Ana Sauri Gardete, Advogada com 12 anos de experiência, partilha a sua visão sobre a evolução da presença feminina na advocacia, os desafios para a igualdade de género e o impacto da inovação tecnológica na profissão.

Nos últimos anos, o número de mulheres no setor jurídico tem vindo a crescer, algo que Ana Sauri Gardete vê com grande satisfação. “Cada vez que vou ao tribunal ou interajo com outros profissionais, vejo colegas mulheres em papéis de liderança, o que reflete uma evolução positiva”, revela. Um dos maiores marcos desta evolução é a crescente presença feminina em cargos de liderança, como a Bastonária da Ordem dos Advogados, algo que outrora parecia impensável.
Contudo, sublinha que a desigualdade de género continua a ser um obstáculo. “As mulheres, especialmente, têm de enfrentar a difícil tarefa de conciliar a vida profissional com a pessoal, o que implica um esforço considerável, principalmente num setor tão exigente como o jurídico”, explica. Este desafio é agravado pelas responsabilidades familiares que recaem, de forma desproporcional, sobre as mulheres. Além disso, ainda persiste a discriminação associada à idade e à possibilidade de uma mulher ser mãe. No entanto a advogada refere que, pessoalmente, não tem vivenciado discriminação direta. “Vejo com grande satisfação a diminuição dessa desigualdade e o caminho que as mulheres estão a trilhar, com determinação, para ocupar cargos de liderança”, conclui.
Combate à discriminação
A luta contra a desigualdade de género no ambiente de trabalho preocupa Ana Sauri Gardete, que acredita ser fundamental reforçar as legislações existentes para combater comportamentos discriminatórios. A advogada defende que a implementação de sanções mais severas e eficazes para as empresas que perpetuam essas práticas seria um passo crucial. “Não podemos tolerar comportamentos discriminatórios que configuram uma violação dos direitos de igualdade”.
Outro ponto importante é a desigualdade salarial: “É inaceitável que, ainda hoje, se verifiquem disparidades salariais para funções, cargos e responsabilidades iguais”, defende.
Justiça social
Para Ana Sauri Gardete, a advocacia tem um papel central na promoção da justiça social, sobretudo no combate às desigualdades no acesso à justiça. A advogada salienta que ainda existe a ideia de que a justiça é diferente para quem tem mais recursos financeiros. “Esta assimetria ainda existe, mas tem vindo a ser combatida ao longo dos anos”, referindo a importância da nomeação de advogados oficiosos, que garantem a defesa de cidadãos com menos recursos financeiros.
Na sua prática, não faz distinção entre os seus clientes particulares e os nomeados no âmbito do Acesso ao Direito, programa de parceria entre a Segurança Social e a Ordem dos Advogados. “Todos são clientes, todos merecem a mesma dedicação e empenho”, assegura.
Tecnologia e inovação
A transformação digital tem impactado a advocacia: “A inteligência artificial é ótima desde que utilizada da forma correta. Nós temos o ChatGPT e outras técnicas que nos podem ajudar na nossa profissão, desde que usados com conta, peso e medida”, explica.
O uso de plataformas digitais tem simplificado processos burocráticos, como é o caso dos processos para obtenção de nacionalidade, e possibilitado reuniões por Zoom ou Teams, o que tem reduzido custos e deslocações desnecessárias. Contudo, alerta para os riscos da dependência excessiva da tecnologia: “A máquina não se pode substituir a um olho humano. Ainda têm muitas falhas e muitas gralhas, que só podem ser detetadas por nós”.
O futuro
Acredita que o futuro da advocacia exige melhorias nas condições de trabalho dos advogados, existindo ainda disparidades dentro da profissão: “Se nós, dentro da nossa classe, criamos desigualdades, como é que pretendemos almejar uma igualdade perante o olhar público?”. Além disso, defende uma advocacia mais próxima das pessoas: “A profissão tem de se tornar cada vez mais próxima dos clientes, porque é isso que as pessoas procuram. Quando vão a um advogado, procuram, no fundo, um amigo do outro lado, que os compreenda e em quem possam confiar”. A profissão está em constante evolução, e o caminho para a igualdade e modernização é longo, mas possível. A voz de advogadas como Ana Sauri Gardete é fundamental para que a justiça seja, de facto, um direito para todos.