MGEN Seguros reforça aposta em Portugal

A MGEN chegou a Portugal em 2009 e tem conseguido, desde então, um crescimento assinalável, contando, atualmente, com cerca de 150 mil aderentes no nosso país. À frente desta entidade está Ricardo Raminhos, Administrador da MGEN em Portugal, que aos 46 anos fala com entusiasmo do que tem sido feito por uma entidade mutualista com origem em França e que se afirma distante do conceito de uma seguradora tradicional, desde logo porque “as pessoas protegidas na MGEN partilham o risco entre si e não o passam para terceiros”.

 

 

Ricardo Raminhos, Administrador da MGEN

 

 

Definindo o que é a MGEN, o nosso interlocutor dá conta de estarmos perante “uma seguradora não tradicional, de base mutualista, em que as pessoas protegidas na MGEN partilham o risco entre si. Numa seguradora tradicional, o risco é transferido para um terceiro com uma motivação lucrativa, mas, no caso da MGEN, não existe a típica triangologia de uma organização em sociedade anónima, com acionistas, clientes e colaboradores”.

Para Ricardo Raminhos, o ‘desenho’ da realidade da MGEN “torna tudo diferente”, explicando: “O que fazemos é em função do binómio formado entre os nossos colaboradores e os que são servidos por eles, os nossos aderentes. Só temos, por isso, dois lados na equação, o que torna tudo mais simples, seja nas tarifas ou nos serviços, e tudo é pensado para a satisfação dos aderentes”.

Com origem em França, a MGEN (Mutuelle Générale de L’Éducation Nationale) é uma mútua – “uma organização que não tem finalidade lucrativa, procurando antes conseguir um aprovisionamento para as catástrofes que possam acontecer” –, criada logo a seguir à II Guerra Mundial, quando o governo francês criou a segurança social e deixou os professores fora daquele serviço. “Os professores organizaram-se então numa mútua para se protegerem, procurando um mecanismo para partilhar o risco entre si, o que é, no fundo, o princípio básico do seguro de saúde, sem o propósito de gerar lucro, mas tão só de apoiar os que precisavam. Esse é ainda hoje o princípio que sobrevive na MGEN e que nos diferencia das seguradoras clássicas e tradicionais”, acrescenta Ricardo Raminhos, para quem o objetivo da MGEN passa hoje pelo reforço da sua presença em Portugal, após anos marcados, como refere, por um “crescimento avassalador”.

“Em 2015, tínhamos uma carteira de cerca de três milhões de euros de prémios e, hoje, temos uma carteira de 92 milhões, o que faz de nós a quinta maior seguradora na saúde em Portugal, sendo a nossa ambição posicionarmo-nos como líderes, ou pelo menos estarmos entre as três primeiras nos próximos quatro anos. Ora, isso resulta do facto das famílias portuguesas se terem apaixonado rapidamente pela MGEN, precisamente, porque temos esta postura de entreajuda, e todos os nossos contratos de saúde são desprovidos de discriminação, seja de idade, estado de saúde, condições pré-existentes, condições adquiridas à nascença ou condições congénitas, sendo tudo isso garantido de igual forma para todos”.

Ricardo Raminhos destaca esta realidade, ainda mais importante se nos lembrarmos que na atividade de uma seguradora “há riscos muito elevados”. E acrescenta: “Se eu, enquanto segurador, procurar selecionar o risco, obviamente que irei selecionar o risco que eu sei que é mais lucrativo e escuso de me preocupar com o que não traz lucro. Ora, isto é profundamente contrário aos pilares em que assenta a MGEN”.

Essa é, desde logo, uma grande diferença face ao que os concorrentes fazem, mas não fica por aí, até porque “temos uma estrutura horizontal e focada na satisfação do aderente. Possuímos uma representação democrática a quem eu presto contas, nomeadamente a Assembleia Geral de Representantes, eleita democraticamente pelas pessoas seguras, um organismo independente e com a capacidade de, por exemplo, aprovar ou não todo o clausulado geral que é aplicado a todos, sendo esse clausulado aquilo que as pessoas seguras desejam e manifestam para estarem protegidas”, sublinha.

“Veja-se o exemplo da psicologia e da psiquiatria, que durante décadas foram alvo de exclusão no mercado português e que garantimos desde a primeira hora aos nossos aderentes. Além disso, a medicina preventiva, obesidade mórbida, tratamento das varizes ou roncopatia, estão entre imensas coisas simples que, hoje, continuam a ser excluídas dos seguros de saúde e que os nossos contratos consideram”.

 

 

“A despesa das famílias em saúde
é elevada e desproporcional!”

 

A MGEN chega às pessoas de forma digital, pela Internet, mas também através dos acordos que possui com algumas entidades, como a Casa da Imprensa e diversos sindicatos, correto?

Tomando como exemplo a Casa da Imprensa, todos os seus associados estão protegidos na MGEN, desde 2011, o que tem permitindo a esta identidade a oferta de uma proteção bastante mais completa aos seus associados.

É esta simbiose com associações mutualistas, profissionais e sindicais, que têm muito na sua génese os mesmos princípios de dedicação aos seus associados, que tem permitido um “match” perfeito.

O mutualismo em Portugal é muito antigo, mas terá ainda margem de progressão?

Sem dúvida que sim. Creio mesmo que ainda falta mais integração e tecnologia. Veja-se que as pessoas não consomem nada hoje que não possua tecnologia e inteligência artificial embutidas. Ora, nós somos uma estrutura mutualista em Portugal, nascemos como entidade 100% digital, fomos a primeira seguradora de saúde a ter um percurso desde a subscrição até ao recebimento do reembolso na conta bancária com toda a gestão do contrato de seguro 100% digital. Esta facilidade da gestão do serviço, combinada com o princípio mutualista, tornou o nosso crescimento explosivo.

 

Abordar o mercado sem ter em conta pré-existências nem discriminações permite desafios particulares nessa abordagem inclusiva…

Há uma consequência e uma dificuldade, porque o mercado português é muito diferente. Em França, estamos todos a operar com as mesmas regras, enquanto em Portugal competimos por preço, com seguradoras tradicionais que podem escolher os riscos que lhes interessam e são para elas lucrativos.

Nós não fazemos isso e a solução é mesmo o mutualismo. Saber mutualizar, tanto nas famílias como nas empresas, cria, desde logo, na base, o princípio da distribuição de risco, que depois em larga escala se torna equilibrado.

É complicado colocar tudo isso em funcionamento em termos práticos?

Não é complicado, mas fazer o que fazemos não é compatível com as margens que a indústria seguradora pratica em Portugal onde, tipicamente, nos resultados combinados, já depois de tudo pago, 15% dos prémios vão para os acionistas. Nós trabalhamos com rácios que variam entre os 97% e os 100%, e a pequena margem que sobra é toda aplicada para provisionar situações futuras de grande risco, tal como aconteceu com a Covid. Quando a pandemia disparou, éramos a única seguradora que não tinha exclusão para a Covid, e começámos a pagar reembolsos de internamentos em hospitais privados desde o primeiro momento. Isso faz-se com os pequenos remanescentes que perduram ao longo do tempo porque nunca são distribuídos.

Certo é que a despesa em saúde ao nível familiar é cada vez mais elevada…

É elevada e desproporcional para o que a indústria hoje consegue fazer. A despesa na saúde em Portugal é qualquer coisa como 25 mil milhões de euros, o Estado gasta dois terços deste montante e o resto é pago, diretamente, pelas pessoas aos prestadores privados. As seguradoras, todas no seu conjunto, suportam apenas onze por cento do financiamento dos prestadores privados na saúde em Portugal, à volta de mil milhões de euros em prestações na saúde, o que implica que as famílias pagam mais de sete mil milhões de euros diretamente, valor denominado como “out of the pocket”.

O valor médio que um indivíduo gasta para ter acesso à saúde ronda os 1100 euros, isto enquanto o prémio médio na saúde em Portugal é de 300 euros nas empresas e 350 euros em particulares, valores que mostram uma discrepância enorme. Está tudo por fazer.

Atualmente, uma aptidão das pessoas em assinarem planos de saúde que, no entanto, não são seguros, mas simples cartões de descontos. O que tem a dizer sobre isto?

Sim, e a ASF tem muito trabalho a fazer para diferenciar as duas coisas e deixar bem claro o que é uma e o que é outra. Atualmente, depois da casa e do carro, e às vezes até à frente dessas despesas, está a despesa com a saúde, e quando oferecem à pessoa um desconto numa consulta médica, na qual ao invés de gastar 90 euros gasta apenas 60, as pessoas avançam por aí. O problema é que depois da consulta há um exame a fazer, um tratamento ou até um internamento, e o plano de saúde, o tal cartão que a pessoa adquiriu, já não responde a essas despesas.

A presença da MGEN em Portugal resultou na primeira experiência da mutualista francesa a nível internacional. Porquê em Portugal?

O projeto da MGEN em Portugal tornou-se no primeiro de internacionalização efetiva da seguradora a operar fora de França, ainda por cima num território em que todos os nossos concorrentes selecionam o risco e nós não o fazemos, mas foi uma experiência que correu muito bem. Já a opção por Portugal funcionou como um laboratório, um mercado que se apresentava como difícil, mas que era também visto como o melhor teste que podia ser feito de forma controlada pela sua dimensão. Foi difícil, porque as seguradoras selecionavam o risco e porque não havia nenhum concorrente mutualista a operar, mas foi positivo, de tal forma que a MGEN quer agora copiar este modelo para outras geografias.

O crescimento da MGEN, depois de Portugal, passa por apostas em Espanha e Dinamarca?

Em termos imediatos, sim. Depois, a partir do mercado português, iremos avançar para outras localizações, nomeadamente, Itália e Grécia, países com semelhanças com o território português.

Por agora, estamos a crescer em Portugal, onde já abrimos uma licença de seguradora – a MGEN Portugal Companhia de Seguros S.A. –, que, para além da saúde, tem a missão de acrescentar coisas que em França não fazemos e que vão posteriormente ser feitas em França a partir de Portugal, na área da responsabilidade civil, perdas pecuniárias e acidentes pessoais.

Que outras necessidades do mercado é que estão a surgir desde já às quais a MGEN procura dar resposta?

Particularmente importante nesta atividade é a prevenção, algo que ainda não está a ser feito devidamente. Falamos de um investimento desfasado no tempo, porque estamos a fazer prevenção hoje, mas os resultados podem aparecer apenas daqui a vinte ou mais anos, e, por via disso, a ASF está a fazer um trabalho que entendo fundamental, no estudo de uma solução padronizada para o equilíbrio entre o investimento a fazer agora na prevenção e os resultados que teremos lá mais à frente no tempo.

 

 

 

 

 

 

“Tecnologia e prevenção são os dois pilares

que vão transformar o mercado”

 

Olhando para a frente, quais os principais desafios que se antecipam para a MGEN?

Um dos principais desafios resulta da necessidade de resposta ao aumento dos prémios, porque a evolução demográfica da população pressiona a frequência no acesso aos serviços de saúde. Por outro lado, a concentração dos operadores privados pressiona o lado do custo médico, sendo o nosso maior desafio gerir esta dupla pressão, o que teremos de fazer com tecnologia, sendo cem por cento digitais, hipereficazes e hiperprodutivos.

Temos, assim, dois pilares que resumem toda esta realidade e o seu próprio futuro: tecnologia e prevenção?

Sem qualquer dúvida, são esses os dois pilares que vão transformar o mercado nos próximos anos. Ao mesmo tempo, as seguradoras tradicionais irão ver as suas margens mais esmagadas, especialmente quando os prémios médios se aproximarem mais do valor out of the pocket per capita. Deste modo, num espaço de cinco a dez anos, acredito que possam surgir mais iniciativas como a MGEN em suportar pessoas que estão “do lado de lá” nos pagamentos diretos.

Também junto dessas pessoas “do lado de lá”, acredita que irá haver um aumento da consciencialização de que precisam de outro tipo de suporte?

Essa consciência será automática quando as pessoas se aperceberem que, ao invés de pagarem, em média, 1100 euros por ano em saúde, podem pagar apenas 700 euros e ter uma poupança de 400 euros. Depois, as margens terão que se adaptar para que o processo de mudança seja mais rápido, com os custos com a saúde a serem comprados através das seguradoras.

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