Autêntica, resiliente e apaixonada pela saúde mental, Ana Alturas é uma referência no universo da Psicologia e Psicoterapia, destacando-se não só pela sua competência técnica, mas também pelo seu exemplo de liderança e visão empreendedora. Em entrevista à Revista Business Portugal, partilha a sua perspetiva sobre os desafios e as particularidades da liderança feminina no setor da Psicologia, bem como a importância da persistência e do equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.

Quando questionada sobre o que as mulheres trazem de específico para a área da psicologia e da saúde mental, Ana Alturas destaca o rigor e a determinação. “As mulheres tendem a ser mais persistentes na liderança, devido à dificuldade histórica de aceder a determinados cargos, o que as levou a tornarem-se mais rigorosas e perfecionistas”, explica. Além disso, acredita que a perceção social das mulheres como figuras maternais pode influenciar a relação com os pacientes. “Há uma procura maior por mulheres nas consultas. Isso pode ser uma vantagem no nosso meio”.
Ana reconhece que ser mulher e ocupar um cargo de liderança traz desafios específicos. O modo como as mulheres são vistas em comparação com os homens acaba por exigir um esforço maior para alcançar o mesmo respeito e reconhecimento. “Os homens, quando chegam à liderança, não são questionados. Já as mulheres precisam de mais resiliência para ultrapassar estereótipos e preconceitos”, explica. Essa necessidade constante de provar competências pode ser desgastante. “A mulher, ao entrar nesse espaço, começa em desvantagem. Ela entra em esforço, e isso torna-a uma heroína, com uma imensa capacidade de resiliência. No entanto, acaba mais cansada, sendo também mais exigente consigo própria”.
Equilíbrio na gestão da equipa
A conciliação entre liderança, prática clínica e vida pessoal é um desafio constante, mas Ana Alturas vê nisso uma motivação. “Faço tudo isto por gosto. Estou na área certa, adoro trabalhar com pessoas e o que faço é desafiador, mas também é uma das profissões mais bonitas. Estamos sempre à procura de apoio e cura”.
Para ela, liderar uma equipa é como gerir um sistema social, no qual cada membro tem um papel fundamental. “A equipa é essencial, e não há hierarquias rígidas. Cada um tem uma contribuição única. Potenciar a equipa ao máximo é essencial para manter o equilíbrio”.
Liderança com autenticidade e persistência
Acerca dos desafios em altos cargos de liderança, Ana Alturas destaca a importância da autenticidade e do equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Para ela, as mulheres que alcançam estes cargos já possuem uma capacidade nata para liderar e, por isso, o essencial é manterem-se fiéis a si próprias. “O verdadeiro desafio é integrar a liderança na vida pessoal sem grande esforço, estando mais em self”, afirma. Além disso, defende que ser líder não significa abdicar de outros papéis: “Tal como um homem não deixa de ser pai, uma mulher também pode conciliar a liderança com ser mãe, amiga e tudo o que quiser ser”.
Para Ana Alturas, a igualdade é um caminho que deve ser percorrido com rigor e persistência. “As mulheres são boas profissionais e têm demonstrado, ao longo do tempo, que são muito capazes. No entanto, ainda existem injustiças gritantes. Trabalhamos tanto quanto os homens, mas ainda há uma grande discrepância salarial”, destaca.
Apesar disso, acredita que a solução passa pelo mérito e não pelo extremismo: “Devemos continuar a batalhar pela igualdade através do rigor, do bom trabalho, atingindo patamares de excelência. O caminho é esse: continuar, sem desistir”.
A história de Ana Alturas é um exemplo de superação e liderança, um reflexo do poder transformador das mulheres na psicologia e nas diversas áreas em que atuam, constantemente desafiando os estereótipos e provando que o sucesso não tem género.