“É na simplicidade que a arquitetura se desenvolve”
Desvendando a arquitetura com encanto e autenticidade, o Arquiteto Daniel Freire Luís traz consigo 15 anos de experiência e sete anos à frente do seu próprio atelier. Nesta entrevista, exploramos as raízes da sua paixão pela arquitetura e mergulhamos no panorama atual do sector. Daniel e a sua equipa, conduzidos pela simplicidade, deixam uma marca única em cada projeto, cuja arte vai além das linhas e se torna numa expressão envolvente na paisagem.
São 15 anos nesta profissão, sete anos à frente do seu próprio atelier e, por isso, é relevante saber o que levou o Daniel a se interessar pela arquitetura, bem como a sua opinião sobre o atual panorama do sector?
A constituição do atelier acontece numa fase mais avançada, mais precisamente em 2016, de uma forma muito natural, com o objetivo de iniciar um caminho muito próprio. A vontade constante e persistente em pensar e realizar arquitetura, aliada às oportunidades que foram surgindo, alimentou esta imensa vontade de intervir na paisagem com ideias muito próprias. O interesse pela arquitetura vem desde muito cedo, o que considero algo bastante natural para quem se deixa envolver nestes caminhos com grande ímpeto artístico, com uma grande carga de intimidade. Estes caminhos, que resultam em opções particulares, pouco ou nada se desprendem do modo de estar na vida. Sendo arquiteto, a arquitetura tem de estar diariamente presente na minha vida, alimentada por todas as outras artes em constante fervor neste mundo.
O sector da construção em Portugal vive com uma saúde algo instável e contraditória. Claramente que a habitação, área onde muito nos focamos, é tema em destaque no panorama nacional. Os preços proibitivos de venda não impedem que, os imóveis colocados no mercado, sejam comercializados em tempo “record”, o que me traz uma certa inquietude. O valor do ordenado convencional em Portugal não se adequa a esta “partitura” que o sector dirige e, por isso não tenho dúvidas que o caminho passa por uma mudança de estratégia económica no nosso país que permita que o comum cidadão possa “apanhar o último comboio”.
A arquitetura é uma forma única de expressão, cada linha de uma obra arquitetónica revela a meticulosidade do projeto. Como arquiteto, acredita que deixa um pouco de si em cada obra que cria? Que mensagem ambiciona transmitir através da sua “arte”?
A arquitetura é para todos. A arquitetura tem que chegar a todos, porque ela existe para servir as pessoas. É assim desde os primórdios da nossa existência. Construção acessível não tem que estar dissociada de boa arquitetura. No atelier, os princípios são transmitidos com a maior clareza e simplicidade possível, pois acredito que é na simplicidade que a arquitetura se desenvolve, porque também é na simplicidade que o ser humano sabe verdadeiramente viver. Cada projeto desenvolvido no atelier procura não se desprender destes princípios o que na verdade marcam firmemente a nossa identidade.
Cada projeto é fruto da conciliação entre a resposta técnica adequada e a procura incessante pelos princípios fundamentais da arquitetura. Que estratégias utilizam para manter um alto nível de precisão nos projetos e atender às necessidades dos clientes?
A arquitetura é espaço. O espaço é cuidadosamente definido pelos seus limites. Luz, proporção, materialidade, aliada ao diálogo entre a regra e a sensibilidade, são sem dúvida as maiores ferramentas que, no meu entender, podem produzir beleza e funcionalidade. Pensar arquitetura como mera construção, para simplesmente responder a um programa, pode resultar num grande erro. O arquiteto tem uma enorme responsabilidade na construção de uma paisagem e esse é o compromisso que devemos ter como base, paralelamente, quando damos a melhor resposta possível ao nosso cliente.
A equipa do atelier é coesa e colaborativa, com uma atenção minuciosa aos pormenores de todos os projetos. A dedicação que colocam em cada projeto é um fator que vos diferencia da concorrência? Qual é a importância do trabalho em equipa?
Considero o trabalho em equipa indispensável, com resultados únicos. É na discussão de ideias e na conjugação de conhecimentos que os resultados são obtidos. O trabalho final, que se espera sempre que seja edificado é, sem a mínima dúvida, o resultado de um trabalho que começa na vontade do dono de obra e na sua escolha pela equipa de trabalho, passando por todos os projetistas, onde incluo toda a equipa de engenharia, terminando na equipa que irá materializar a obra.
A meta do atelier é desenhar a melhor solução possível, sempre. Quais as áreas em que a empresa atua? Há alguma parceria ou projeto do seu portfólio que mereça destaque?
O atelier tem feito um caminho muito participativo na área do retalho, cooperando com três das maiores marcas que atuam no país. Contamos com mais de três centenas de estudos e projetos nesta área. Trata-se de um trabalho que, embora seja desenvolvido sob uma enorme palete de regras e orientações precisas, resultante de uma imagem de marca a manter face à grande concorrência associada, transporta-nos para enormes desafios e experiências fundamentais no constante crescimento do atelier. Em jeito de caminho paralelo, aparece o trabalho que nos dá mais identidade, habitualmente designado de arquitetura de “autor” e que se tem vincado mais na área da habitação. Estando o atelier localizado na cidade de Ponte de Sor, tem sido no Alentejo que o trabalho tem ganho mais foco, através de desafios que elevam os nossos princípios de pensamento e criatividade, onde queremos, habitualmente, estar.
Estando em constante crescimento, quais são as expectativas para os próximos anos? De que forma a sua profissão pode ter um impacto positivo no mundo?
Prevejo que o sector se mantenha em crescimento e, nesse sentido, julgo que o atelier deverá, de uma forma natural, acompanhar esta linha evolutiva. Temos desenvolvido novas parcerias e os clientes particulares têm surgido com alguma naturalidade. Neste sentido, tudo me leva a crer que o futuro será positivo.
No que concerne à profissão de arquiteto, importa voltar um pouco atrás nesta entrevista e reforçar a enorme responsabilidade que tem, na medida que intervém fortemente na paisagem. É a sua decisão que poderá tornar os locais onde intervém mais interessantes, com impacto direto na vida de quem os habita. É aqui que podemos fazer a diferença, pela positiva.