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Inovação que redefine o valor em saúde

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O Value for Health CoLAB é uma associação privada sem fins lucrativos que trabalha, desde maio de 2019, com empresas, entidades governamentais e universidades para desenvolver soluções inovadoras de cuidados de saúde de elevado valor para a sociedade, faz parte da rede de laboratórios colaborativos reconhecidos pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e tem como Associados Fundadores a Universidade NOVA de Lisboa, a CUF, a Vodafone Portugal e a Fraunhofer Portugal. Ana Rita Londral, Diretora Executiva e Científica, em entrevista, explica como a saúde baseada em valor está a transformar os cuidados em Portugal, com foco em resultados reais para os doentes, inovação colaborativa e o posicionamento do país como laboratório vivo de inovação em saúde.

O VOH tem assumido um papel pioneiro na promoção de uma abordagem centrada no valor em saúde. Como definem esse “valor” e de que forma ele transforma a prestação de cuidados para o cidadão e para o sistema?

Cuidados de saúde baseados em “valor” relacionam resultados de saúde de cada doente com os recursos necessários para os alcançar. Este conceito desafia-nos a refletir: porquê continuar a financiar e avaliar o sucesso pela quantidade de intervenções de cuidados de saúde (nº de cirurgias, nº de consultas, nº de camas, etc.), sem saber se essa quantidade trouxe benefícios reais e relevantes para os doentes? Medir valor é então um processo que pode transformar a prestação de cuidados num sistema mais transparente e baseado em resultados, focado no impacto real na vida dos cidadãos e na valorização dos recursos.

Que resultados concretos têm alcançado com os vossos projetos mais recentes, nomeadamente em termos de impacto na prática clínica, eficiência hospitalar ou políticas de saúde pública?

Os nossos resultados mais relevantes decorrem da criação de um ecossistema de inovação colaborativa que aproxima universidades, empresas e instituições de saúde, permitindo que a investigação se traduza em inovação (acesso a novos produtos e serviços) com valor nos cuidados de saúde. Exemplos desta colaboração incluem o desenho e implementação de serviços de telemonitorização para a medição de resultados, empoderamento do doente e melhor utilização de recursos, nomeadamente para doentes cardíacos, no Hospital de Santa Marta, e para acompanhamento à distância de doentes hipertensos, na CUF. A nível internacional, colaboramos num projecto liderado pela Fundação San Joan de Dèu (Barcelona) que visa combater na Europa a situação de sem-abrigo e num outro liderado pelo Hospital Pediátrico San Joan de Dèu, que atua na área das doenças crónicas complexas e/ou necessidades paliativas em crianças, ambos recorrendo a tecnologias digitais. Nestes projetos, estamos a implementar living labs em diferentes países europeus, como Finlândia, Grécia, Eslovénia e Dinamarca. Também apoiamos empresas tecnológicas e startups na demonstração de impacto das suas soluções para a saúde, nomeadamente no contexto da transformação digital, apoiando processos de validação robustos que reforçam a confiança e facilitam a adoção. Exemplos incluem a Cleocare, uma startup de inovação tecnológica que atua na área da prevenção do cancro da mama, e a Medtronic na avaliação da adoção de tecnologias. Atuamos como catalisadores, aproximando ciência, tecnologia e cuidados de saúde.

 

Ana Rita Londral, Diretora Executiva e Científica

 

A articulação com diferentes stakeholders – desde hospitais a empresas tecnológicas – é uma das vossas forças. Como têm desenvolvido esta rede colaborativa e que mais-valias têm emergido desta dinâmica?

Temos desenvolvido esta rede colaborativa através de uma equipa de investigadores nas áreas da engenharia, ciências biomédicas, psicologia, economia e gestão, todos a trabalhar no mesmo escritório! Trabalhamos proativamente com hospitais, empresas tecnológicas, seguradoras e associações de doentes. Atuamos em articulação com os nossos parceiros, para identificar problemas reais, desenvolver soluções tecnológicas e testar a sua aplicação em contextos clínicos. Esta dinâmica já gerou resultados concretos: aceleramos a validação de tecnologias digitais em saúde, estamos a valorizar o conhecimento académico aplicando-o no setor da saúde, desenvolvemos ferramentas digitais para apoiar a medição de resultados pelos doentes e profissionais de saúde. Acredito que estamos a contribuir para que Portugal seja um espaço de inovação em cuidados de saúde.

Numa era em que a tecnologia e os dados se tornaram essenciais para a medicina personalizada, como é que o VOH integra ciência, inovação e ética nas suas metodologias?

No VOH acreditamos que a inovação em saúde só faz sentido quando construída com quem vive e trabalha dentro do sistema. Por isso, aliamos ciência e tecnologia a uma forte responsabilidade ética e social. Utilizamos métodos rigorosos, tecnologias inovadoras e inteligentes, sempre com o compromisso de proteger os dados, garantir a privacidade (seguindo as normas nacionais e europeias) e envolver ativamente profissionais de saúde, doentes e cidadãos. Trabalhamos lado a lado, desde a definição dos problemas até ao desenho das soluções, para garantir que o que fazemos tem aplicação prática e impacto real. Os nossos resultados científicos são produzidos em co-autoria com as equipas clínicas, académicas e empresariais com quem colaboramos. Seguimos os princípios da investigação orientada à ação: aprender com a experiência no terreno, ajustar e agir para transformar.

Que metas ambicionam atingir nos próximos anos, em particular no que toca à internacionalização do conhecimento produzido e ao reforço do papel do VOH enquanto motor de mudança no setor da saúde em Portugal?

Nos próximos anos, queremos afirmar o VOH como uma referência europeia em saúde digital e cuidados baseados em valor. Queremos crescer de forma colaborativa: trazer novos parceiros da indústria e do setor de seguros, participar em mais projetos internacionais e reforçar a nossa missão de formação e capacitação das organizações que prestam serviços e desenvolvem produtos para transformar o sistema de saúde. O nosso foco está em testar soluções no terreno, em colaboração com quem as vai usar, e em posicionar Portugal como um verdadeiro laboratório vivo (“living lab”) de inovação em saúde. Seguimos uma lógica de ação-participação: trabalhamos com as pessoas, não apenas para elas, e isso tem sido a chave para criar soluções mais sustentáveis, justas e centradas nos cidadãos.

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