Indústria de Madeira e Mobliário, uma visão de futuro para um setor em crescimento

Em entrevista ao Presidente da AIMMP – Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal, Vítor Poças, recolhemos um testemunho sobre uma visão de um setor em crescimento, que representa mais de 4% do PIB nacional e que, nos últimos dez anos, duplicou as suas exportações.

 

Vítor Poças, Presidente da AIMMP

 

 

 

Quais foram os avanços mais significativos no setor da madeira e do mobiliário em termos de inovação e sustentabilidade? Que iniciativas destacaram o compromisso do setor com a redução do impacto ambiental e a valorização da economia circular? 

Nos anos de 2023 e 2024, testemunhámos avanços notáveis no setor, especialmente na incorporação de tecnologias e no exercício de boas práticas de economia circular de uma forma mais estratégica. A madeira é uma matéria-prima com qualidades naturais que posiciona o setor de forma excelente no desafio da sustentabilidade, contudo há otimizações a realizar, nomeadamente iniciativas como o desenvolvimento de materiais eco-friendly, aumento da reciclagem de resíduos de madeira e até na melhoria dos processos produtivos. Nesse contexto, a AIMMP lidera o projeto DECARBWOOD – Roteiro para a Descarbonização  das Indústrias de Madeira cujo objetivo é reduzir o impacto ambiental do setor, melhorando a sua pegada carbónica. Este projeto é realizado com o apoio do PRR – Programa Recuperar Portugal e inclui um grupo de parceiros científicos como a ADITEC, INEGI e o SerQ e ainda o LABORATÓRIO DO TERRITÓRIO, LDA (ESSÊNCIA DO AMBIENTE). Paralelamente ao estudo e pesquisa de materiais biodegradáveis e sustentáveis para incorporar nos produtos do setor, desenvolvimento de processos produtivos, o recurso a energias renováveis e a promoção de certificações de sustentabilidade entre as empresas associadas. Isto, sem perder de vista o debate e a necessidade urgente de proteger e promover a floresta, um recurso do qual dependemos e que é naturalmente uma fonte de riqueza que o país tem de acautelar. Estas ações refletem o compromisso contínuo do setor com a sustentabilidade e exigem um processo de inovação contínuo e responsável. 

Que balanço faz deste ano de 2024? Quais foram os maiores obstáculos enfrentados e as principais conquistas alcançadas pelas empresas associadas à AIMMP? 

O ano de 2024 apresentou desafios significativos, incluindo a volatilidade económica global acelerada por muitos ajustamentos pós-covid, comerciais, tecnológicos, económicos, financeiros e culturais à escala internacional, para além do impacto das guerras e a alteração do mapa geopolítico. Observamos aumentos dos custos das matérias-primas e novas barreiras logísticas. No entanto, o setor respondeu com enorme resiliência, otimizando as suas operações e explorando novos mercados, nomeadamente com geografias e culturas mais distantes e exigentes, como é o caso dos Estados Unidos. As principais conquistas incluíram assim o fortalecimento de parcerias estratégicas e a expansão para mercados fora da Europa, que demonstraram um novo dinamismo na diversificação de mercados. Mesmo assim, globalmente, não será um mau ano para as exportações, uma vez que se prevê globalmente a manutenção das quantidades exportadas, mas observando uma queda de 4% em termos de valor, resultante de ajustamentos nos preços. 

Como avalia o desempenho das empresas portuguesas no mercado global em 2024? Quais as estratégias previstas para 2025 no reforço da competitividade e da presença internacional? 

Em 2024, as empresas portuguesas de madeira e mobiliário consolidaram a sua presença global, destacando-se pela qualidade e design inovador. Para 2025, a estratégia visa reforçar esta presença internacional, com foco em mercados estratégicos mais distantes como os Estados Unidos, Médio Oriente e a consolidação do mercado Europeu, através de missões empresariais e participação nas grandes feiras internacionais. Além disso, a AIMMP pretende aumentar o investimento em marketing digital, numa lógica de  promoção internacional, para maximizar o alcance global. 

Quais as principais iniciativas da AIMMP para tornar o setor mais atrativo? Há novos projetos em vista para 2025 que promovam uma maior ligação entre as empresas e os jovens? 

A retenção de talento, e do talento jovem em particular, é crucial para uma cultura de inovação em processo contínuo e para assegurar o futuro do setor. Em 2023 e 2024, a AIMMP lançou vários desafios sobre este tema. Destacamos o desenvolvimento e celebração com o SETTACOP do novo CCT – Contrato Coletivo de Trabalho para o setor, o qual consideramos um marco histórico, pois há vários anos que estava em revisão. Destacamos, ainda, os contributos dados através do CFPIMM – Centro de Formação Profissional das Indústrias de Madeira e Mobiliário, em parceria com o IEFP, com aproximadamente 275 mil horas de formação anual e as diversas ações de formação contínua direcionadas e organizadas nas empresas, para além das diversas ações de disseminação de informação e conhecimento de enorme importância para as empresas, mas também para a atração de jovens com talento. Em 2023, realizámos um importante projeto de promoção do empreendedorismo jovem, o Sketch Wood & Furniture, que envolveu escolas e jovens no sentido de os desafiar a criarem o seu negócio, com apoio e mentorias, um projeto muito interessante. Para 2025, estamos a planear o estudo para arranque da criação de uma plataforma de inovação colaborativa, para facilitar a interação entre empresas e jovens profissionais no setor. 

 

Quais são as grandes metas para 2025? Que mensagem gostaria de deixar às empresas e aos profissionais do setor? 

Para 2025, as grandes metas da AIMMP incluem acelerar a promoção internacional, quer através do projeto conjunto Inter Wood & Furniture, quer através do Associative Design, ambos co-financiados pela União Europeia, COMPETE 2030, Lisboa 2030 e Portugal 2030, cujas ações de promoção internacional vão percorrer a Europa, o Médio Oriente e os EUA, entre outros. Neste contexto vamos ainda ter uma presença na Expo Mundial de Osaka. Pretendemos ainda, reforçar o apoio no aumento da competitividade, a promoção da sustentabilidade e a digitalização do setor, incluindo a certificação voluntária de produtos. O foco estará na melhoria contínua da eficiência operacional e na adoção de tecnologias avançadas. A mensagem para as empresas e profissionais do setor é clara: a inovação, a tecnologia, o design e a sustentabilidade são essenciais para o sucesso futuro. 

 

Alguns compromissos e desafios da AIMMP numa visão ESG: 

  • Melhorar a responsabilidade social do setor;
  • Promover boas práticas do design e uso de materiais sustentáveis;
  • Otimizar recursos e operações sem prejuízo do valor do talento e valorização das pessoas nas organizações; 
  • Contribuir para o reforço da transição digital;
  • Contribuir para o avanço do conhecimento da eficiência energética e descarbonização; 
  • Reforçar um compromisso das empresas com boas práticas ambientais e sociais; 
  • Contribuir para uma política de reflorestação nacional séria e comprometida com o equilíbrio económico e social. 

 

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