Crescer em tempo de crise
José Carlos Gomes, CEO da GLN, em entrevista à Revista Business Portugal, partilhou a importância do capital humano no crescimento e desenvolvimento do grupo, lembrando que as pessoas são a chave, para que a cultura de inovação e de contínua adaptação se possa desenvolver, dando ao grupo melhores condições de competitividade.
Passados os últimos dois anos de um contexto incerto, volátil e complexo, o grupo GLN mantém a sua convicção de desenvolvimento e crescimento com valor acrescentado.
Estando o Grupo GLN a desenvolver-se a investir com um foco na Europa e outro na América do Norte, é imprescindível alinhamento das pessoas pois só com equipas fortes se consegue ter sucesso nos processos de internacionalização desta natureza.
Na esfera do mundo exigente de hoje, não deve haver espaço para objectivos pouco estruturados que abrangem somente o desempenho atual e aquilo que são as práticas do presente, mas devemo-nos preocupar em alcançar metas e objetivos desafiantes para o futuro.
Precisamos de ser mais incisivos, audazes, ágeis e premiar as nossas equipas pelo mérito. Este é um desafio exigente da gestão. Bons técnicos não bastam, precisamos de pessoas que se entregam, que trabalham, que se dedicam de forma honesta, com respeito pelo trabalho em equipa. O desempenho não pode ser medíocre, é crucial que seja excelente em todos os momentos para que a organização tenha os resultados esperados e tenha vantagem competitiva.
No nosso Grupo implementámos um processo de avaliação de desempenho estrategicamente usada com o propósito de alinhar a performance individual com os objetivos do negócio, onde simultaneamente se aposta numa abordagem de desenvolvimento de potencial e competências, onde as pessoas são desafiadas a serem a sua melhor versão, a otimizarem as suas habilidades e a coresponsabilizarem-se pela sua carreira, não permitindo a cristalização funcional. É, portanto, um processo baseado no mérito, no respeito, no desenvolvimento, no acompanhamento e na orientação, onde todos ganham. A carreira deve, por isso, ser vista com um sentido mais alargado e que se gere no longo prazo com a noção de maratona e não de sprint. A diversidade, o entusiasmo, a objetividade, a garra e a vontade de superação é o que queremos desenvolver em 2022 nas equipas do Grupo GLN. Este processo é complexo e precisa de muito empenho de todos para que a sua implementação tenha o sucesso para o qual foi desenhado.
Novas apostas na I&D, nas tecnologias de ponta e última geração e intercâmbio de conhecimento.
O desafio do crescimento e da internacionalização, requer para além do alinhamento da equipa, soluções com valor para os clientes. É necessário criar um ambiente propício ao florescimento da criatividade. O sucesso de uma ideia é fruto de uma sinergia contínua, não só interna na organização, mas com o exterior envolvendo várias entidades de diferentes valências, onde o conhecimento é determinante para a construção de paradigmas, de processos e tecnologias, que se possam tornar geradores de valor acrescentado possibilitando novas opções de negócio.
Temos, na sociedade, hoje, um contexto fértil de necessidades que tem de ser atendidas com inovação. Como por exemplo a necessidade de reduzir a pegada ambiental, onde comportamentos sociais e tecnologia terão de dar as mãos com o apoio de I&D para que os objetivos globais possam ser atingidos. Esta megatendência encerra em si um mundo de oportunidades e não de ameaças.
Quais as principais consequências para o sector impostas pela globalização, evolução tecnológica e competitividade a baixos preços dos mercados a oriente?
A atual situação geopolítica adiciona mais incerteza a um contexto já complexo. Tal obriga a um esforço por parte da gestão para a tomada de decisão atendendo aos riscos que a cada momento são adicionados à atividade económica. Depois das problemáticas da Covid, das interrupções nas cadeias de fornecimento, o controlo da China sobre alguns componentes essenciais aos produtos globais, aos aumentos de preço de MP e fatores produtivos como a energia, agiganta-se agora outro risco com as tensões relacionadas com a potencial invasão da Ucrânia pela Rússia.
As constantes negociações entre a NATO e algumas ex-repúblicas soviéticas, dá um argumento de ação a Putin. Esperemos que tudo fique restrito a ameaças e que no fim impere o bom senso. Qualquer ação armada na Ucrânia pode escalar facilmente, especialmente se a China entender que é um bom momento para também invadir Taiwan. Todos estes aspetos devem ser objeto de atenção por parte dos agentes económicos, pois mesmo que não venham a dar conflito armado, como se espera, criarão tal nível de tensão que impactará nos mercados e nos seus agregados económicos, que por sua vez influenciam a performance dos negócios. O controlo de uma parte importante dos materiais base por parte da China tem tido impacto direto na competitividade do sector de plásticos.
A crise de materiais que se verificou em 2021 acentuou esta dificuldade, aumentando o gap entre os valores de matéria-prima disponíveis para os fornecedores chineses e os disponíveis para os fornecedores ocidentais.
Existe, também, uma enorme pressão resultante da diferença das condições laborais tal como: baixos salários, horários de 12h x 7 dias entre muitos outros, permitindo aos mercados low cost do oriente a prática de preços e prazos incomportáveis em países do Ocidente, tal tem estado na base da crise que se tem vivido no sector dos moldes, pese embora seja negado por alguns intervenientes. A forma de combater estas práticas é a aposta na qualidade e na alta capacidade técnica, focando esforços na construção de moldes de alto valor acrescentado, para peças plásticas também elas diferenciadas, minimizando o peso das matérias-primas e mão-de-obra menos qualificada no valor total do produto. Esta é também a solução para que a prazo possamos pagar melhores salários.
Que outros caminhos de inovação a indústria europeia de moldes e injeção de plásticos pode trilhar para manter elevados os índices de competitividade sem perder sustentabilidade económica, responsabilidade ambiental e social?
O foco da indústria dos moldes e plásticos deve reinventar-se e explorar novas abordagens de processos e materiais. A hibridização de processos e conjugação de multimateriais, subprodutos ou resíduos, são a oportunidade ideal, não só para maximizar a rentabilidade dos equipamentos já existentes, como igualmente traduzirá numa redução dos níveis de carbono globais, bem como minimizar a quantidade de resíduos, aumentando o espectro do ciclo de vida dos produtos e fortalecendo a economia circular.
O sector automóvel tem sido, nos últimos anos, o principal estímulo e grande alimentador da indústria de moldes e injeção de plásticos em Portugal. Para além do mercado automóvel, que outros sectores poderão ser vistos como apostas promissoras para a indústria nacional de moldes e injeção de plásticos?
O sector automóvel continuará a ser importante para a indústria em Portugal e certamente para a GLN. No entanto, acreditamos que a tecnologia desenvolvida e o know-how existente podem e devem ser aplicados a outros sectores com ganhos para todos. Evidente que o processo não é imediato. Cada vez mais o mundo se vira para o desenvolvimento de tecnologias e produtos amigos do ambiente e interligados.
A GLN tem feito uma aposta grande no desenvolvimento de soluções que respondam a estes desafios nomeadamente materiais alternativos biodegradáveis ou 100% recicláveis, aposta no mercado de componentes para incorporação elétrica ou eletrónica e componentes para dispositivos médicos. Estes sectores procuram empresas com capacidade de desenvolvimento que permitam a criação de componentes multifunções capazes de aliar a versatilidade de formas que permite a injeção com a robustez, condutividade ou resistência de outros produtos mais convencionais. Também aqui há um longo caminho a fazer para o qual estamos muito motivados.
Principais apostas da GLN, planos para o futuro e alguns projetos inerentes a essa mesma visão.
O Grupo GLN tem vindo a crescer de forma sustentada ao longo dos últimos anos, o que se traduziu na necessidade de expansão da área produtiva tanto em Portugal como no México. Neste sentido, o Grupo GLN encontra-se de momento a projetar a criação de duas novas unidades fabris para o sector dos plásticos e pensamos este ano apresentar dois novos projetos para o efeito.
Estas novas unidades fabris, estão a ser projetadas considerando os desafios em termos de eficiência energética e de sustentabilidade.
Procuramos atingir um nível significativo de descarbonização nos nossos processos de fabrico, o que irá contribuir para uma redução da pegada ecológica, bem como para o reforço da nossa competitividade no mercado e melhorar o nosso posicionamento junto de alguns clientes que valorizam este aspeto. Este crescimento é suportado por um “Technical Center” de Engenharia, que tem vindo a ser estruturado ao longo dos últimos dois anos. Este visa desenvolver e industrializar produtos de maior complexidade e consequentemente de maior valor acrescentado, permitindo desta forma que a GLN possa dar um melhor serviço aos seus clientes.
Para alavancar esta estratégia, o grupo precisa de quadros técnicos com know-how de excelência, sendo necessário investir na formação contínua dos mesmos. As pessoas da organização são a chave, para que a cultura de inovação e de contínua adaptação se possa desenvolver, dando ao grupo melhores condições de competitividade. Para complementar esta premissa, a GLN tem vindo a desenvolver internamente um projeto de Agilidade no sector dos moldes.
Evidentemente que pessoas, inovação e soluções tecnológicas são essenciais, assim como o é, o envolvimento e a visão do acionista para o sector, sem o qual, não será possível avançar.