A Saúde mental nos hospitais públicos uma perspetiva do lado do utente

Que a área da saúde em Portugal está doente, todos sabemos! No entanto, os problemas na assistência hospitalar a doentes com patologias também de foro mental, já vem de longe.

Dr.ª Manuela Ferreira Nunes, Advogada

Quando um doente dá entrada num serviço de urgência, o facto de constar do seu registo pessoal alguma doença de foro neurológico ou psiquiátrico, faz com que o tratamento que lhe é dado seja diferenciado. Mas em sentido negativo! Pois as queixas, o choro, o grito, são sempre associados à perturbação mental, ignorando que poderá ser motivado por outras queixas.

Os internados são assistidos de forma mecânica e os problemas de natureza mental ignorados. Mais uma vez, se o doente grita, “é da cabeça”, e é comum passar em enfermarias e ouvir doentes a gritar de forma dilacerante, perante a passividade e descontração dos profissionais, que parecem estar ensurdecidos.

Depois vem a questão da medicação, alguma tem de ser as famílias a levar, outra nem sequer é ministrada porque supostamente a farmácia do hospital não tem disponível…

Os profissionais de saúde habituaram-se a colocar o rótulo de “maluquinhos” aos doentes com patologia de foro mental, ignorando que são seres humanos que também padecem de outro tipo de doenças, que causam dor, medo, insegurança e ansiedade. E por isso choram, e por isso ficam agitados, e por isso gritam, e não é “da cabeça”!

Nos hospitais públicos faltam profissionais com empatia, com tolerância e paciência de modo a que se crie um necessário vínculo de confiança. Muita terapêutica SOS para descompensação seria desnecessária, quando a dão, se houvesse empatia entre o profissional e o doente. Certamente as reclamações diminuiriam.

Manifestações de irritação, choro, mutismo e silêncio são indicativos de que algo incomoda o doente aumentando a ansiedade, experiência comum a qualquer ser humano.

Os profissionais de saúde dos hospitais públicos demonstram trabalhar contrariados, desmotivados. E se é certo que haverão questões relativas a carreira, horários e vencimento, isso NUNCA deveria influenciar no tratamento dado aos doentes.

Precisam-se profissionais que se interessem em identificar o sofrimento do doente, querer conhecê-lo melhor e os problemas que o afligem, para reforçar o sentimento de auto-estima e reduzir o medo e as suas ansiedades.

Nos hospitais públicos, é notória a dificuldade dos profissionais em lidar com os problemas mentais dos doentes, então, ignoram-nos. Mas não há dúvida que a desconsideração dos fatores psíquicos e sociais dos pacientes influencia a evolução das doenças, mantendo-as ou agravando o quadro clínico.

A agressividade no doente, a maioria das vezes, é só uma forma de proteção do doente para expressar ansiedades.

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