Compromisso coletivo rumo à sustentabilidade: Território Arrábida assume desafio da descarbonização

Um marco histórico foi alcançado quando representantes das câmaras municipais de Setúbal, Palmela e Sesimbra, juntamente com diversos agentes locais, assinaram o Memorando de Entendimento para a Neutralidade Carbónica do Território Arrábida, estabelecendo metas e uma visão estratégica para enfrentar a crise climática a nível local. Para entender mais sobre esse marco e o papel da Agência de Energia e Ambiente da Arrábida (ENA) nesse processo, tivemos o privilégio de entrevistar Carla Guerreiro, responsável pela sua tutela e vice-presidente da Câmara Municipal de Setúbal.

 

Carla Guerreiro, Presidente

 

Evolução da ENA: uma jornada rumo à sustentabilidade

Desde a sua criação, a ENA tem desempenhado um papel vital na promoção de práticas ambientais sustentáveis na região. No entanto, como ressalta Carla Guerreiro, a evolução da agência não se restringe apenas às áreas técnicas ambientais. “É notável como a ENA evoluiu ao longo dos anos, enfrentando novos desafios e assumindo responsabilidades adicionais”, afirma.

Uma das mudanças mais significativas na trajetória da ENA é a incorporação de preocupações com a comunicação. A vice-presidente destaca que, desde 2019, tem sido fundamental nesse processo de crescimento para inspirar mudanças e mobilizar a comunidade em direção a um futuro mais sustentável. “Não basta apenas realizar bem o nosso trabalho; é igualmente importante transmitir essa informação. Através da comunicação eficaz, podemos influenciar e motivar outras pessoas a seguir as nossas orientações e a contribuir para um ambiente mais sustentável”.

No contexto do Território Arrábida, a ENA desempenha um papel crucial no Memorando de Entendimento para a Neutralidade Carbónica. “Este acordo histórico, assinado pelos principais agentes locais, representa um compromisso conjunto com a redução de emissões de carbono e a promoção de práticas sustentáveis”.

Através da união de esforços, o Território Arrábida destaca-se na vanguarda da luta contra as alterações climáticas. Conforme salientado por Carla Guerreiro, “num mundo onde os desafios ambientais são cada vez mais urgentes, a ENA e os seus parceiros demonstram que a colaboração e a inovação podem transformar em realidade a visão de um futuro sustentável”. Essa visão conjunta reflete a convicção de que a ação coletiva é essencial para enfrentar os desafios ambientais globais.

 

 

O Memorando de Entendimento: uma aliança pela sustentabilidade

A ENA , fundada em 2006 pelos municípios de Setúbal, Palmela e Sesimbra, tem como objetivo central abordar questões ambientais e energéticas. Carla Guerreiro, presidente da ENA, destaca que o memorando recentemente estabelecido é uma extensão desse compromisso, delineando estratégias para mitigar emissões de CO2 no território e promover as práticas sustentáveis.“Este Memorando enquadra-se no âmbito do projeto europeu EUCityCalc, financiado pelo programa Horizonte 2020 da EU, que visa apoiar cidades no desenvolvimento e implementação de roteiros de transição cientificamente sólidos rumo à neutralidade climática. Esses roteiros servem para suportar a tomada de decisão no estabelecimento de políticas e planos de transição, tais como o Plano de Ação para a Energia Sustentável e Clima no âmbito do Pacto dos Autarcas e os Planos Locais de Ação Climática”.

As três câmaras municipais aprovaram em 2024 os seus Roteiros de transição para a neutralidade climática, após um processo de trabalho colaborativo liderado pela ENA durante o passado ano, onde quase oitenta participantes de mais de trinta entidades contribuíram para planear a transição do Território Arrábida rumo à neutralidade climática.

Ao ser questionada sobre o impacto da ENA no meio empresarial, Carla Guerreiro destaca o envolvimento de grandes empresas locais na assinatura deste compromisso de descarbonização, como a Fertagus, SIMARSUL e Doca Pesca, associadas da agência refletindo crescente sensibilização do setor privado para questões ambientais.

Ao discutir o futuro do memorando e os seus impactos, a representante enfatiza a importância do compromisso coletivo, afirmando que esta iniciativa dos municípios é estratégica para consolidar a ação climática no território.

 

 

Avanços e desafios na promoção da sustentabilidade regional

Carla Guerreiro forneceu ainda informações esclarecedoras sobre a situação ambiental da região e as iniciativas em curso para promover a sua sustentabilidade, destacando que, apesar dos desafios contínuos, houve um progresso notável. “Inicialmente, o principal foco do nosso trabalho eram a energia e a eficiência energética. Contudo, temos vindo a trazer cada vez mais uma dimensão ambiental e de recursos naturais para os nossos projetos.

A presidente da ENA ressaltou os avanços significativos realizados no desenvolvimento das matrizes energéticas, destacando o papel do Pacto dos Autarcas nesse processo. “Atualmente, a maioria dos municípios já possui iluminação pública totalmente em LED, assim como semáforos LED. Essas questões já estão resolvidas, mas há dez anos eram prioridades importantes para nós, tanto por motivos económicos quanto ambientais”, elucidou.

Além disso, destacou a importância de conciliar crescimento económico e ambiente, duas realidades que não só não são antagónicas, como são complementares e dependem uma da outra. “Uma economia forte necessita de um ambiente saudável. A proteção ambiental beneficia ativamente a economia enquanto uma economia mais eficiente é mais produtiva e emite menos carbono”.

A conversa não se restringiu apenas aos esforços institucionais. Carla Guerreiro enfatizou a necessidade de envolver ativamente a sociedade civil nesse processo de consciencialização ambiental. “Realizamos uma série de reuniões e conversas, algumas mais formais e outras mais informais, tanto com as entidades, como com diversas ONGs, incluindo algumas do concelho de Setúbal”, partilhou. Além disso, destacou a iniciativa “ As Tertúlias do Jardim”, que proporcionam um espaço informal para discussões abertas sobre questões ambientais.

Também ressaltou o papel fundamental da educação ambiental, especialmente entre os jovens. “Desenvolvemos uma série de recursos que as escolas podem requisitar para uso educacional”, afirmou. As “Maletas” da sustentabilidade, repletas de recursos pedagógicos sobre temas como água, energia e desperdício zero, são uma das ferramentas disponibilizadas às escolas em colaboração com as bibliotecas municipais. A assinatura do Memorando de Entendimento para a Neutralidade Carbónica sublinha o esforço conjunto para promover as práticas sustentáveis e reduzir as emissões de carbono na região do Território Arrábida. Ao abordar as metas a curto e médio prazo da Agência, Carla Guerreiro salientou a importância de objetivos mensuráveis: “alcançar a neutralidade de carbono é um desafio significativo, especialmente considerando a necessidade de colaboração entre os diferentes concelhos. É precisamente através de desafios ousados que podemos impulsionar o progresso significativo”.

A entrevistada apontou avanços notáveis, especialmente na mobilidade, citando a introdução do passe navegante e a redução do valor do passe em Setúbal como exemplos concretos de medidas que contribuem para a redução das emissões de carbono. Além disso, reconheceu o papel dos técnicos da ENA na realização de auditorias e certificações energéticas de edifícios, que servem de base para os projetos de requalificação de habitações públicas. “Estamos envolvidos em iniciativas de conservação ambiental e cultural”.

A ENA, junto de diversas entidades, apoia a candidatura da Arrábida Reserva da Biosfera. Este esforço visa reconhecer a importância única deste território, mas também promover a sua preservação e desenvolvimento sustentável, demonstrando um compromisso contínuo com a conservação ambiental e cultural.

 

Cristina Daniel, Diretora Executiva da Agência

 

O papel crucial da ENA na promoção da sustentabilidade

Carla Guerreiro, ao discutir os desafios históricos enfrentados pela região, destaca a importância da colaboração entre os municípios e agentes locais. “Quando criamos a ENA, percebemos a importância de trabalhar em conjunto como território, em vez de cada município ter a sua agência separada”. Essa cooperação impulsiona os progressos na preservação da Arrábida e do Sado.

No entanto, a presidente da ENA enfatiza que a colaboração e a partilha de experiências são fundamentais para enfrentar esses desafios. “Procuramos constantemente projetos e modelos que possam beneficiar o nosso território”, afirma. Iniciativas como o projeto AGILE, que contribuirá para melhorar as capacidades de gestão de riscos estratégicos e operacionais ante eventos de grande impacto e baixa probabilidade, o INFIRE, que visa o aumento e melhoria de espaços verdes urbanos, e o ProLIGHTmed, que fomenta a partilha de conhecimento e experiência em matéria de iluminação pública eficiente, são exemplos do compromisso contínuo com o desenvolvimento sustentável da região.

Nesta jornada rumo à sustentabilidade, a ENA desempenha um papel crucial, tanto na sensibilização quanto na preservação do meio ambiente. “As ações realizadas pela ENA são de extrema importância”, destaca. E é com essa determinação e colaboração que a Arrábida avança, protegendo as suas preciosidades naturais para as gerações futuras.

 

Fotos créditos: Câmara Municipal de Setúbal

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