Herdade do Zambujal: Ganadaria e coudelaria – Uma paixão de família

É na Herdade do Zambujal, concelho de Palmela, que se situa uma das coudelarias mais antigas do país e a única ganadaria com encaste Santa Coloma. Luís e Lourenço Vinhas conversaram com a Revista Business Portugal sobre estas duas atividades que passaram de geração em geração.

Localizada em Águas de Moura, a Herdade do Zambujal é uma propriedade de grande dimensão com 3500 hectares, agora dividida entre familiares. Luís Vinhas explica que a herdade entrou na sua família “pelo meu bisavô Francisco Henriques de Carvalho, que a comprou há cerca de 120 anos. Desde então tem ficado na família”. Posteriormente, foi o pai (Mário Vinhas) e o tio mais velho de Luís que ficaram a tomar conta da propriedade. Após o falecimento de Mário Vinhas, a herdade está hoje na mão de Luís Vinhas, bem como dos primos. Caracteriza-se por ser um local “com muita floresta, produção de cortiça, eucaliptos, pinheiros e, em alguns lugares da herdade, temos gado”. A acompanhar os extensos terrenos, existe uma casa de família na herdade.
A ganadaria e a coutelaria Vinhas são as duas atividades de destaque que exigem uma grande dedicação e paixão. Segundo o criador, “herdamos um núcleo de animais de muito boa qualidade. Gostamos de continuar e consideramos que os nossos antepassados também gostariam que tivéssemos continuado com estes descendentes”, acrescentando que “temos vindo a aperfeiçoar – naturalmente por seleção contínua – com vista a obter os melhores resultados”.

Ganadaria Vinhas: a única em Portugal com encaste Santa Coloma
Há mais de 50 anos já havia uma ganadaria na herdade. Nessa altura, optaram por comprar um conjunto de touros e vacas espanholas pelas características interessantes que apresentavam. O único objetivo passava por criar um touro bravo que transmitisse emoção, festa e um bom espetáculo.
O nosso entrevistado confessa que a paixão pela ganadaria veio um pouco tardia, “surgiu mais quando o meu pai faleceu”. Porém, a história remota ao tempo do avô, do pai e do tio de Luís que “gostavam bastante, empenhavam-se, vibravam e participavam nas corridas”. Neste momento, consideram fulcral estarem num constante aperfeiçoamento e, dessa forma, selecionarem cuidadosamente para obterem bons resultados dos 28 touros que possuem. “Estamos numa boa fase de resultados. Começamos agora a época, uma vez que as corridas de touros decorrem em julho e agosto”.
Os Santa Coloma apresentam características distintas em comparação com os outros: são finos. Por outro lado, “a bravura, ligada a uma certa nobreza, permite encaixar aquilo que se espera deles, na investida e isso traz confiança e ao confiar cria-se mais emoção”, refere. É de salientar que de todos as encastes que existem no mundo, o Santa Coloma é único em Portugal. Lourenço realça que é “o touro típico, mais pequeno, tem uma cor mais característica, não atingem pesos elevados e têm a cara geralmente mais pequena do que a das outras ganadarias”.
Devido ao seu potencial, a Ganadaria Vinhas já arrecadou vários prémios nacionais pela participação em diversos concursos. Um fator importante para estas premiações deve-se à existência de pastagem natural durante uma parte do ano. No restante período do ano é preparada uma alimentação de ração específica feita pelo veterinário.
Atualmente, 90 por cento das vendas correspondem ao mercado nacional. Por outro lado, França é o país para onde exportam mais o touro bravo.
Entre as mais vastas ganadarias espalhadas pelo país, Luís e Lourenço Vinhas acreditam que o que os diferencia é o facto de serem “a única ganadaria portuguesa que tem encaste Santa Coloma, de origem espanhola.

Coudelaria Mário Vinhas
Se antigamente os trabalhos no campo eram feitos de uma forma mais manual, hoje em dia existe uma grande mecanização. “A partir de certa altura, entendemos que esse gado estava ultrapassado e em meados de 1960 resolvemos comprar um conjunto de éguas para começar a criar cavalos. Nessa altura, mudamos o tipo de cavalos que tínhamos para aqueles que tinham aptidão para o ensino e outros para casa de toureiros”, afirma.
Hoje em dia, o cavalo puro-sangue lusitano é utilizado para fins de touraria, mas também para ensino. A sua utilização deve-se às características únicas que possui, nomeadamente a docilidade, nobreza, inteligência, generosidade e estão sempre desejosos de tentar adivinhar o que o cavaleiro pede dele. “Estas características fazem com que o cavalo passe muitas vezes próximo do touro para dar emoção. É também fundamental que haja uma grande ligação com o cavaleiro, pois é sinónimo de confiança”, assegura.
Nesta coudelaria existem, no total, 60 cavalares. Cada um tem uma personalidade diferente e há muitos fatores a serem avaliados na hora da escolha. A maior parte dos cavaleiros acredita que a árvore genealógica é importante para perceber as características de um cavalo.
Nos últimos anos, a Coudelaria Vinhas atingiu uma qualidade e desempenho que há 40 anos era inimaginável. É caso para dizer que o nome lusitano já vai além-fronteiras.

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