A Ureterorrenoscopia como grande fator de evolução no no tratamento urológico contemporâneo
Passaram cerca de 40 anos desde que Perez-Castro Ellendt e Martinez-Pinieiro, dois Urologistas espanhóis de grande nível na área da urologia, publicaram o trabalho “Transurethral ureteroscopy – a current urologic procedure” (Arch Esp Urol. 1980;33(5):445-60).
São, por esse motivo, considerados os “pais” da Ureteroscopia. Eles reportaram ter conseguido passar um cistoscópio pediátrico de 3,17mm, através dum ureter patologicamente dilatado, até ao bacinete de uma criança, tendo visualizado endoscopicamente todo o ureter. Falaram então com um fabricante de endoscópios, e em conjunto, desenvolveram o primeiro Ureteroscópio com cerca de 4mm de diâmetro.
Em 1984 e 1988, tive o privilégio de passar cerca de um mês e meio com o Prof. Martinez-Piniero, no Hospital La Paz em Madrid e com o Dr. Perez-Castro na Clínica La Luz, também em Madrid, onde assisti e aprendi a técnica da Ureteroscopia. Começou aqui o início da Ureterorenoscopia com Ureteroscópios rígidos, os quais eram fundamentalmente usados apenas no tratamento da Litíase Ureteral.
Estes primeiros Ureterorrenoscópios eram “rígidos”, e com eles a visão, quer do ureter proximal, quer do bacinete eram muito difíceis. Tudo melhorou, no entanto, com a criação dos Ureterorrenoscópios “semi-rígidos”, já ligeiramente flexíveis. Com esta pequena evolução já se tornaria possível ultrapassar algumas curvaturas, se pouco acentuadas, no ureter.Estes Ureterorenoscópios ainda são hoje muito usados, sobretudo no tratamento da litíase no ureter.
Mas até hoje, a evolução da Ureterorrenoscopia, tem sido abismal, sobretudo devido ao desenvolvimento da Engenharia Médica, a qual nos tem sucessivamente oferecido Ureterorrenoscópios cada vez mais finos e menos traumáticos. Atualmente esta evolução chega quase à perfeição (penso eu), com aparelhos flexíveis “reutilizáveis” ou “de uso único” com apenas 2,5mm que permitem, com uma excelente visibilidade e maleabilidade, observar endoscopicamente todas as vias urinárias superiores, ureter, bacinete, infundíbulos e cálices. Deste modo, com este novo armamentário contemporâneo, podemos afirmar que a maior parte da estratégica terapêutica Urológica mudou radicalmente, sobretudo no tratamento da Litíase Ureteral e Renal, mas também no estudo e tratamento dos Tumores Uroteliais das vias urinárias superiores.
Se inicialmente os primeiros Ureterorrenoscópios flexíveis que usámos, eram “reutilizáveis”, alguns anos depois surgiram os “de uso único”. Da utilização de ambos parece-me pertinente tecer alguns comentários. Em Ureterorrenoscopia, comecei por usar durante alguns anos os Ureterrorrenoscópios reutilizáveis, aliás os que, de início, unicamente existiam. Eram bastante caros, muito sensíveis e frágeis na sua utilização, afirmando as empresas deles promotoras que davam para a realização de cerca de 20 Ureterorrenoscopias.
Na minha experiência, na verdade, nunca fiz, com nenhum, tantos procedimentos. Isto devido ao facto da miniaturização do tamanho destes, dos respetivos canais de trabalho e da meticulosa e trabalhosa lavagem, desinfeção e esterilização a que eram, após cada procedimento sujeitos, no Serviço de Esterilização, conduzir indubitavelmente à sua deterioração e perda de adequado funcionamento. Muito frequente era, após oito ou nove utilizações, terem de ser substituídos. Acresce o facto, que a visibilidade e a defleção destes aparelhos, ia diminuindo ao longo de cada utilização. Assim, foi com a maior naturalidade, que muito pouco tempo após o seu aparecimento e após conversar e explicar à Administração do meu Hospital toda esta situação, no Serviço de Urologia que dirijo, deixámos de usar os Ureterorrenoscópios reutilizáveis, passando já há alguns anos, só a utilizar Ureterorrenoscópios “de uso único”.
Sobre este tema, e esta minha decisão, bastar-me-á referir, como é excelente para o cirurgião que vai realizar uma técnica urológica exigente e minuciosa, realizá-la com um aparelho que sabe que tem a máxima qualidade de imagem e flexibilidade…O tempo de cirurgia é certamente menor, a técnica é mais corretamente executada, os resultados serão certamente muito melhores e quem em primeiro lugar beneficia é o doente… E se só isso não bastasse, gostaria de referir, que quanto ao custo da utilização dos Ureterorrenoscópios “de uso único”, não tenho dúvidas que é muito mais económico.
Termino referindo que tentei apresentar este tema de uma maneira o mais sucinta possível e de uma forma não muito técnica, para que deste modo os leitores não médicos consigam facilmente perceber o que nele tentei transmitir. Oxalá o tenha conseguido…