“É um projeto do Alentejo para o Alentejo”

A Fundação Alentejo herdou a missão assumida pela EPRAL e já lá vão mais de 30 anos a promover a excelência profissional. Em conversa com a Revista Business Portugal, Fernanda Ramos, Presidente da Fundação Alentejo, entidade proprietária da EPRAL e do CFA, destaca a importância da educação/formação e da união da comunidade como fatores de desenvolvimento económico e social da região.

Fernanda Ramos, Presidente

A Fundação Alentejo nasceu há quase 25 anos com o objetivo de qualificar a comunidade local. Que balanço faz do progresso e evolução da instituição ao longo destas duas décadas?

A criação da Fundação Alentejo remonta a maio de 1999, no entanto a missão que a sustenta já estava no terreno desde 1990, ano em que foi criada a EPRAL – Escola Profissional da Região Alentejo, de que a Fundação se tornou entidade proprietária e gestora, ou seja, há 32 anos que o nosso trabalho vem sendo realizado.

O desenvolvimento sustentável do Alentejo, na nossa perspetiva, assenta no combate a dois desafios específicos, por um lado a luta pela fixação dos nossos jovens e atração de novos jovens e famílias na região, por outro, pela criação de mais e melhores oportunidades de emprego, isto é, pelo reforço e modernização do nosso tecido empresarial e institucional, pela inovação e diversificação no nosso perfil produtivo.

É no cruzamento entre ambos os desafios que emerge a necessidade de, aos jovens, oferecer uma resposta educativa e formativa de excelência e alinhada com essas novas oportunidades e às empresas, a existência de recursos humanos altamente qualificados nas diferentes áreas da nossa atividade. É na resposta a esta necessidade que surge a EPRAL em 1990 e que a Fundação Alentejo é instituída em 1999. Como assumimos desde o início, é um projeto do Alentejo, para o Alentejo.

Quais são os principais obstáculos que as instituições de ensino enfrentam atualmente? E, em particular, na região do Alentejo?

Os obstáculos que se colocam a uma instituição como a nossa, que presta um serviço público de educação/formação num padrão de grande exigência e alinhada com as melhores práticas dos nossos parceiros da União Europeia, são ao nível dos recursos financeiros, da procura de uma sustentabilidade que permita continuarmos a ser uma referência e, consequentemente, a cumprir a nossa missão de serviço ao Alentejo e aos alentejanos. Paralelamente, a conjugação de duas dimensões, a baixíssima densidade populacional e o baixo rendimento da maioria das famílias, que caracteriza o Alentejo e todo o interior do nosso país, são circunstâncias que condicionam e tornam mais desafiante o nosso trabalho. Por um lado, o desafio de mobilizar o número de jovens necessários ao desenvolvimento de todas as áreas de formação que o desenvolvimento regional exige, por outro lado não poder contar com um contributo das famílias que as instituições congéneres das regiões do litoral podem mobilizar. Impõe-se, por isso, a atualização dos financiamentos públicos (nacionais e europeus), que se mantêm desde 2009, aliás, com um corte aplicado nos tempos da troika que, até hoje, não foi reposto. Apesar de tudo, graças ao padrão de desempenho da nossa escola, os níveis de aproveitamento educativo e as taxas de empregabilidade pós-formação, assim como, em alguns casos, a continuação de estudos com um nível de sucesso muito positivo, levam-nos a superar os desafios de gestão e assumir uma continuada política de atualização e inovação quanto ao projeto educativo e quanto à qualidade do parque escolar/formativo.

Qual é o papel das empresas locais no desenvolvimento da formação profissional na região do Alentejo? Como é que a união de todos os alentejanos pode contribuir para a melhoria do sistema educacional?

As empresas locais e de toda a região, assim como muitas das instituições, são parceiros fundamentais do nosso trabalho. São-no, desde logo, enquanto destinatárias finais da nossa atividade, pois são maioritariamente elas que irão acolher os nossos diplomados, por outro lado, são-no também durante o percurso formativo, pois com elas celebramos protocolos para a realização de uma componente muito importante, a formação em contexto de trabalho/estágio, que tem lugar nos 2º e 3º anos de formação. De igual forma, através das suas associações do sector, participando no processo de avaliação final dos formandos, pois os seus representantes integram o júri de avaliação das Provas de Aptidão Profissional.

Estas dinâmicas de cooperação revelam-se da maior importância para aferir a justeza da nossa oferta formativa e para, em conjunto, reforçar os processos de inovação organizacional e tecnológica das nossas empresas. Desta forma, convergimos no mesmo esforço de promover o desenvolvimento regional e criar mais possibilidades para a fixação e atração de jovens na nossa região.

É cada vez mais crucial que a educação acompanhe o progresso tecnológico para assegurar que os alunos estejam bem preparados para o mercado de trabalho. O que é que a fundação tem feito para garantir a adaptação dos alunos à digitalização?

Ao longo dos últimos 32 anos, a EPRAL e a Fundação têm tido uma estratégia de permanente atualização e renovação dos equipamentos e da reorganização dos espaços, adequando-os aos novos desafios tecnológicos. Por maioria de razão isso acontece na área do digital, não só no caso dos cursos diretamente integrados nessa área (programador informático, gestão de equipamentos informático, multimédia) mas, também, no acesso de todos os formandos, de todas as áreas, ao desenvolvimento das suas competências digitais.

Ainda recentemente, em 2022, procedemos a um reforço muito significativo, ao nível de hardware e de software, a par de uma outra intervenção, simultânea e transversal a toda a Escola, no que respeita ao desafio climático, tornando o edifício e todas as suas instalações mais eficientes ao nível energético, e aumentando exponencialmente a microprodução de energia.

Ao longo de duas décadas, a fundação edificou um património educativo consistente, o que podemos esperar da instituição nos próximos anos? Têm planos para expandir a oferta de programas de formação profissional?

Não se trata de expandir, mas de um processo de constante ajustamento às necessidades de qualificação que o desenvolvimento regional impõe. A nossa instituição não pode ficar à margem da dinâmica que anima a economia e a sociedade regional, não somos um microcosmo autossuficiente e fechado sobre si mesmo, antes um dos catalisadores do processo de mudança e inovação que acontece na região. O salto que foi dado, no cumprimento mais abrangente da missão da Fundação, aconteceu em 2011, quando criámos o Colégio Fundação Alentejo, um imóvel construído de raiz, com todas as condições e características para a instalação de um Creche, Jardim-de-Infância, 1º Ciclo e 2º Ciclo. A opção pela criação desta nova resposta por parte da Fundação Alentejo decorreu da compreensão de que a oferta disponível na cidade, face ao crescimento de novos clusters e fixação de novos quadros, não dava uma suficiente e ajustada resposta. Desta forma, porque, não só ao nível da quantidade, mas principalmente ao nível da diversidade de modelos organizativos e pedagógicos, se impunha a disponibilização de uma nova resposta face às necessidades de muitos jovens casais que se queriam fixar na cidade e região, a Fundação avançou e instalou este novo projeto. De alguma forma, complementar à Escola Profissional, pois, também ele é um instrumento de combate à erosão demográfica que, desde o início, o nosso projeto assumiu.

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