Elevar Angola no mundo

Cilene Correia é conhecida como a ‘mulher furacão’. Emresa de sucesso, mulher de causas, é fundadora e administradora da Defendideias, uma empresa de direito angolano, que opera no mercado na área de design. Falamos de uma empresa que explora a cultura angolana, sendo pioneira nesta vertente. A Defendideias já conquistou algum espaço no mercado angolano devido às suas peças inovadoras e originais.

 

 

Falar da Defendideias é falar já de um pequeno império ‘made in Angola’ e que pretende elevar e dar a conhecer este país. “É a minha terra”, faz questão de frisar Cilene Correia, sempre com emoção na voz, nunca esquecendo de referir aqueles que fizeram de si a mulher que é hoje, os pais, a família e todos os que de alguma forma, passaram pela sua vida.

A sua missão é clara e está bem patente na sua empresa: recontar a história do seu país mas mais diversas peças que aqui são criadas, sem nunca descurar a verdadeira essência da alma angolana.

O próximo patamar passa por internacionalizar os diversos produtos Defendideias. Mas não há melhor forma para conhecer Cilene Correia na voz da própria.

 

 

Antes de falarmos da empresa, parece-me pertinente falarmos da mulher. Quem é Cilene Correia?

Uma mulher forte, lutadora, hipersensível, mas simultaneamente uma mulher de extremos . A vida obrigou-me a isso…

 

Sente que a sua infância e a história do seu país a moldaram enquanto mulher e também enquanto empresária?

Sem dúvida que a minha infância e a minha história de vida, no geral, fizeram de mim esta batalhadora…

Tive uma infância feliz, com uma família consistente que conseguiu fazer com que acreditasse no Pai Natal até setembro de 1975… ano em que tudo mudou… e é aqui que se ‘mistura’ o peso da história do meu país com as vivências  no “país que nasceu Meu Pai” (parafraseando a música do grande Paulo Flores).

Apelidaram-na de ‘mulher furacão’. É assim que se auto-intitula?

Sim, nunca ninguém tão bem resumiu, em duas palavras apenas, aquilo que sou!

 

Tem enraizado em si a promoção de Angola? Sente ser sua missão levar e elevar o nome de Angola mais longe?

Sabe que sinto que isso é uma necessidade que tenho?

Acho que tenho um trauma, assumido, de ter crescido e me ter feito mulher num sítio onde o racismo ainda se fazia sentir muito, foi terrível e isso marcou-me imenso…

Eu sinto necessidade de mostrar que em Angola, na minha terra, há coisas e pessoas que valem a pena, aqui há pessoas capazes, há gente de valor e com alma… Porquê falar apenas no que há de menos bom?

 

É perante este sentido de missão que nasce a Defendideias? Para quem ainda não conhece, a Defendideias é uma empresa de design que explora a cultura angolana. Fale-nos um pouco deste projeto.

A Defendideias nasce, de facto, da vontade de levar o nome de Angola bem além-fronteiras, de mostrar ao mundo que temos história para contar, que temos uma paisagem maravilhosa para mostrar, que temos gente genuína que faz com que a nossa cultura e as nossas tradições sejam tão ricas.

 

Como é que se eleva o nome de Angola?

Acreditando no meu país, na minha terra!

 

No que é que se inspira para a criação das coleções?

Essencialmente nas memórias da minha infância no Seles, Kwanza Sul, terra onde nasci e onde vi a minha família ser tão feliz… Na história do país que precisa de ser contada. Pegámos nas datas especiais como: o 4 de fevereiro (que marca o início da luta pela independência) ou no 4  de abril que é um dia marcante para qualquer angolano : nesse dia, em 2002, foi assinado o acordo de Paz. Terminou a guerra. Então isto não é inspirador?

Ah, permita-me que lhe diga que esta data me comove particularmente, já temos três peças diferentes em edições limitadas e numeradas, de comemoração deste dia especial.

 

Tenho também a sorte de ter profissionais que colaboram e vestem a camisola. Temos as duas designer’s que trabalham connosco – a Inês Andrade e a Ana Pinto – são fantásticas, conseguem dar vida às minhas ideias e às do grupo, ‘beberam’ do espírito Defendideias tornando-se imparáveis…

 

Falemos agora da nova colecção, apresentada no passado dia 24 de setembro. O que representa esta coleção? Qual a mensagem que estas peças transmitem?

Esta coleção está divida em duas partes: uma que mantém o mesmo segmento, apenas as peças especiais alusivas a essas datas comemorativas do país e a outra parte, a parte nova que são as louças, os lenços, os tecidos africanos que reinventámos em sedas, os Kimbundus : pequenos ‘recuerdos’ para quem viaja e os  Mussulus…e, apesar desta  parte da coleção ter  uma vertente mais dinâmica, mantemos aqui esse lado nacionalista  e patriótico que é imagem de marca da Defendideias.

 

Esta coleção conta com convidados de renome…

Sabe que o meu lema ou o lema da Defendideias é  ‘Juntos somos melhores e por isso mais fortes’.

Luís Fernando, um bom amigo, patriótico como eu, escritor e jornalista conceituado, a pessoa certa para ‘falar’ sobre a alma angolana e a sua génese, fê-lo como ninguém através da galinha de Angola por nós intitulada de ‘Galinha Maluca’.

Nadir Tati, uma senhora, a grande estilista da moda angolana, a quem convidámos para  com  a sua sabedoria transformar os nossos tecidos e assim conseguirmos dar  uma outra imagem dos panos africanos.

E o Guilherme, o Mampuya, esse artista que me chama de ‘cota’ (risos) e que tem um traço inconfundível ao qual  juntou a técnica do seu pincel à nossa vontade de bem fazer. Resultado? Uma tela que simboliza o ‘grito’ da independência…

 

Foquemo-nos nos Mussulus. Primeiramente pergunto-lhe de onde vem este nome?

Na Defendideias nada surge por acaso (até os nomes que damos às peças e aos artigos  traduzem essa vontade de elevar Angola) e este nome Mussulus foi inspirado numa ilha paradisíaca na costa sul de Luanda que se chama Mussulo e que vale a pena conhecer. Assim, estamos a despertar a curiosidade da origem do nome e, consequentemente, a vontade de lá ir…

 

O que transmitem estes chinelos? Qual a sua mensagem?

A nossa mensagem é sempre a mesma em todas as peças ou artigos que produzimos…e os Mussulus não são exceção.

 

O que os distingue dos restantes chinelos do mesmo segmento?

Os Mussulus têm uma tela na sola que lhes confere um maior conforto, o pé não fica em contacto com a borracha, não escorrega com a transpiração ou humidade. Reinventámos padrões criados por nós, mais precisamente pela Inês Andrade, inspirados na cultura africana conjugando com os tecidos dos quais já falei e isso torna-os únicos.

 

Os mussulus são sinónimo de…

De calor, de cor, de sol, de praia, de batuque, de liberdade…

 

Há ainda uma peça alusiva à comemoração dos 40 anos da independência de Angola. Antes de a questionar sobre a peça, pergunto-lhe sobre o que esta data lhe diz enquanto angolana, enquanto cidadã, enquanto empresária. O que significa, para si, 40 anos de independência.

A independência é um marco importantíssimo na vida de qualquer angolano… passaram 40 anos, cabe-nos a manutenção da Paz!

 

Fale-nos, então, um pouco desta peça. Qual a mensagem da mesma?

O facto de termos ‘transportado’ para a peça de porcelana (um guarda-jóias) a tela do Guilherme Mampuya significa que, com a celebração dos 40 anos, celebramos também a herança cultural e a força da tradição do nosso país.

 

Por onde passa o futuro da Defendideias?

No futuro imediato, internacionalizar os Mussulus e abrir um espaço em Portugal.

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