
Neste artigo explico porque o reforço da estratégia de diversificação de mercados de exportação é uma prioridade para o nosso país.
Já constituía uma prioridade antes do choque provocado por esta “terceira guerra”, agora de natureza comercial, que sucede aos choques da “guerra sanitária”, com a pandemia por Covid-19, e da “guerra militar”, embora esta última ainda persista, com o conflito na Ucrânia e no Médio Oriente.
Estes choques incessantes impõem à atividade empresarial redobrados desafios, que se estendem na vertente operacional e financeira, com impactos na rentabilidade e, porventura, na sustentabilidade do próprio negócio. O crescimento da economia portuguesa tem necessariamente de assentar em bases sólidas, pelo reforço do peso das componentes de exportações e de investimento no PIB.
No nosso comércio internacional, há aspetos estruturais que tendem a limitar a ambição de elevar a intensidade exportadora de Portugal para, pelo menos, 60% do PIB até 2030, como a AEP defende, convergente com os valores registados por países de dimensão semelhante.
No ano passado, o maior acréscimo das exportações ocorreu no mercado da União Europeia (destino de mais de 70% das exportações de bens), mas que apresenta um crescimento económico medíocre, com um único país – a Alemanha – a contribuir para três quartos do aumento global das exportações, o que lhe permitiu a subida para a segunda posição no ranking de clientes externos.
O bloco europeu e, em particular, a Alemanha são mercados importantes, contudo enfrentam problemas. Para 2025, as mais recentes projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam para uma desaceleração do crescimento económico da Área Euro (para 0,8%, com uma revisão em baixa face à projeção divulgada em janeiro) e para um crescimento nulo da economia alemã (também revisto em baixa).
Para o nosso principal mercado fora da Europa – os Estados Unidos da América (EUA) –, simultaneamente o país de destino com quem Portugal apresenta o maior excedente comercial, o FMI prevê um crescimento do PIB de 1,8% (bem abaixo dos 2,7% projetados no início deste ano).
São dados que refletem a elevada incerteza quanto à magnitude dos efeitos da “guerra comercial” imposta pelas decisões intempestivas da administração Trump, num dia anuncia tarifas para no dia a seguir suspender nuns casos e agravar noutros.
Os resultados do Inquérito Flash realizado pela AEP no início de abril, quanto ao “Impacto económico das tarifas impostas pelos EUA”, mostram precisamente as sérias preocupações das empresas pelos efeitos diretos (os EUA são o nosso quarto principal mercado e o primeiro fora da Europa) e indiretos (via União Europeia, que se repercutirá na dinâmica da procura externa dirigida à economia portuguesa). Neste sentido, considero fundamental uma redobrada atenção das políticas públicas no apoio à internacionalização das empresas, sobretudo à diversificação dos seus mercados, essencial para minimizar riscos, que no atual contexto geopolítico e geoestratégico fazem ainda mais sentido. Neste âmbito, releva a necessária célere execução do Portugal 2030 e um papel “mais efetivo” do Banco Português de Fomento, que permitam mitigar os previsíveis impactos negativos das medidas protecionistas.
Estas prioridades constam do Programa Reforçar, apresentado pelo Governo em abril e que teve o mérito de envolver as associações empresariais, auscultando-as previamente e incorporando os seus contributos, tendo a AEP participado ativamente com propostas de medidas, que felizmente vemos vertidas neste Programa.
Para além dos contributos que tivemos a oportunidade de fazer chegar ao Governo, a AEP, através do seu Programa Business On the Way (BOW), com o apoio dos fundos europeus, continua a levar a cabo várias ações de promoção externa a uma diversidade de mercados, reforçando a aposta em destinos “menos tradicionais”. As missões empresariais ao Peru e à Colômbia, à Costa do Marfim e aos Camarões, à Croácia e à Sérvia e a primeira incursão à Mongólia são apenas alguns exemplos. É prova de um caminho que a AEP tem vindo a percorrer no apoio à internacionalização do nosso tecido empresarial e que hoje, face ao contexto geoestratégico e geopolítico, adquire uma importância acrescida.