Sustentabilidade no futuro da aviação

Mário Lobato de Faria, Diretor-Geral da Portugália Airlines, destacou as iniciativas da companhia para reduzir a pegada ambiental e integrar a transformação digital nas suas operações. Com foco na eficiência e na segurança, a empresa compromete-se a acompanhar a descarbonização do setor e a investir em tecnologias emergentes para assegurar a competitividade e a longevidade da companhia.

 

Mário Lobato de Faria, Diretor-Geral

 

Dado que a sustentabilidade é um dos tópicos centrais do Portugal Air Summit 2024, como é que a Portugália Airlines está a reduzir a sua pegada ambiental e a diminuir as emissões de carbono?

A pegada ambiental é um dos pilares da sustentabilidade de qualquer organização e a Portugália Airlines não foge à regra. O nosso foco tem sido sobretudo ao nível Operacional, através da gestão rigorosa que os nossos Pilotos fazem da utilização do combustível das aeronaves ao longo de cada voo. A utilização de ferramentas digitais permite-nos aferir o desempenho em termos gerais e avaliar a efetividade das medidas que vão sendo implementadas, bem como dotar cada Piloto de informação da sua performance em cada voo. Neste momento estão em curso estudos para avaliar modificações que permitam reduzir o peso das aeronaves. De referir, ainda, que nos associámos à TAP no propósito de obtermos a certificação IEnvA da IATA, baseada num assessment ambiental. Este objetivo vai sobretudo permitir tornar mais claros aqueles que são os nossos objetivos ambientais, a forma como nos propomos cumpri-los e a taxa de adesão a esses mesmos propósitos. No médio prazo, a substituição da atual frota por aeronaves de nova geração, contribuirá, seguramente, para uma redução adicional da nossa pegada ambiental.

A transformação digital é outro tema crucial do Portugal Air Summit 2024. De que forma a digitalização tem sido integrada nos processos operacionais e na experiência dos passageiros da Portugália Airlines? Quais as tecnologias emergentes que estão a ser exploradas para melhorar a eficiência e segurança das operações, e como é que a companhia vê o futuro da aviação regional neste contexto?

Desde sempre que a Portugália tem procurado “surfar” a onda digital, com o objetivo de otimizar as suas operações através de processos mais eficientes e eficazes. As aplicações são várias e tocam aspetos como a Aeronavegabilidade, Logística, Manutenção, Operações de Voo, Planeamento de Tripulações e de Refeições a bordo, Informação aos Pilotos e Tripulantes de Cabina, Safety, Security, Compliance, Gestão Documental, bem como Formação e Gestão das ações formativas. Naturalmente, todos estes contributos permitem uma experiência melhorada do passageiro, em termos de segurança, conforto, pontualidade e conetividade. Contudo, considero que o elemento humano continua a desempenhar um papel crucial na experiência dos nossos passageiros e o zelo, carinho, flexibilidade e profissionalismo dos nossos trabalhadores reflete o NPS da satisfação dos nossos passageiros. Em termos de tecnologias, cada vez mais são aquelas que se socorrem de IA, realidade virtual e realidade aumentada, e estas começam a estar presentes nas aplicações que utilizamos! No entanto, continua a ser fundamental garantir primeiro a desmaterialização dos processos, a recolha e armazenagem exaustiva de dados e, não menos importante, a formação das nossas Pessoas na utilização das ferramentas que colocamos à sua disposição, sob pena de não extrairmos todo o potencial dos investimentos que fazemos. A aviação regional não pode e não irá manter-se à parte dos desenvolvimentos tecnológicos em curso. Por vezes, poderá ser mais difícil justificar determinados investimentos e os ganhos com a aplicação de certas tecnologias, mas com maior ou menor taxa de implementação a aviação regional adotará o curso das novas e futuras tecnologias, até por vezes de modo mais efetivo que as restantes Companhias Aéreas, dada a maior flexibilidade e agilidade, próprias de Organizações menores.

 

 

 

Com a crescente competitividade no setor aeronáutico e o papel central do Portugal Air Summit na discussão sobre o futuro da aviação, qual é a visão estratégica da Portugália Airlines para os próximos anos face à competitividade do setor e às tendências como a descarbonização e novas regulamentações europeias?

O facto de fazermos parte do Grupo TAP significa que a estratégia da Portugália Airlines está necessariamente ligada à estratégia da TAP, no que respeita aos desafios que se colocam à aviação comercial. Deste modo, a nossa principal preocupação é constituirmos valor para o Grupo e, como tal, o nosso foco está sobretudo na flexibilidade e capacidade de resposta, requeridas pela Rede da TAP, com custos competitivos. No que concerne aos temas ambientais, a TAP definiu como um dos seus cinco pilares para a Sustentabilidade, o do Planeta e, nesse sentido, a Portugália Airlines não só acompanhará as medidas que a TAP implementar e lhe sejam aplicáveis, como continuará a procurar outras formas de corresponder ao objetivo de carbono zero em 2050 e da redução da sua pegada ambiental.

O Portugal Air Summit é também uma plataforma para discutir investimentos e inovações tecnológicas. Quais são os planos da Portugália Airlines para investimentos futuros em aeronaves, infraestruturas e tecnologias emergentes? Que impacto espera que estas inovações tenham na operação, no serviço ao cliente e na longevidade da empresa?

Como já referi, a questão da nova frota, apesar de estar no nosso radar, poderá ainda demorar três a quatro anos a concretizar-se. Quanto a infraestruturas prosseguimos com a intenção de termos um simulador próprio, mas temos que obviamente ter um Business Case que justifique um investimento tão importante e é nisso que estamos a trabalhar presentemente. Ainda ao nível das infraestruturas continuamos a avaliar opções que nos permitam dotar da capacidade de realizarmos internamente todas as inspeções de Manutenção de Base, evitando desta forma o recurso à contratação destas ações de manutenção a terceiros ou o aluguer de slots de hangar. Sobre as tecnologias emergentes, para além de um conjunto de desenvolvimentos aplicacionais que estão em curso, concluímos muito recentemente a introdução da caderneta técnica eletrónica que nos permitirá conhecer em real time as queixas reportadas pelas tripulações técnicas e com isso melhorar a prontidão e capacidade de resposta da Manutenção aos problemas técnicos das aeronaves. Quase em simultâneo introduzimos o conceito de Cabina Digital que irá dotar os Chefes de Cabina de uma ferramenta com diversas vantagens operacionais na preparação e gestão dos voos, dando acesso a informação do voo e documentação atualizada, bem como efetuar relatórios de voo imediatamente após o final dos mesmos, sendo estes enviados para as áreas pertinentes em real time permitindo uma ação mais célere na tomada das ações necessárias. Não entendemos que a adesão ao mundo digital seja um nice to have, mas sim um must have. Tratando-se de investimentos significativos, em muitos dos casos, temos de ser ponderados na seleção dos mesmos e como investimentos que são, os mesmos têm de ter um retorno quer ao nível da eficiência operacional, da experiência dos nossos passageiros e trabalhadores e dos nossos custos e estas realidades não serão, em muitos dos casos, afetadas de forma independente. Acreditamos que cuidar do Planeta, dos nossos Passageiros e das nossas Pessoas, enquanto somos competitivos, é uma abordagem robusta para nos garantir a desejada Sustentabilidade e com ela uma longevidade promissora.

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