O equilíbrio perfeito entre a criatividade e a tecnologia
Em entrevista à Revista Business Portugal, Joana Meireles, Co-Founder e CEO da JMR Digital, traça um balanço extremamente positivo deste último ano, destacando a distinção nos Prémios Lusófonos da Criatividade, a contratação de novos talentos e a inauguração do escritório na cidade do Porto.
Começando pelo seu percurso profissional, recheado de experiências na área do Marketing Digital, como é que surgiu o interesse por este sector de atividade? De que forma caracteriza o momento em que entra no mercado de trabalho e dá os primeiros passos enquanto profissional?
Desde o meu primeiro contacto com o mercado de trabalho, em Barcelona, em 2009, percebi que o Marketing Digital era, nesse então, o futuro do Marketing. Basta ver as empresas e os visionários que marcaram as últimas décadas, como o Facebook, a Google, a Tesla e Apple, todos eles ligados às tecnologias e à evolução do comportamento do consumidor, ou se quisermos, do comportamento humano. E, não foi por acaso, que as minhas primeiras experiências foram com empresas no sector tecnológico, desde gerir a estratégia digital da Red Hat, a organização de eventos, em Londres, da Consultora Gartner até à empresa Americana HP, onde lidei com gestão de contas, na Península Ibérica, tal como a Seat, o Santander, a Securitas e o Mercadona. Depois disso, não tive dúvidas de que me queria focar no Marketing Digital. Em 2012, surgiu uma oportunidade em Amsterdão, como Account Executive em agência, que me levou a mais seis anos de consolidação como especialista, tanto do lado do mundo de corporate, como do lado de agência, até 2017, quando decidi criar o projeto da JMR.
Fundar o próprio negócio, nomeadamente, nesta área, sempre foi um objetivo que quis concretizar? Como e quando nasce a JMR Digital e que papel veio assumir no universo do Marketing Digital?
Desde cedo que a ideia de ter o meu próprio negócio me atraiu, sempre optei por desafios e por questionar o status quo. Em 2015, tive a minha primeira experiência com a aventura que é o empreendedorismo, ao lançar uma loja online, a My Petite Style. Aprendi muito sobre gestão de negócios, nomeadamente, no universo digital. Aprendizagens que, até aos dias de hoje, me são úteis. Permitem-me uma empatia natural pelas necessidades de negócios dos meus clientes, em particular na área do e-commerce, e saber de que forma o Marketing os pode ajudar a atingir as metas que procuram.
A JMR nasceu em 2017, em Amsterdão, quando trabalhava num grupo holandês, AudioNova, grupo no ramo de healthcare e retail, ao qual pertencia a empresa portuguesa Minisom. Era responsável por dirigir várias agências, nomeadamente, na Holanda, Dinamarca e Portugal, alinhada com a sede e os Diretores de Marketing em cada país. Já tendo trabalhado em agência, este outro lado, sempre me pareceu mais desafiante. Assim que senti que era o melhor momento para reunir esta visão de 360 graus, aliado à minha vontade de ter o meu próprio negócio, não hesitei, nem por um segundo, quando senti que se propunha o momento ideal. Abri a JMR e, no ano seguinte, junta-se a mim o meu sócio holandês, o Mischa Rinck, que trabalhava comigo no grupo suíço, que entretanto já tinha absorvido a AudioNova, o Grupo Sonova. Conseguimos trazer imediatamente connosco uma carteira de clientes, dentro desse grupo, clientes esses que fazem parte desta aventura e, seis anos mais tarde, continuam a confiar-nos as suas campanhas de automação de Marketing. E isso tem um valor imensurável.
Qual a análise que faz do percurso da empresa, durante este último ano? As expectativas que tinham no início acabaram por ser superadas?
Sem dúvida que as expectativas foram superadas e o balanço é extremamente positivo, não só pela inauguração do nosso primeiro escritório, na emblemática Foz do Porto, mas também pela contratação de cinco promissores talentos nacionais (e outros tantos internacionais), o que nos permitiu também fortalecer o nosso departamento criativo.
A cereja no topo do bolo foi, sem dúvida, o prémio recebido nos conceituados Prémios Lusófonos da Criatividade e o privilégio de recebermos o convite para fazermos parte do painel de jurados do Lisbon Awards Group. Para nós, foi um sinal de enorme reconhecimento por parte da indústria nacional e uma excelente forma de celebrar a nossa chegada.
A JMR Digital está sediada em Amsterdão, mas possui escritórios em Roterdão, também nos Países Baixos, e na cidade do Porto, em Portugal. É desta forma que alcançam, cada vez mais, clientes internacionais? Há planos para abrir escritórios noutras cidades europeias?
Neste momento, o foco é de solidificar a nossa agência em Portugal, planos para abrir escritórios não descartamos, temos tido cada vez mais procura de clientes dos Estados Unidos e Canadá, quem sabe se um escritório do outro lado do Atlântico não poderá surgir nos nossos planos. Desde o primeiro dia, o ADN da JMR sempre foi internacional e de caracter luso-holandês. Desde logo, implementámos o modelo de trabalho híbrido, tanto com a equipa, como com os nossos clientes, que se espalham desde os Estados Unidos, Itália, Bélgica, até ao Dubai. Este modelo pareceu-nos muito orgânico e, ainda para mais, no universo do digital e tendo o foco em projetos internacionais. O primeiro contacto com a ideia de nos focarmos em Portugal, surgiu com a nossa parceria com a agência IN.TO Digital, onde nasceu, em 2019, o projeto que me é muito querido, a into.jmr. Através desta parceria, as oportunidades começaram a aumentar, cada vez mais, com clientes do Brasil e Portugal.
Nessa altura, já um dos nossos Marketing Automation Specialists estava a trabalhar no Porto (em trabalho remoto) com bastante sucesso, por isso, começou a fazer cada vez mais sentido a espansão da equipa local. Com a inauguração do nosso espaço no Porto, estamos muito satisfeitos por comprovar com este modelo de gestão, também ele híbrido, a produtividade e a satisfação da nossa equipa são notoriamente positivos. O meu objetivo foi trazer estas oportunidades ao excelente talento que temos em Portugal e, ao mesmo tempo, sermos disruptivos, tanto na cultura da agência, como neste modelo de gestão, que é visto como o futuro depois da pandemia, mas no qual a JMR aposta desde sempre.
Tendo em consideração que o trabalho que a empresa desenvolve exige, naturalmente, um elevado conhecimento ao nível das novas tecnologias e da forma como estas podem ser úteis e rentáveis, quais as estratégias que utilizam para se manterem sempre atualizados? A aposta na formação constante da equipa é uma preocupação?
A constante aposta na formação da nossa equipa é uma das nossas maiores preocupações, sem dúvida. Deixamos ao dispor de todos ferramentas que permitam o crescimento e especialização, tanto dentro da agência, como para o futuro das suas carreiras e objetivos profissionais. A JMR sempre se destacou pelos conhecimentos aprofundados na área da tecnologia, acreditamos que as soluções técnicas também requerem criatividade, na hora de desenvolver soluções para os nossos clientes.
No seu ponto de vista, quais é que são os fatores diferenciadores da JMR Digital? Qual o método que utilizam para fazer com que os vossos clientes usufruam de todo o seu potencial no digital?
Quando criei a agência, há mais de cinco anos, fi-lo porque senti que existia um grande gap no que tocava a soluções 360º no Marketing Digital e de Alta Performance. Gosto de pensar que, ainda hoje, esse é um aspeto que nos diferencia de todas as outras agências. Esse equilíbrio “quase” perfeito entre criatividade e tecnologia, e essa metodologia forward thinking que colocamos em prática em cada projeto.
Depois também acredito que os nossos valores são disruptivos. Somos completamente contra as soluções copy/paste e o abuso de buzzwords. Já para não mencionar que nunca fazemos promessas que não podemos cumprir a 100%. Seguimos muito a filosofia de What you see is what you get, transparência máxima e foco nos resultados de negócio dos nossos clientes, o que acaba por fortalecer a confiança entre ambos. E prova disso é o nosso sucesso em retenção de clientes. Cada solução é pensada e personalizada de acordo com cada projeto. Daí, nos intitularmos de Agência Boutique, tanto internamente, como na relação com os nossos clientes. Para manter essa essência de boutique, fazemos questão de manter uma equipa pequena, constituída apenas por talentos especializados e escolhidos a dedo (sem um mar de estagiários por detrás). Acreditamos que cada projeto é único e tem necessidades diferentes, e os resultados são sempre muito mais rentáveis quando tudo é estudado ao pormenor.
Internamente, a nossa individualidade transparece na importância que damos às pessoas que trabalham connosco e à forma como priorizamos o bem-estar e a saúde mental dos nossos talentos. A eles também não fazemos promessas que não podemos cumprir. Quando existe um equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional, a responsabilidade aliada à liberdade, a motivação e o desempenho fluem naturalmente. A parte mais gratificante, para mim, é ver como os conhecimentos e os valores da JMR se difundem tão claramente através da nossa equipa, além-fronteiras.
Recentemente, foram distinguidos com o Prémio Lusófono da Criatividade. Qual o significado do prémio para a equipa e que notoriedade vos trouxe? Pretendem continuar a apostar na participação em prémios nacionais e internacionais?
Indiscutivelmente, este primeiro prémio tão conceituado na categoria de Branding, logo após a nossa chegada a Portugal, trouxe-nos bastante visibilidade e notoriedade na indústria. Desde a divulgação dos resultados que temos recebido muitos novos contactos de empresas e marcas portuguesas interessadas em trabalhar connosco, e tudo de forma bastante orgânica. E claro que as reações que temos tido nas nossas redes sociais são igualmente positivas, o que nos deixa muitíssimo orgulhosos do nosso trabalho.
Acredita que, nos próximos tempos, as empresas que ainda não apostaram no digital terão, obrigatoriamente, de o fazer? Em que medida é que estas ficam em desvantagem perante as outras?
Pessoalmente, parece-me impensável sequer que alguma empresa pondere a “não presença” no digital, nos dias de hoje. Se acreditarem que essa possa ser uma realidade, enganam-se. Qualquer pessoa, no mundo ocidental, de qualquer situação demográfica, geográfica e diferentes tipos de interesses, todas elas existem e vivem no universo digital. Nessa lógica, a única opção das empresas, transversal a qualquer sector, é optarem por não ter controlo da sua narrativa no digital, nem da relação com os seus clientes e potenciais clientes. Porque as suas audiências estão bem presentes neste universo e é lá que vão procurar informação, credibilidade e referências de qualquer profissional ou marca. Não aceitam ser enganados, estão cientes dos seus direitos e exigem esse direito à informação. Se estão numa loja física, é no telemóvel que procuram informação imediata, até nas compras impulsivas. Desde as decisões mais mundanas, como a seleção de um restaurante, o horário da bomba de gasolina, até às decisões determinantes, como a educação dos seus filhos, a viagem de família que tanto aguardavam, até relações com profissionais de saúde, impreterivelmente, o comportamento do consumidor subsiste no mundo online. Eu diria que a epifania dos dois mundos está muito bem retratada nos spots publicitários que passaram a ser usados como um canal, para levar os consumidores aos canais digitais, na televisão que luta pelos espaços publicitários nas plataformas digitais, para aumentar as audiências dos seus canais televisivos. Mas, prova mais irrefutável de tudo isto, é como as nossas vidas quase se tornaram dependentes dos recursos digitais e da tecnologia durante a pandemia, para responder às necessidades mais básicas e essenciais, desde a alimentação, a educação e a assistência médica, até às ligações humanas e luta pela sanidade mental, naqueles tempos de isolamento imposto.
Para concluir, a minha resposta é sim, as empresas terão, obrigatoriamente, de apostar no digital. A falta de informação, de uma voz, de transparência e consistência nas suas mensagens, será muito prejudicial para qualquer empresa. Isto porque vai dar asas a uma narrativa 100% controlada pelos seus consumidores e uma falta de diálogo que, hoje em dia, não é aceite nesta era de informação digital.
Uma vez que possui vários anos de experiência na área, quais considera que são os principais desafios de trabalhar em Marketing Digital?
Infelizmente, em Portugal, não só o Marketing Digital, mas o Marketing, em geral, ainda é jovem, ainda está na fase do adolescente incompreendido. Ainda temos um longo caminho pela frente. Penso que, especialmente na Europa, os recursos alocados ao Marketing ainda são considerados, por muitas empresas, quase como um luxo, em vez de ser entendido como um caminho obrigatório para obter resultados consistentes e sustentáveis de qualquer negócio.
É exatamente isso de que se trata o Marketing Digital, soluções tecnológicas aliadas à criatividade, que permitem às marcas oferecer aos seus consumidores experiências que os levam a querer voltar, o que no fundo é o segredo de qualquer negócio. Este é o nosso maior desafio, convencer as empresas de que não existe um canal mágico, the next big thing, quando aparecem novas plataformas como a febre do TikTok por exemplo, procuram as agências “ouvi falar neste novo canal, quero uma estratégia de vendas focada neste canal, porque é o que está a dar”. Mas lá está, não se trata de um canal isolado, nem uma plataforma mágica, trata-se de consistência em todos os touchpoints, por onde passam os consumidores e a comunicação criativa, para que se destaquem. Os contactos com as marcas não são atos isolados nem alienados, trata-se da combinação de todo e qualquer contacto com a marca ou empresa, desde um artigo na revista até ao post nas redes sociais, até ao call center que faz o follow-up telefónico da marcação no website, que termina no atendimento ao cliente, na loja. Por isso, a nossa filosofia é sempre virar a pergunta para quem chega até nós: pretendem publicidade no Google ou querem resultados de negócio? Confiem em nós, como especialistas, para nos focarmos e atualizarmos nas tecnologias, para distribuir os recursos disponíveis numa estratégia multi-channel e criar conteúdos criativos que se destacam e permitem alcançar as metas que nos transmitem. Enquanto os seus gestores ganham tempo para se focarem no que sabem fazer melhor.
Em termos futuros, por onde passam os planos da JMR Digital? Que projetos e planos estão em curso? E que objetivos ambicionam concretizar?
O nosso maior objetivo é continuar a crescer, nacional e internacionalmente. Mas queremos fazê-lo de forma sustentável e mantendo sempre a nossa cultura de agência e essência de boutique. Gostaríamos de fortalecer o elo entre o mercado português e o mercado holandês, trazer mais contas portuguesas para a nossa carteira de clientes. E, finalmente, melhorar a reputação do universo de agência em Portugal (que infelizmente ainda é um pouco pejorativa), transmitindo alguns dos nossos valores para a cultura de agências no país. Infelizmente, chegam-nos cada vez mais clientes com péssimas experiências com agências, que têm vindo a fazer algum dano à nossa reputação e que alimenta uma cultura que considero pouco saudável.
Oferecem serviços a valores exorbitantemente baixos e a única forma de o fazer é dando condições precárias aos seus talentos e uma qualidade de serviço que, mais tarde ou mais cedo, não tem qualquer sustento. De uma forma mais abrangente, queremos fazer parte desta transformação digital em Portugal, aliando-nos a associações como a APPM, que têm como propósito afirmar a importância da função do Marketing e a clientes que partilham os mesmos valores e propósitos.
Por último, queremos continuar a gerar resultados inovadores e relações fortes e duradouras com os nossos clientes, não fosse esse o nosso foco principal. Cumprindo estes objetivos, todos os outros virão de forma natural.