75 anos de compromisso com a saúde cardiovascular

Prof. Hélder Pereira, Presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC), em entrevista à Revista Business Portugal, explora o percurso da instituição, destaca as prioridades na sua liderança e salienta a importância do Congresso Português de Cardiologia (CPC) 2024, que se realiza de 19 a 21 de abril, como um marco fundamental na promoção da saúde cardiovascular em Portugal.

 

Prof. Hélder Pereira, Presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia

 

 

A Sociedade Portuguesa de Cardiologia celebra este ano os seus 75 anos de existência. Nesta sua longa caminhada de promoção da saúde cardiovascular em Portugal, o que mais gostaria de destacar?

A SPC foi fundada em 1949, num período em que se começou a reconhecer a necessidade de especialização na Medicina Interna e a reconhecer a importância das especialidades médicas com necessidade de desenvolver áreas de investigação específicas. Desde a sua criação, a Sociedade teve como objetivo primordial a promoção da excelência em Cardiologia, apoiando a formação médica especializada e a investigação científica. Ao longo de décadas, a SPC tem desempenhado um papel ativo na formulação de políticas de saúde, em parceria com outras organizações de saúde e instituições governamentais, com vista a promover a prevenção, o diagnóstico, o tratamento e reabilitação das doenças cardiovasculares.

Assumiu a presidência da SPC em 2023. Neste seu mandato, que se prolonga até ao próximo ano de 2025, quais são as prioridades da sua equipa diretiva?

A SPC é uma sociedade científica, com a finalidade de promover o desenvolvimento da Cardiologia e o intuito de melhorar a saúde cardiovascular da população portuguesa. Internamente, esta missão é desempenhada através de duas linhas estratégicas: a formação, centrada na Academia Cardiovascular e a investigação centrada nos vários registos que têm base em Coimbra no Centro Nacional de Coleção de Dados em Cardiologia. Esta atividade tem como palcos principais o Congresso Português de Cardiologia e a Revista Portuguesa de Cardiologia. As sociedades médicas não podem estar fechadas sobre si próprias, devem estar abertas ao exterior, não se podendo dissociar da comunidade que, em última análise, é a razão da sua existência. Assim, além de tentarmos adaptar o importante legado recebido das anteriores direções, em termos de formação e investigação, aos novos desafios de uma nova realidade em que as novas tecnologias, designadamente a inteligência artificial, estão a sofrer um desenvolvimento exponencial, temos procurado estar abertos à restante comunidade científica e sociedade civil, de forma a contribuirmos para uma melhor eficiência na distribuição de recursos e no acesso às novas tecnologias. Acrescentar que além da nossa contribuição nacional, temos também tentado reforçar as relações com os países de língua portuguesa. Gostaria de destacar a missão “Coração com Moçambique” que envolveu profissionais de saúde portugueses, que, primeiro online, desenvolveram um programa de preparação para o rastreio de doenças cardíacas, com especial foco na ecocardiografia, e que, depois, no terreno, trabalharam, na zona de Maputo, no rastreio sistemático de crianças, através da ecocardiografia e, em simultâneo ajudaram os colegas cardiologistas de Moçambique a aprofundarem os seus conhecimentos nesta técnica.

 

 

 

 

Na atualidade, em termos globais, mas com uma particular incidência nos países ocidentais, vive-se de uma forma agitada e desequilibrada. Neste contexto, como está a saúde cardiovascular dos portugueses e o que pode e deve ser feito ao nível da prevenção e da sensibilização para as doenças cardiovasculares?

As doenças cardiovasculares são a principal causa de mortalidade na Europa, representando 36% das mortes em território europeu. Quando falamos da prevalência da doença, devemos ter em atenção que 20% dessa mortalidade é prematura, acontecendo antes dos 65 anos. Nos países mediterrânicos, a morbilidade das doenças cardiovasculares é inferior face aos países do norte.

A obesidade é um problema de saúde pública nos países ocidentais e está-se a verificar um aumento da incidência nas camadas mais jovens. O excesso de gordura corporal comporta um maior risco de hipertensão arterial, colesterol elevado e diabetes. A SPC irá iniciar, em breve, uma campanha nacional que visa alertar a população para esta temática. Esta iniciativa, enquadra-se no âmbito de outras ações que visam melhorar a literacia da população portuguesa relativas às doenças cardiovasculares. A atual direção da SPC encontra-se também empenhada em contribuir para a redução da grande assimetria na distribuição de recursos, ao nível da Cardiologia, no nosso país. Muitos dos hospitais do Interior não dispõem de serviço Cardiologia, o que claramente limita o acesso dessas populações a esta especialidade. Por outro lado, e isto aplica-se transversalmente a nível nacional, os nossos colegas de Medicina Geral e Familiar, não dispõem de instrumentos básicos para o diagnóstico das doenças cardiovasculares mais comuns, como são, por exemplo, análises para a insuficiência cardíaca, ecocardiografia, TAC e ressonância magnética, muito importantes no diagnóstico da angina de peito e das doenças das válvulas.

Nas áreas da Investigação e da Inovação, que mais recentes avanços científicos contribuíram para o surgimento de novas tecnologias e novas terapêuticas aplicadas à Cardiologia?

No domínio das doenças cardiovasculares, estamos a assistir à emergência de inovação de uma forma quase exponencial, com novas terapêuticas personalizadas, baseadas em biomarcadores e no genoma, novos dispositivos médicos, telemedicina e utilização da inteligência artificial quer no diagnóstico quer na ajuda à implementação de novos protocolos. No âmbito da investigação, dentro das iniciativas de investigação da SPC, destaco o estudo PORTHUS, que envolveu mais de seis mil indivíduos de todo o país e que irá aportar importantíssima informação acerca da prevalência da insuficiência cardíaca em Portugal. O nosso maior desafio é conseguir que a inovação chegue atempadamente à população portuguesa e que quando chegue seja para todos.

 

 

 

O Congresso Português de Cardiologia (CPC) 2024 realiza-se de 19 a 21 de abril, no Centro de Congressos no Algarve, em Vilamoura. Qual o tema central e que novidades podemos esperar deste grande evento científico da cardiologia nacional?

O Congresso Português de Cardiologia 2024 comemora o 50º aniversário. Ao longo dos anos, o Congresso Português de Cardiologia tem crescido e evoluído, ajustando-se às mudanças da Medicina e da sociedade. Continua a ser um marco fundamental na promoção da saúde cardiovascular em Portugal, fomentando a investigação, a educação, e a prática clínica em Cardiologia. Este ano o lema é “rumo à evidência e inovação”. Para além do público – alvo habitual – cardiologistas, internistas, medicina geral e familiar -, iremos abordar também temáticas de grande interesse nas áreas da Neurologia e Nefrologia.

 

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