Transformar criatividade em impacto social é a missão que move Silvia Rodriguez, Founder & CEO da Vanilla Project. Com um percurso marcado pela experiência em eventos institucionais e pela convicção de que marcas e pessoas podem ir além do lucro, Silvia criou uma agência que se propõe a contar histórias, criar legados e inspirar mudanças duradouras. Nesta conversa, partilha a visão que tem colocado Lisboa no mapa global da criatividade e da estratégia, e explica como a Vanilla Project desafia empresas e públicos a assumir um papel ativo na construção de um futuro mais consciente.
Criar impacto social através da criatividade é um propósito ambicioso e exigente. Como foi desenhado o caminho até à definição clara dessa missão e dos valores que sustentam a identidade da Vanilla Project?
A missão da Vanilla Project nasce de valores que são intrínsecos à forma como vivemos e trabalhamos, e da vontade de contribuir para o mundo com aquilo que sabemos que fazemos de melhor: contar histórias, criar palcos, unir e inspirar pessoas, comunicar e estabelecer parcerias estratégicas que amplifiquem a mensagem que queremos passar. Procuramos desafiar empresas a desenvolver missões maiores que vão para além do lucro, com o propósito de promover um mundo que seja mais justo, equilibrado, e mais consciente. Quando os valores estão alinhados e somos verdadeiros nas nossas convicções, conseguimos criar experiências únicas, que deixam marcas duradouras e geram impacto real.

A sua experiência prévia em eventos institucionais deu-lhe uma visão privilegiada sobre o diálogo entre diferentes esferas da sociedade. De que forma essa bagagem influencia hoje o modo como a Vanilla Project desenha projetos que ambicionam gerar transformação coletiva?
A minha experiência profissional no mundo dos eventos deu-me a oportunidade de conhecer pessoas inspiradoras, que lutam todos os dias pela mudança e pelo impacto social nas suas áreas, muitas delas até sem grande reconhecimento, mas com um sentido de missão que os fazem sentir realizados. Este contacto profundo com missões coletivas alinhadas com valores fortes que eu tanto defendia inspirou a criação da Vanilla Project.
Cada evento, desde um aniversário corporativo, reuniões de altos quadros, a uma grande conferência com projeção internacional, pretende inspirar e desafiar os participantes a refletir sobre o papel ativo das empresas e das próprias pessoas na sociedade. O verdadeiro impacto começa quando todos os envolvidos percebem o valor de agir com um propósito – é essa busca pelo alinhamento que motiva a nossa abordagem.
Para além da criação e produção de eventos e conferências, de que forma a Vanilla Project ajuda marcas a construir narrativas que perduram?
Para além de eventos, criamos marcas, conceitos, conteúdos digitais e estratégias que reforçam o propósito das empresas. Atualmente, lideramos projetos que unem várias entidades em torno de uma missão comum, gerindo todas as fases, do conceito à execução.
Um exemplo disto é o BOOK 2.0 – The Future of Reading, um evento interdisciplinar para o debate sobre leitura, literacia e conhecimento, cuja direção executiva e produção estão a cargo da nossa equipa. O evento acabou de realizar a sua 3.ª edição, que abordou temas como a Inteligência Artificial, a sustentabilidade da indústria e a diversidade cultural lusófona, reforçando o seu papel na construção de uma sociedade mais informada e consciente. Mesmo quando o ponto de partida é um evento, há sempre um trabalho que vai para além da produção. Cada projeto começa com a criação de um conceito, de uma narrativa, de uma marca, alinhados com a estratégia de negócio e comunicação, para além da criação de parcerias estratégicas e aspetos comerciais como o posicionamento no mercado e a gestão de patrocinadores. Trabalhamos desde o storytelling, aos valores e à missão, desenhando um plano de acção até à entrega final.
O conceito de “legado” é um dos pilares da Vanilla Project. Numa era onde o efémero domina a comunicação, como se constrói relevância e memória duradoura num evento?
Construir legados é criar experiências que perduram no tempo, através de ideias e inspiração que a audiência leva consigo, com vontade de evoluir e mudar. Os eventos são experiências sensoriais e, quando assentes em valores claros e numa missão que vai além do comercial, todos sentimos a diferença. A nossa missão é ajudar empresas a criar legados que expressem o seu papel na sociedade, promovendo responsabilidade social e reforçando a ligação ao seu propósito. Inspirados pelos princípios do “capitalismo consciente”, ajudamos as empresas a delinear as suas missões para que cada projeto gere impacto duradouro e contribua para uma marca memorável.
Quais são os grandes temas que a Vanilla procura trazer para o centro dos seus projetos e do debate, e que impacto procuram gerar com esse trabalho?
O impacto que procuramos vai além do imediato. Na Vanilla, acreditamos que os eventos são mais do que momentos de encontro: são palcos de reflexão e ação. Escolhemos trabalhar temas que consideramos urgentes e estruturantes para a sociedade, como direitos humanos, educação, liderança e cultura, entre outros. Estas áreas inspiram-nos a criar projetos que fomentam o diálogo, o debate de ideias e tendências actuais, que mobilizam consciências e abrem caminhos para um futuro mais consciente e sustentável para as próximas gerações – algo crucial nos dias de hoje.
Têm-se destacado pela capacidade de tornar Lisboa um hub de criatividade e estratégia a nível internacional. Que condições ainda faltam ao ecossistema nacional para que Portugal seja reconhecido globalmente não apenas como destino, mas como referência criativa e intelectual?
Lisboa afirma-se cada vez mais como polo de criatividade, inovação e estratégia, e na Vanilla orgulhamo-nos de fazer parte desta história. Levamos projetos com ADN português para o mundo e trazemos eventos globais, reforçando a imagem de Lisboa como capital contemporânea, visionária e culturalmente relevante. A distinção “People’s Choice Destination” que recebemos nos Eventex Awards 2025 reconhece este trabalho e coloca Lisboa e a Vanilla como protagonista global em eventos e conferências com propósito. Para consolidar este crescimento, é preciso fortalecer redes de colaboração locais, investir em formação internacional, criar incentivos consistentes para projetos inovadores e aumentar a visibilidade do impacto cultural, social e educativo das iniciativas portuguesas.
A distinção como “Rising Star Agency” da Eventex Awards 2025 valida o caminho da agência, mas também aumenta as expectativas em torno do que virá a seguir. Como gere essa pressão criativa e de posicionamento num mercado global altamente competitivo?
Este reconhecimento reforça a nossa ambição e confirma o impacto que queremos gerar, sem nunca se transformar em pressão. Para nós, o essencial continua a ser a diferença que deixamos nas pessoas, nas empresas e na sociedade. Num mercado de eventos competitivo, a nossa abordagem distingue-se pelo propósito de criar mudanças que perduram além de cada evento, com projetos que vemos nascer após os eventos. Vemos a concorrência como parceiros no nosso caminho e propósito, muitas vezes até como fonte de inspiração, fortalecendo um ecossistema global de criatividade e responsabilidade comum pelas nossas sociedades. Esta visão permite-nos evoluir continuamente e consolidar um posicionamento sólido num panorama internacional exigente e dinâmico.
Na sua perspetiva, qual será o papel dos eventos no futuro da comunicação de marcas com propósito?
Os eventos serão cada vez mais essenciais para a construção de sociedades conscientes e informadas. Num mundo de desinformação e polarização, o diálogo, o contacto humano, a partilha de experiências e o foco na reflexão tornam-se cruciais.
Através dos eventos e conferências, procuramos desafiar as pessoas a pensar diferente, a abrir consciências e a descobrir o seu papel na sociedade.
Queremos que marcas e participantes encontrem sentido e propósito, tomando decisões conscientes e responsáveis. Acreditamos que os eventos se tornarão um palco para transformação, onde a criatividade e a transparência se unem para deixar uma mensagem relevante e duradoura.




