Investir na bolsa de valores: guia prático de como começar

Para quem está a considerar começar a investir no mercado de ações para obter um rendimento extra e construir a sua riqueza pessoal, este artigo pode funcionar como um guia prático e lógico de como dar o pontapé de saída.

De realçar que se trata de um artigo dirigido a pessoas que nunca investiram antes e estão a tentar dar os primeiros passos, e que se baseia numa abordagem fundamental e conceptual do investimento, por oposição a uma abordagem técnica ou baseada em números (que se destina a investidores mais avançados ou profissionais).

 

Grisha Davidoff, Managing Director na Kaizen Capital

 

 

1) Antes de investir: reunir informação e conhecimento

Há dois livros que recomendo desde logo: “The Intelligent Investor”, de Benjamin Graham, e “Simple But Not Easy”, de Richard Oldfield. Muito completos e lógicos, contam com bases fundamentais de investimento, sendo ótimas fontes de informação iniciais.

Seguir o mercado pelo menos durante seis meses é outra recomendação importante, no sentido de obter uma ideia geral. Isto pode ser feito através da visualização ou leitura de notícias – em meios especializados como Bloomberg, CNBC, The Economist e Financial Times. O vocabulário financeiro ou jargão utilizado pode ser consultado na Investopedia, que conta com vídeos que explicam de forma visual e muito lógica os mais diversos conceitos.

O último passo, nesta fase, será criar um portfólio falso – através de plataformas como Seeking Alpha ou Yahoo Finance -, para simular investimentos, perceber qual seria a performance e conseguir, assim, ter uma abordagem mais realista antes de investir mesmo dinheiro.

 

2) Ainda antes de investir: algumas regras/dicas

Agora que já se tem informação e conhecimento básico, existem algumas regras/dicas que são fundamentais entender.

A primeira é que nunca se deve investir dinheiro que seja necessário para viver ou, ainda pior, dinheiro que não se tem, pedindo um empréstimo para o fazer. Para investir, é preciso ser-se capaz de deixar o dinheiro “de lado” por um longo período de tempo (não é o mesmo que trading, que não recomendo a quem não seja profissional). Ou seja, deve-se sempre investir dinheiro que em caso de perda – caso o investimento corra mal – não implique colocar a pessoa numa situação em que tenha de vender outros ativos para sobreviver.

Depois, é necessário perceber se a aposta passará por dividend stocks ou por growth stocks – ou seja, comprar ações de empresas muito seguras e estáveis ou de empresas em crescimento. As primeiras provavelmente não irão duplicar o seu valor num futuro próximo; sabe-se, no entanto, que trarão dividendos consistentes. As segundas estão, como o próprio nome indica, relacionadas com a percentagem de crescimento. Uma dica passa por escolher marcas. Ou seja, se uma pessoa acredita que determinada marca é a melhor dentro de determinado setor, é nela que tem de investir.
Ninguém sabe, na verdade, o que o futuro reserva. O mercado é volátil e, embora a maioria das ações tenha uma flutuação diária de, mais ou menos, 0,5% a 2%, há alturas em que a volatilidade aumenta e uma ação pode flutuar entre, mais ou menos, 10% a 20% num dia. Por vezes, há semanas consecutivas positivas, assim como há semanas consecutivas negativas. Assim, mesmo que se escolha a melhor empresa, começar logo a perder nas primeiras semanas é uma possibilidade.

Ainda assim, o investimento não tem de ser necessariamente feito numa empresa; pode-se comprar um setor ETF. Por exemplo, se há uma crença forte de que os carros elétricos vão ter um forte crescimento, pode-se comprar um ETF de carros elétricos, retirando, assim, o risco individual de investir numa única empresa. Neste caso, o dinheiro é ganho se o crescimento de algumas das empresas do ETF for superior às perdas de outras empresas do mesmo ETF.

Por fim, um ponto crucial: deve-se comprar barato e vender caro. Isto parece muito lógico, mas a verdade é que muitas pessoas compram ações quando as empresas estão num bom momento e, assim que estas começam a cair, assustam-se e vendem. Esta é a fórmula perfeita para perder dinheiro. É exatamente o contrário que se deve fazer: comprar quando a empresa está a descer em valor e vender quando está a subir. Para entender isto de outra forma, basta pensar numa marca de roupa: todos os anos há saldos, portanto, existe uma camisola que custa 20€ e que passa a custar 5€. Mas a camisola é exatamente a mesma, assim como uma empresa que tenha um mau trimestre é exatamente a mesma.

 

3) Agora, sim: começar a investir

Agora que já se tem informação, conhecimento, e algumas regras/dicas, é o momento de começar a investir dinheiro real.

Assim, deve-se definir se a estratégia será focada, por exemplo, em dividendos ou em crescimento (entre outras possíveis estratégias), em que mercados investir, etc. De seguida, é necessário definir uma quantia de investimento e uma timeline. Respeitar a estratégia definida e ter disciplina é mesmo fundamental para esta jornada – da mesma forma que se planta uma árvore e se sabe que serão necessários 10 anos para dar frutos. Também da mesma forma que se segue esporadicamente o crescimento da árvore, não se pode seguir o desempenho dos investimentos a toda a hora; é preciso ter convicção de que os frutos irão surgir.

Depois, é importante diversificar, reduzindo o risco e aumentando as possibilidades. Mas, especialmente se falarmos de um pequeno investidor, não faz sentido diversificar demasiado. Assim, recomendaria diversificar entre seis a oito empresas, em diferentes indústrias. O máximo seriam 12; caso contrário, mais vale comprar um index – basicamente, uma lista de empresas (como a Standard & Poor’s 500 Index (S&P 500).

Outro conselho que considero importante: especialmente no início, deve-se investir em empresas que se conhece e entende. Idealmente, devemos ser até nós próprios utilizadores. Se eu comprar umas sapatilhas de uma marca e, ao mesmo tempo, estiver a investir nessa marca, o dinheiro volta para mim de certa forma, uma vez que, como cliente, estou a contribuir para o sucesso do meu investimento.

Estar atento aos relatórios anuais das empresas que estão listadas no mercado e às recomendações de investimento dos bancos também pode dar luzes sobre as melhores opções para investir e timings para comprar e vender. Mesmo sem um background que permita analisar as questões financeiras, estes relatórios permitem perceber o que está a acontecer em termos estratégicos com as empresas.

Mais um conselho: não investir todo o dinheiro logo à primeira. Deve-se investir uma fração do que se está disposto a investir, no total, em determinada empresa. Assim, poder-se-á avaliar como corre, antes de decidir o momento de investir o restante.

Outra recomendação, principalmente para investidores jovens que não tenham muito dinheiro, passa por não investir quantias demasiado pequenas. Com a comissão do banco, estas dificilmente terão retorno. Deve-se garantir que a quantia investida faz sentido considerando a proporção entre o investimento e a comissão.

Por fim, para investir em determinada empresa, é necessário confiar nela a longo prazo, apesar dos possíveis percalços. É por isso que a paciência é fundamental. A maioria das grandes empresas acabará por ganhar dinheiro. Claro que alguns investimentos não terão resultados positivos, mas a maior parte das empresas, mesmo que perca 50% do seu valor a determinada altura, irá acabar por valorizar. Então, a longo prazo, a volatilidade deverá ser apenas ruído.

Concluo reforçando que este artigo não deve substituir uma educação financeira adequada para compreender melhor os fatores técnicos e de mercado, funcionando como um enquadramento para aqueles que querem começar a investir e não sabem como iniciar a sua jornada. Como diz o provérbio chinês, “a journey of a thousand miles begins with a single step”.

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