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Transformar raízes em futuro

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Nas Aldeias do Xisto, a inovação nasce da terra e das pessoas. Sob a liderança de Paulo Fernandes, a ADXTUR tem transformado o território num verdadeiro laboratório vivo, onde tradição, conhecimento e criatividade convergem para gerar valor, atrair novos públicos e inspirar uma nova cultura de habitar e empreender no interior de Portugal.

De que forma a ADXTUR tem incentivado uma cultura de inovação e experimentação, centrada nos recursos endógenos das Aldeias do Xisto, e que impacto tem observado na identidade e atratividade do território?​

A ADXTUR tem vindo a consolidar o território das Aldeias do Xisto como um verdadeiro laboratório vivo, onde a inovação não é um conceito abstrato, mas uma prática quotidiana enraizada na nossa identidade territorial. Esta abordagem assenta numa metodologia de learning-by-doing, que cruza saberes tradicionais com ciência, artes e tecnologia, transformando recursos endógenos em ativos de desenvolvimento contemporâneo.  Os impactos registam-se ao nível do reforço da identidade contemporânea do território e consolidação de uma narrativa de autenticidade; da criação de novos produtos e marcas que aumentam a atratividade e diferenciam o destino e da abertura a novos públicos. Mas, talvez o mais importante, seja o aumento significativo da autoestima territorial, acompanhado pela emergência de novas redes de colaboração entre agentes públicos, privados, comunidade e academia.

 

Paulo Fernandes, Presidente da Direção

 

Qual tem sido o papel dos produtos endógenos na afirmação da marca territorial Aldeias do Xisto?​

As Aldeias do Xisto tem hoje apoios do programa PROVERE no âmbito dos fundos estruturais para a região Centro exatamente pelo valor e distinção que tem este território e todo o seu entorno enquanto paisagem cultural e natural. Deixamos alguns exemplos que permitem trabalhar diferentes segmentos:

– No empreendedorismo criativo e no craft, destaco a Casa das Tecedeiras, em Janeiro de Cima, onde a tecelagem contemporânea se afirmou como produto distintivo, e a Cerdeira – Home for Creativity, um projeto âncora nas artes e ofícios (cerâmica, madeira) que atrai artistas residentes de todo o mundo, gerando dinâmica económica e cultural.

– O astroturismo constitui uma das apostas mais inovadoras. Através da certificação Starlight Aldeias do Xisto, e do projeto Geoscope, queremos «semear o céu com ideias» e tirar o melhor partido do céu escuro, sem poluição luminosa. Este é um exemplo de como foi possível transformar uma aparente fragilidade – a ausência de infraestrutura urbana – numa vantagem competitiva, envolvendo comunidade, investigadores e operadores turísticos.

– Noutra perspetiva, importa salientar o apoio a projetos de regeneração florestal e gestão sustentável do território, em que se inserem projetos como a  Maternidade de Árvores e ainda o Rebanho Comunitário promovido pela associação Lousitânea. Estes projetos não só contribuem para a prevenção de incêndios e a valorização da paisagem, mas também geram oportunidades económicas e envolvem a comunidade num esforço coletivo de resiliência.

– No turismo ativo, as empresas de animação (trail, BTT, canoagem), os centros de BTT e o Bikotel – que foi uma inovação pioneira em Portugal – consolidaram as Aldeias do Xisto como destino de turismo ativo.

– No turismo cultural, em que se insere o turismo gastronómico, a iniciativa À Mesa com as Aldeias do Xisto e a valorização de produtos endógenos através de cartas gastronómicas e produtos de base local têm sido essenciais para afirmar a identidade territorial e criar valor acrescentado. Não se trata apenas de comercializar produtos, mas de transmitir narrativas, memórias e práticas culturais.

Os produtos endógenos funcionam como verdadeiros “embaixadores culturais” da marca Aldeias do Xisto. São objetos contemporâneos que traduzem os valores do território e contam a sua história, estabelecendo uma ponte entre a tradição e a contemporaneidade.

 

 

 

Que prioridades guiam a atuação da ADXTUR para assegurar a atratividade, retenção populacional e valorização identitária das aldeias, num contexto de mudança e incerteza?

A atuação da ADXTUR tem no desenvolvimento integrado do território a sua primeira linha de intervenção, afirmando-se como uma agência de desenvolvimento multinível sem nunca esquecer a articulação entre pessoas, comunidade e o território do Pinhal Interior.

A nossa visão estratégica assenta na compreensão de que o território das Aldeias do Xisto deve afirmar-se como um ecossistema de aprendizagem e fixação, onde as pessoas encontrem não apenas um lugar para viver, mas condições para trabalhar, criar, investir e realizar-se plenamente.

A primeira prioridade passa pela diversificação residencial e pela captação de novos moradores. Desenvolvemos uma estratégia baseada na trilogia Descobrir, Experimentar, Investir, que permite às pessoas conhecerem o território de forma progressiva – desde uma primeira visita turística, passando por experiências mais prolongadas de imersão (co-working, co-living, programas de residência, estadias longas), até à decisão de investimento e fixação definitiva.

A segunda prioridade é a sustentabilidade ambiental e energética. Valorizamos os recursos naturais numa lógica de gestão integrada de risco, preparando o território para enfrentar eventos climáticos extremos e desafios demográficos. As Aldeias do Xisto devem posicionar-se como modelo de sustentabilidade, onde práticas ancestrais de gestão da paisagem se combinam com inovação tecnológica – energias renováveis, eficiência hídrica, economia circular.  A terceira prioridade é a consolidação do território como plataforma de inovação e empreendedorismo. Queremos que as Aldeias do Xisto sejam reconhecidas como um destino onde é possível testar ideias, desenvolver projetos e escalar negócios assentes em recursos endógenos.

 

 

Quais são os principais fatores da resiliência territorial que permitem à rede das Aldeias do Xisto enfrentar ciclos de declínio económico e social, reinventando o seu posicionamento enquanto destino turístico e rural de referência?

A resiliência territorial das Aldeias do Xisto assenta em cinco fatores estruturais que nos permitem atravessar períodos de crise sem perder capacidade de atuação e, mais importante ainda, sair desses períodos com novas respostas e posicionamentos. Um modelo de governação que distribui o risco e aumenta capacidade de ação. A rede junta 28 aldeias, mais de 100 agentes privados e a comunidade numa estrutura única – a ADXTUR. Em rede, o território ganha massa crítica, coordena recursos, estabiliza estratégias e evita ruturas nos ciclos políticos. Isto permite-nos atravessar períodos de declínio sem perder capacidade de atuar, porque a rede garante continuidade institucional e financeira. Acrescem ainda os seguintes fatores:

– Capacidade de transformar recursos endógenos em produtores inovadores. Os saberes, materiais e práticas locais não são apenas preservados – são usados como base de criação. A inovação (design, arte, tecnologia, ciência) adiciona valor ao que já existe, em vez de o substituir. Isto torna-nos menos vulneráveis a flutuações de mercado, porque o nosso produto é inimitável.

– Infraestruturas de animação permanente que permitem reativação e readaptação rápida à procura. Os percursos pedestres e BTT – 2.000 km marcados – centros de BTT, praias fluviais, fab labs, ateliers, equipamentos culturais, rede de alojamento e lojas atraem turistas, suportam empresas, permitem realizar eventos, ativam comunidades. Estas infraestruturas mantêm-se operacionais e prontas a responder às oscilações e adaptam-se às tendências da procura.

– Apropriação comunitária que gera valor social e cultural. A comunidade não é público-alvo, é parte ativa do projeto. Há um sentimento de pertença e orgulho territorial que se traduz em envolvimento ativo, capacidade de iniciativa local e resistência a processos de despovoamento. As pessoas sentem que o território tem futuro, e isso faz toda a diferença.

– Uma marca justa construída sobre valores que permitem adaptação: autenticidade; criatividade; natureza; ciência; cultura. Isto permite-nos responder a numa das maiores tendências dos nossos tempos: a transição justa urbana / rural.

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