modo geral. Ao nível da Engenharia Mecânica, os alunos até se dão ao luxo de decidir onde é que vão trabalhar e escolher as áreas e muitas vezes enveredaram por atividades à margem do curso, o que reforça a necessidade de fortalecermos as competências transversais.
A engenharia está na moda e tem evoluído de forma fantástica. Como é que o ISEC tem acompanhado esta evolução?
Sim, de facto, a engenharia está na moda devido à evolução que a tecnologia está a imprimir. Têm-se dado saltos enormes. A velocidade de transmissão de dados vai aumentar, por exemplo, e este facto vai permitir alterações muito significativas nos processos produtivos. Em parceria com a Critical Software, temos um espaço criativo – o FIKALAB – e já foram apresentados alguns projetos, um dos quais um robô, com todos os componentes fabricados aqui no ISEC, através de impressão 3D. Essa tecnologia vai depois passar para a grande escala. Os tempos são de mudança e é necessário acompanhar quase diariamente estas alterações.
Todo este avanço tecnológico obriga a uma reformulação dos métodos de liderança das instituições e pessoas…
Claro que sim. A liderança, neste caso, passa por motivar todos os intervenientes na instituição, alunos, docentes e não docentes. Dentro das nossas possibilidades, também temos aumentado os parceiros externos, para que as nossas ações também possam ser conhecidas no exterior. Por outro lado, a escola deve conhecer aquilo que se faz no exterior. A liderança tem de passar por aí. Tirando certos conceitos que não mudam e que têm de ser lecionados na escola, como a Física ou a Matemática, tudo quanto seja tecnologia tem que passar a ser feita no terreno. A tendência vai ser essa, passar muitas horas no exterior. Por isso, estamos a trabalhar no sentido de promover parcerias e estágios, para que os alunos, no contacto com esses espaços, vejam a realidade e se inteirem dos problemas que se colocam.
Concorda que os próprios professores têm de ter uma grande criatividade e estar em constante inovação?
Têm e isso é uma questão que é transversal a todas as instituições. Claro que, um professor que esteja perto de se aposentar, vai ter uma motivação diferente, mas os mais novos vão ter, naturalmente, outra postura. Temos de aproveitar o saber dos professores mais experientes nas áreas teóricas, organizacionais e rentabilizar a presença deles; e a energia e motivação dos mais novos para serem o motor, uma vez que são o futuro da instituição.
Hoje, fala-se muito de investigação e de presença em congressos e conferências. É bom que estes eventos surjam de uma forma profissional e muito séria, exatamente para as pessoas possam trocar experiências, ideias e trazerem novos projetos para a escola. Esse é um dos objetivos da internacionalização, sendo que o Governo também continua a sugerir que as instituições se internacionalizem, exatamente porque hoje, como sabem, o conhecimento é global e as pessoas têm de trabalhar em parceria.
De que forma têm investido em novos projetos e eventos?
Somos uma instituição bastante dinâmica e envolvemos tanto os docentes, não-docentes, como alunos. Envolvemo-nos num projeto global do Politécnico de Coimbra e já somos uma eco-escola. Na receção aos novos alunos, os caloiros do ISEC recolheram este ano cerca de 2.500 kg de produtos hortícolas para o Banco Alimentar e, nos passados dias cinco e seis de dezembro, organizaram uma recolha de bens para animais. No âmbito da parceria com a coletividade penafidelense, e através do nosso Laboratório de Biomecânica Aplicada, vários grupos de alunos produziram uma prótese para o ciclista Manuel Ferreira (o atleta não tem uma das mãos), algo de extrema importância para a continuidade da sua carreira desportiva e, ainda na área do desporto, está a ser desenvolvida uma prancha de surf, construída com materiais ecológicos e reciclados, que previne erros de postura corporal e de falta de equilíbrio dos praticantes.
Estamos a trabalhar no sentido de ter uma unidade extracurricular, que garanta um suplemento ao diploma, ou seja, o aluno que vá a X eventos fica com X créditos, que pode associar ao seu diploma. Tentamos ainda estar cada vez mais ligados ao tecido empresarial, proporcionando ofertas formativas paralelas, juntamente com empresas. Demos recentemente início à primeira edição do Curso de Preparação para Examinação Autoproposta, em parceria com a Sevenair Academy, com o objetivo de qualificar os alunos como Técnicos de Manutenção de Aeronaves categoria B1.1. Estamos também, em conjunto com a Câmara Municipal de Coimbra, a trabalhar num projeto ligado às smart cities. No passado mês de outubro, decorreu ainda a celebração do Protocolo de Colaboração com a PRIO.E – Mobility Solutions, Lda., na área da mobilidade elétrica, sendo objetivo incrementar a capacidade de formação e investigação do ISEC na área dos veículos elétricos e das redes elétricas inteligentes.
Temos um projeto ligado à Economia Circular, que envolve o departamento de Engenharia Eletrotécnica. Através da União de Freguesias de Santo António dos Olivais, procedemos há recolha de equipamentos, essencialmente objetos de utilização doméstica, que vêm para o ISEC, onde são reparados e depois voltam à procedência, para fazerem distribuição junto de famílias mais carenciadas. Isto promove um dos R’s da economia circular, que é reutilizar.
Lançamos ainda este ano um conjunto de seis conferências temáticas, intituladas de “Excelência XXI”, que têm continuidade para o ano. A última sessão do ano, que teve lugar no passado dia 6 de dezembro, foi sobre negócios internacionais, permitindo aos alunos terem uma ideia do que é um negócio internacional e quais as dificuldades e diferenças entre os diversos países. Vamos continuar a trazer ao ISEC especialistas para dar uma visão global, uma vez que os engenheiros também têm um papel decisivo na concretização da globalização.
O caminho vai continuar a passar pelo contributo para o desenvolvimento e inovação?
A ideia de uma escola de ensino superior é precisamente promover o desenvolvimento e tem sido esse o nosso foco. Queremos evoluir sempre no sentido da inovação e no sentido de divulgarmos o que se faz. Pretendemos continuar a trazer à escola pessoas que possam ensinar e dialogar com os alunos. A escola tem de ser um organismo vivo, atrativo, onde os alunos sintam, efetivamente, que a escola é a sua casa.
Pode-se dizer que o êxito dos futuros engenheiros passa pelo ISEC?
Sim, o êxito dos engenheiros e o êxito das empresas. A nossa responsabilidade é formar jovens mais competentes e integrados e, como tal, queremos dar o nosso máximo, para que os nossos alunos cheguem preparados ao mercado de trabalho. Essa é uma mais-valia que podemos proporcionar às empresas.