Dia Nacional da Luta Contra a Dor
O Dia Nacional da Luta Contra a Dor é uma data importante para consciencializar a população e os profissionais de saúde sobre a necessidade de tratar a dor de modo adequado e eficaz. Para o anestesista, que possui um papel central no controlo da dor, esta data é uma oportunidade para realçar a relevância da abordagem multidisciplinar e o aprimoramento constante das técnicas no manejo da dor, aguda e crónica. Na prática médica, o anestesista é frequentemente associado ao controlo da dor cirúrgica. No entanto, o seu papel vai muito além do Bloco Operatório. Uma visão moderna e integrada da Anestesiologia entende a dor como uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a danos reais ou potenciais aos tecidos. Mais do que um sintoma, é uma condição que pode ter múltiplas causas e exigir diferentes tipos de intervenção. Desempenhando um papel essencial como mecanismo de defesa do organismo, alertando-nos para possíveis lesões, em muitas situações a dor, pela sua severidade ou persistência, pode comprometer seriamente a qualidade de vida das pessoas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a dor como um problema de saúde pública, onde o anestesista tem um papel crucial. O arsenal terapêutico inclui: diferentes medicamentos até aos opioides, técnicas invasivas como os bloqueios regionais, a neuromodulação, que utiliza dispositivos implantáveis para controlo da dor, terapêuticas alternativas como a acupunctura e as terapias baseadas em biofeedback e o cooping, que permitem ao doente ter maior controlo sobre a sua perceção da dor. Tem por objetivo um bem maior, no equilíbrio entre eficácia e minimização de efeitos colaterais, como o risco de dependência medicamentosa e a cronificação da dor, em qualquer momento do ciclo de vida do doente, numa visão holística dos cuidados de saúde. No contexto do tratamento da dor, o anestesista integra equipas multidisciplinares com outros profissionais (enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, reumatologistas e fisiatras), para uma abordagem holística. A dor crónica, resultante maioritariamente do manejo inadequado da dor, pode levar ao desenvolvimento de graves complicações. Afeta milhões de pessoas, comprometendo a qualidade de vida destas e das sociedades, com significativo impacto físico, psicológico, mental, social, económico e financeiro. Garantir que os doentes tenham acesso a terapias eficazes para o controlo da dor é uma questão de dignidade e qualidade de vida. Nos últimos anos, houve avanços significativos no tratamento da dor, com o desenvolvimento de moléculas analgésicas e técnicas minimamente invasivas, permitindo a oferta de soluções cada vez mais personalizadas e eficazes. Porém, a luta contra a dor vai além do tratamento e envolve uma mudança cultural em relação à forma como a dor é percebida e tratada na sociedade. Ainda hoje, muitos doentes são subtratados, seja por falta de conhecimento, preconceitos relacionados ao uso de opioides ou barreiras de acesso a serviços de saúde especializados. O anestesista, como um dos profissionais com maior expertise no controlo da dor, tem um papel formativo fundamental, tanto em relação aos doentes quanto aos demais profissionais de saúde, promovendo práticas baseadas em evidências e colaborando para a disseminação de conhecimento nessa área. Neste Dia Nacional, é fundamental refletirmos sobre os avanços alcançados e os desafios que ainda precisam ser enfrentados, para garantir que a dor seja reconhecida e tratada com a seriedade que merece.