O AVC tem de ser uma prioridade nacional
Apesar dos significativos avanços no tratamento do AVC, a prevenção continua a ser a nossa maior arma.
A cada 29 de outubro, o Dia Mundial do AVC serve de alerta para um dos maiores problemas de saúde pública. Em Portugal o AVC é a principal causa de mortalidade e de incapacidade a longo prazo em adultos. Além disso, a doença cerebrovascular é também a principal causa de demência no nosso país. No entanto, o impacto desta doença vai muito além dos números, afetando de forma devastadora famílias e comunidades e condicionando uma pesada carga para os serviços de saúde e serviços sociais. A cada hora, três pessoas sofrem um AVC em Portugal.
Apesar dos significativos avanços no tratamento do AVC, a prevenção continua a ser a nossa maior arma. Cerca de 90% dos fatores de risco associados ao AVC, como a hipertensão, o tabagismo, a diabetes e o sedentarismo, são evitáveis. É urgente agir de forma coordenada e intensificar os esforços para educar e mobilizar as pessoas para que adotem hábitos de vida mais saudáveis e controlem os fatores de risco.
O tratamento do AVC em Portugal tem evoluído bastante nos últimos anos. A criação de unidades de AVC e o progresso na implementação de terapias como a trombólise e a trombectomia mecânica têm permitido salvar vidas e melhorar a recuperação de milhares de doentes. No entanto, existe ainda um longo caminho a percorrer. Sabemos que apenas cerca de metade dos doentes com AVC tem acesso a internamento em Unidade de AVC e que a proporção de doentes que recebem trombólise endovenosa está ainda aquém do esperado. Conforme dados recentes recolhidos no estudo nacional “PANORAMA-AVC”, só cerca de 40% dos doentes com AVC foi reavaliado em consulta especializada nos primeiros três meses após alta.
Outro ponto crucial é a reabilitação pós-AVC. Para muitos sobreviventes, a recuperação é um processo longo e difícil, que exige o apoio dos profissionais de saúde, das suas famílias e da comunidade. A reabilitação, contudo, é essencial para restaurar a funcionalidade e proporcionar uma melhor qualidade de vida.
Ao refletirmos sobre o impacto do AVC no nosso país, é também fundamental olharmos para o futuro. Fruto da investigação científica, têm sido feitos progressos notáveis na compreensão da doença, e novas terapêuticas estão a ser desenvolvidas para melhorar a prevenção e o tratamento. No entanto, é essencial que estes avanços sejam implementados a nível nacional, tanto através da participação ativa em investigação translacional e clínica nesta área, como garantindo que os doentes portugueses tenham acesso à participação em ensaios clínicos e beneficiem da rápida aplicação das mais recentes descobertas científicas.
Este ano, o Dia Mundial do AVC será ainda marcado por uma iniciativa especial: a caminhada nacional “Pare o AVC, junte-se a nós”, promovida pela Sociedade Portuguesa do AVC (SPAVC), que também celebra 20 anos de dedicação a esta causa. No dia 27 de outubro, em várias cidades do país e nas ilhas, cidadãos, profissionais de saúde e representantes locais irão unir-se para sensibilizar para a prevenção do AVC e da demência vascular. Esta caminhada será uma oportunidade para todos se envolverem ativamente na promoção da saúde do cérebro. A cada passo, podemos reduzir o impacto da doença cerebrovascular nas nossas vidas e nas vidas daqueles que nos rodeiam.
Pode consultar mais informações sobre a “caminhada nacional do AVC” em: https://spavc.org/dia-mundial-do-avc-2024/