Pedro Brás: O ceramista que ilumina a sua arte com a luz do “Farol”

Pedro Brás, ceramista, empreendedor e presidente de uma União de Freguesias, é uma figura que representa a história, arte e espírito comunitário. Com mais de 40 anos dedicados à cerâmica, trouxe uma nova perspetiva à arte através da sua loja-atelier “O Farol”. Nesta entrevista, reflete sobre a sua trajetória, as fontes de inspiração e a forma como equilibra a sua paixão artística com o compromisso de servir a comunidade.

 

 

Pedro Brás, Ceramista

 

A paixão pela cerâmica

Pedro Brás encontrou a cerâmica por necessidade, mas foi a paixão pela criação e pelo barro que o fizeram persistir. Desde cedo, o seu interesse esteve nas artes, particularmente na pintura. No entanto, as circunstâncias da vida e as condições financeiras dos seus pais impediram-no de ingressar num Curso Superior em Artes. “Sempre quis seguir Belas Artes, mas os meus pais não tinham condições para que eu pudesse estudar nessa área”, revela. Porém, esse revés não o afastou do mundo artístico. A cerâmica, que já o fascinava desde os tempos escolares, acabou por ser o caminho alternativo. “Escolhi a cerâmica, algo que sempre me fascinou, mesmo na escola, onde adorava mexer no barro e criar peças”, explica.

Nascido e criado em Caldas da Rainha, uma cidade com uma forte tradição cerâmica, teve a sorte de estar no lugar certo para seguir este ofício. No entanto, no início da sua carreira, a cerâmica ainda não tinha o prestígio que tem atualmente. “No passado, ser ceramista era visto como uma profissão menor, mas felizmente isso mudou. Hoje em dia, as pessoas reconhecem o valor desta arte ancestral”.

O significado de “Farol”

O ano de 2016 marcou um ponto de viragem na “O Farol”, com a inauguração de um novo espaço. O nome, tão significativo quanto o próprio Pedro, evoca luz, guia e acolhimento. “A palavra farol tem um significado especial para mim pelo verdadeiro sentido que ela tem, porque significa luz”, afirma. Mais do que um simples espaço comercial, a loja é o reflexo da sua filosofia de vida. “Quero que o meu espaço transmita essa luz, para que quem entre sinta essa energia positiva e acolhedora”, acrescenta.

Além de que, o ceramista considera que as suas peças, muitas delas inspiradas pela natureza, são portadoras de vida e têm uma mensagem. “As minhas peças são feitas com amor, e esse amor reflete-se nelas. Não são meros objetos inanimados, têm vida e transmitem uma mensagem”, sublinha.

 

 

A inspiração na natureza

Pedro encontra a sua principal inspiração na natureza. sentindo que as suas criações estão ligadas ao meio ambiente. Através da observação do mundo natural, as suas peças, muitas delas inspiradas no belo jardim em frente à sua loja, o Parque D. Carlos I, ganham forma. “O meu trabalho reflete-se nos elementos naturais – animais, plantas, flores, entre outros”, revelando assim o seu processo criativo.

Para si, a conexão com a natureza vai além da estética, sendo uma ligação que o leva a refletir sobre as forças que alimentam a sua criatividade: terra, ar, fogo e água.

O processo criativo

Embora a sua ligação com a natureza e a cerâmica seja forte, confessa que o momento atual, onde é exigido uma permanência constante pelo exercício de funções de presidente de União de Freguesias, todo o seu processo criativo está mais adormecido, muito embora a vontade de criar seja enorme. “Esta nova versão de mim não me tem permitido o tempo necessário para pôr em prática o que me dá mais prazer, que é criar algo do nada”, lamenta, reconhecendo que a criatividade é algo que flui quando há espaço para tal. “Pegar num pedaço de barro e deixá-lo transformar-se, muitas vezes, sendo o barro a dominar-nos e não nós a dominarmos o barro, mostra a essência do processo criativo e a liberdade de deixar a matéria ganhar forma naturalmente, sem imposições.

O serviço público

Além de ceramista, assumiu, em 2021, a função de presidente da União de Freguesias das Caldas da Rainha – Nossa Senhora do Pópulo, Coto e São Gregório. A decisão de entrar na política não foi premeditada, mas sim um desafio que surgiu do seu envolvimento com a comunidade. “O que me levou a aceitar este desafio autárquico foi o dever de cidadania”, realça, salientando que esta experiência tem sido um processo evolutivo, de uma aprendizagem constante e gratificante, embora por vezes, muito dura e extremamente violenta.

 

 

 

 

A estética contemporânea

A influência da tradição cerâmica das Caldas da Rainha com todos os seus artistas, clássicos e contemporâneos, é inegável no trabalho de Pedro Brás, contudo, o ceramista sente uma necessidade constante de olhar para o que era feito, dando-lhe uma nova roupagem e, consequentemente, uma nova vida. Considera que as suas interpretações das formas clássicas trazem uma nova vitalidade e uma mensagem própria, criando uma ponte entre o passado e o presente.

Para si, a simplicidade e a atenção ao detalhe são características que distinguem as suas criações e que refletem o seu bom gosto. “Muita gente diz que sou artista, mas eu não me vejo assim. Considero-me alguém de muito bom gosto e esse bom gosto reflete-se no que faço”, explica.

 

 

 

A arte como comunicação

Assumindo-se um artesão, considera que o seu trabalho tem tido um reconhecimento inegável. Para Pedro, arte é, acima de tudo, comunicação. “A arte, para mim, é comunicação, uma mensagem que quero transmitir”, reforçando a ideia de que a sua cerâmica é mais do que apenas técnica – é uma forma de expressar ideias e emoções.

O futuro

Questionado sobre o futuro, Pedro Brás revela uma abordagem pragmática. O cuidar e o amor à sua mãe é a sua prioridade. Continuar a respeitar o outro para que seja respeitado, a mesma vontade de sempre de servir, sem se querer servir são outros pontos incontornáveis.

Com uma visão positiva e com todos os desafios, está determinado a continuar a fazer o que ama, seja na cerâmica ou em qualquer outro projeto que abrace, tentando sempre manter a serenidade com que encara as adversidades da vida.

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