Guimarães: rumo à neutralidade climática

A recente distinção do Município de Guimarães pelo caminho que tem realizado para alcançar a neutralidade climática até 2030 foi o mote para a conversa com Sofia Ferreira, vereadora do Ambiente da Câmara Municipal de Guimarães.

 

 

 

O Certificado Mission Label recebido no Fórum European Reseach & Innovation Days, em Bruxelas, é um reconhecimento significativo para Guimarães. Como é que essa conquista se alinha com os objetivos da Missão de Cidades Inteligentes e Climaticamente Neutras da cidade? 

No âmbito do Pacto de Autarcas, Guimarães já tinha estabelecido a meta da neutralidade para 2040. Com a entrada na Missão de Cidades Inteligentes e Climaticamente Neutras, esta meta foi antecipada para 2030; os planos e estratégias relacionados com o clima foram revisitados e ajustadas as metas e os objetivos em concordância. O certificado Mission Label é o reconhecimento e a validação, por parte da Comissão Europeia, do Contrato Climático de Guimarães 2030 que incorpora o compromisso para a neutralidade, o plano de ação e respetivo plano de investimentos.

Guimarães tem uma economia diversificada, com destaque para o setor secundário, especialmente a indústria têxtil. Como é que o município pretende promover uma transição para uma economia mais sustentável, considerando a questão da descarbonização e as políticas de desenvolvimento?

A nossa economia é diversificada sendo que, na nossa região, o setor da indústria é o mais relevante em termos de emissões. Os dados que temos demonstram que o envolvimento deste setor na jornada climática é crucial. Reforçar a participação do setor privado, nomeadamente, da indústria, era um dos objetivos do Município. O Pacto Climático Guimarães 2030 permitiu esse reforço e com isso estabelecer um percurso de alinhamento das metas empresariais com as metas estabelecidas para o Município. Em 2023, foi criado a marca “Guimarães 2030: junta-te à transição verde” reforçando a comunicação da cidade com todos os agentes locais e cidadãos.  Paralelamente, Guimarães tem procurado, através do Laboratório da Paisagem, estreitar a sua relação com o setor privado, quer através da capacitação, sensibilização, cálculo da pegada carbónica e desenho de planos de sustentabilidade.

 

 

 

 

As festas tradicionais desempenham um papel importante na identidade cultural de Guimarães. Como é que o município concilia a preservação dessas tradições com os esforços para promover práticas mais sustentáveis, especialmente no contexto da Missão de Cidades Inteligentes e Climaticamente Neutras?

Quando se assume a ambição da neutralidade climática, assume-se que devemos liderar pelo exemplo em todas as ações que decorrem da ação municipal. Nesse sentido, temos reforçado a sensibilização junto das entidades organizadoras de eventos, assim como nos próprios eventos municipais, sejam eles culturais ou desportivos. Dessa forma, temos sido proativos no desenho de planos de sustentabilidade pré e pós-evento, no sentido de mitigar os impactes destes mesmos eventos. É, aliás, nesse sentido que está a ser preparado o Plano Cultura Carbono Zero, cujo objetivo é contribuir para o desenho de eventos neutros em carbono. Acreditamos, por isso, que é possível conciliar as tradições, os eventos, com os objetivos inscritos para a Missão de Cidades Inteligentes e Climaticamente Neutras.

O artesanato é uma parte essencial da herança cultural de Guimarães. Como é que a Câmara Municipal incentiva e apoia os artesãos locais, garantindo ao mesmo tempo práticas que respeitem o ambiente e promovam a sustentabilidade?

Guimarães tem estabelecidos vários compromissos que reforçam esta jornada climática. Desde logo, sendo signatária da declaração das cidades circulares, pretende ser uma cidade eficiente em termos de recursos com baixo teor de emissões de carbono. Este é um desígnio transversal a todas as áreas de atuação do município; envolvendo todos os atores locais. Guimarães é também signatária da declaração de Lille que tem como pressuposto o turismo sustentável e carbono zero através da adoção de boas práticas no setor do Turismo. A certificação do Município como destino sustentável, resultará a curto prazo, na certificação de destino turístico EarthCheck.

A gastronomia de Guimarães é reconhecida pela sua riqueza e sabores tradicionais. Quais são os esforços do município para promover uma gastronomia mais sustentável e local, alinhada com os princípios da Missão de Cidades Inteligentes e Climaticamente Neutras?

Guimarães tem feito esse caminho também através de projetos que procuram incentivar o consumo de proximidade e o encurtamento das cadeias produtivas. É exemplo disso, o projeto 360.come que realizou o mapeamento de mais de meia centena de produtores no concelho, para estimular a aquisição e consumo de produtos locais. O mesmo acontece com o projeto europeu GreenTour do qual Guimarães fez parte e que foi importante para o desenvolvimento de instrumentos de avaliação do impacte ambiental nos estabelecimentos de restauração e alojamento.

 

 

 

O desporto, especialmente o futebol com o Vitória de Guimarães, é uma parte significativa da vida na cidade. Como é que o município pretende integrar o desporto nas suas estratégias de desenvolvimento sustentável e descarbonização?

Guimarães tem olhado para a questão do desenvolvimento sustentável de uma forma holística, procurando integrar todos os setores, inclusivamente o desporto, que pode ser utilizado não só como um veículo importante de disseminação de informação, atendendo ao facto de ser um setor de massas e à forma apaixonada como é vivido, mas também como exemplo daquilo que se pretende para o território. Desse modo, está a ser desenvolvido o projeto Desporto Carbono Zero que visa o diagnóstico ambiental e criação de planos de sustentabilidade para clubes e associações desportivas, assim como a disponibilização de um software digital de gestão ambiental. Este Plano prioriza as intervenções e ações que devem ser realizadas pelos Clubes, enquanto pode nortear as políticas de investimento do próprio Município de Guimarães na atribuição de subsídios às coletividades.

A inclusão do Centro Histórico de Guimarães e Zona de Couros na Lista de Bens Património Mundial é um marco importante. Quais são os planos para preservar e promover ainda mais esse património cultural, considerando os desafios ambientais e de sustentabilidade?

Ao longo dos anos, tem ficado evidente o esforço que Guimarães tem realização ao nível da reabilitação urbana. Esse reconhecimento tornou-se claro através da classificação do Centro Histórico como Património Mundial da UNESCO, em 2021, e a sua extensão em 2023 com a inclusão da Zona de Couros. É precisamente neste local onde Guimarães está a desenvolver um projeto-piloto “Bairro C – Compromisso Carbono Zero” que visa o desenho e implementação de ações em diversas áreas, resíduos e economia circular, áreas verdes, energia e água, que contribuam para transformar este espaço num bairro climaticamente neutro que, até pela circunstância de incluir uma área classificada, tornará no Bairro C um importante modelo de replicabilidade para outras cidades europeias.