Compromisso com a qualidade e sustentabilidade

A BagaCentro, uma empresa portuguesa com sede em Leiria, destaca-se pela sua localização privilegiada na Península Ibérica. Portugal, beneficiando de um microclima único, graças à proximidade ao Oceano Atlântico e a uma elevada exposição solar, Portugal de norte a sul, oferece condições excecionais para a produção de frutas praticamente durante todo o ano. Nesta edição da Revista Business Portugal tivemos o privilégio de conversar com Fábio Teixeira, o criador da BagaCentro, descobrir a sua história e os planos para o futuro.

 

 

Fábio Teixeira, CEO

 

 

A origem da BagaCentro

Fábio Teixeira começou o seu percurso profissional na área do vidro, no entanto, a agricultura sempre lhe esteve no sangue. “Fui criado pelos meus avós, praticamente no campo, e isso despertou o meu amor pela terra”, partilha.

Durante anos, investiu na sua formação em agricultura, com o objetivo de transformar essa paixão em realidade. Em 2017, deu o primeiro passo ao fundar a BagaCentro, começando com uma pequena produção de physalis, numa área de quatro mil metros quadrados. Escolheu este fruto por ser uma opção ousada, pouca cultivada e consumida na Europa, especialmente em Portugal.

Os primeiros tempos foram de aprendizagem, mas em 2018, com um hectare de cultivo, a BagaCentro atingiu um marco importante conseguindo resultados impressionantes. “Enquanto outros precisavam de dois hectares, nós, com apenas um, conseguimos produzir a mesma quantidade”, refere Fábio. Este sucesso, no primeiro ano, foi fruto de muita pesquisa e da realização de experiências.

No entanto, em 2019, um furacão destruiu as suas plantações, forçando a empresa a repensar a sua estratégia: “Foi nesse momento que decidimos introduzir novos produtos: framboesa, mirtilo, maracujá, amora, groselha e morango”. Embora não produzissem diretamente estas frutas, a BagaCentro estabeleceu parcerias com produtores, ampliando a oferta e reforçando a sua presença no mercado. “Foi uma nova etapa, e apesar dos desafios, continuamos a crescer”, remata o produtor. Tendo atualmente 190 produtores de norte a sul de Portugal, em parceria com a BagaCentro.

 

 

 

 

A produção própria e a componente humana

Neste momento, Fábio destaca-se como o maior produtor de physalis na Europa, um fruto tropical que tradicionalmente é cultivado na Colômbia e Peru, mas que se adapta surpreendentemente ao clima português. “Ao contrário do abacate, que tem causado impactos negativos na região do Algarve devido ao consumo excessivo de água, a physalis é uma fruta resistente. Consegue enfrentar condições adversas, como granizo e ventos fortes, que podem danificar a planta, mas esta consegue recuperar com facilidade. Além disso, o fruto, quando colhido no momento certo, pode ser conservado mais de  30 dias em frio, permitindo flexibilidade na logística e até a possibilidade de esperar por melhores preços de mercado”, explica o entrevistado. Atualmente, embora se dedique à produção de physalis, já existem planos para diversificar a sua produção. “Em 2025, quero cultivar, pelo menos, cinco hectares de framboesa e aumentar a área de mirtilo em mais 12 hectares, de forma a atingir um total de 50 hectares dedicados a este fruto”.

Um dos grandes obstáculos que o empresário enfrenta está na expansão da sua área de cultivo, devido à fragmentação dos terrenos na região, que pertencem a diferentes proprietários, levando a BagaCentro a concentra-se em outros distritos para a realização dos seus projetos de maior embergadura. Além disso, Fábio ressalta um problema estrutural no setor.  “Dos 190 produtores com quem trabalho, metade não tem formação especializada na área ou são de pequena dimensão, o que é uma grande desvantagem. Em Portugal, é fundamental que os produtores se especializem para competir com mercados como o espanhol, onde a especialização e as economias de escala são uma realidade.

O produtor sublinha ainda a sua frustração com os pequenos projetos agrícolas financiados no país. “Apoiar projetos com apenas um ou dois hectares não faz muito sentido. Para ser viável, uma exploração agrícola em Portugal deveria ter, pelo menos, cinco hectares. Muitos queixam-se dos preços pagos pelas empresas, mas é incomparável colher duas ou três toneladas a quatro euros o quilo, face a quem entrega 100 toneladas pelo mesmo valor”.

Outro desafio relevante em aumentar mais em numero de produtores ( sendo fundamental para a empresa na sua evolução), Fábio defende que é crucial que a maioria dos produtores obtenha certificações, formações, que obtenham as variedades mais lucrativas/procuradas, tentem a sua expansão da sua propriedade e que cumpram rigorosamente as normas, garantindo que os produtos cheguem em boas condições. Contudo, muitos ainda operam em condições precárias, tais como  difíceis acessos, ausência de câmaras de frio, sem certificações, quantidades de produção que não permite lucros e a sua evolução, dificultando a sua monitorização.

Outro problema são os preços dos produtos dentro da Europa, Europa esta, que não defende os seus produtores, permitindo que alguns países do leste e países fora da União Europeia,  que possam ser colocados produtos a baixo do custo de produção, e isso é extremamente complicado na valorização do produto, pois a maioria de grandes empresas de obsorção, quer é preço baixo e só depois vem a qualidade/origem.

 

 

Fábio Teixeira, CEO ao centro com a equipa

 

 

A equipa BagaCentro e a preocupação ambiental

Apesar de ser uma equipa relativamente pequena, a BagaCentro revela-se altamente eficiente e ajustada. O CEO acredita que o sucesso não se alcança sozinho e que é fundamental valorizar o contributo de cada colaborador. “Não faz sentido ter várias pessoas a desempenhar a mesma função. Na Baga Centro, cada membro da equipa deve passar por todas as áreas: desde a plantação e colheita, até à manutenção do campo, ao trabalho de escritório e armazém. Este processo é importante para que cada um entenda a importância de cada papel, e para que, por exemplo, alguém no escritório saiba exatamente do que está a falar ao lidar com questões de produção”.

Este modelo de gestão, porém, é exigente e requer tempo. Assim, Fábio admite apenas um número reduzido de pessoas de cada vez, dada a complexidade do processo. “Atualmente, contamos com sete colaboradores permanentes, além dos contratados e serviços temporários. Este grupo é o pilar da empresa, pois têm tanto conhecimento como eu. Com algumas exceções, todos dominam as suas áreas e possuem uma visão abrangente da operação. Cada um trabalha com o empenho de quem sente que a empresa é sua, criando um ambiente quase familiar”, assumindo que tem o desejo de manter uma equipa unida, onde o sucesso da empresa seja uma preocupação comum a todos.

No que toca à vertente ambiental, o foco está na produção sustentável de framboesas e mirtilos, com a ambição de alcançar a autossuficiência energética. “Já temos um edifício que funciona inteiramente com energias renováveis e, em breve, planeamos exigir aos nossos produtores que controlem rigorosamente o uso da água, pois muitos supermercados em Portugal e não só, já estão a solicitar certificações nesta área. O nosso objetivo é concluir este projeto nos próximos dois anos, apesar da logística complexa envolvida, especialmente com a expansão rápida que estamos a viver”. Fábio refere ainda o papel da equipa no sucesso ambiental da empresa, reforçando a importância do seu apoio e empenho nesta causa.

 

 

 

O futuro

O produtor tem grandes ambições para os próximos anos e pretende continuar com a sua equipa profissional e unida. O seu grande objetivo é alcançar o top 5 das empresas do setor até 2026 – uma meta que, embora pareça próxima, requer muito esforço. O caminho já começou a ser trilhado, mas ainda há muito trabalho pela frente para garantir que esse crescimento se mantenha de forma sólida.

Assim que o novo armazém estiver mais desenvolvido, a empresa terá a capacidade de embalar produtos de forma personalizada de cada produtor ou outro que não seja afeto à nossa empresa.  Serviço, porém, não irá interferir nas relações entre os produtores e os seus clientes, sendo apenas um apoio adicional. Além disso, está em curso um projeto para a criação de um centro logístico que facilitará a gestão de cargas. O objetivo é centralizar produtos num único ponto. “Estamos a preparar-nos para o futuro, mas não podemos ficar à espera de aprovações de fundos financiados pela União Europeia, que demoram anos, uma vez que precisamos de soluções imediatas. Decisões cruciais não podem ser adiadas, sob a pena de perdermos oportunidades e sermos ultrapassados pela concorrência. Manter o foco e a rapidez de execução é vital para continuarmos presentes e relevantes no mercado”, completa Fábio.

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