O Acidente Vascular Cerebral em Portugal – um desafio sempre actual

Dr. Alexandre Amaral e Silva, Médico Neurologista e Membro da Direção da Sociedade Portuguesa do AVC

 

No dia 29 de Outubro comemora-se mais um Dia Mundial do AVC. O AVC, doença súbita causada pela interrupção do fornecimento de sangue ao cérebro, continua a ser a primeira causa de morte e incapacidade em Portugal. Apesar dos avanços verificados na rede de cuidados hospitalares e nos tratamentos disponíveis, que contribuíram para uma redução importante da mortalidade, o impacto pessoal, familiar, social e económico continua a ser esmagador. Uma em cada 6 pessoas terá um AVC ao longo da sua vida e, em Portugal, a cada hora, 3 pessoas sofrem um AVC, das quais 1 acaba por falecer e metade fica com algum grau de incapacidade. Falamos de mais de 20 000 internamentos e perto de 6 000 óbitos por ano.

A chave para um combate eficaz a esta doença reside, desde logo, na prevenção e educação ativa para a saúde, que devem ter início ainda na infância. A promoção de estilos de vida saudáveis, incluindo uma dieta pobre em sal e gorduras, a redução do consumo de tabaco e álcool ou a prática regular de exercício físico, bem como o adequado controlo de fatores de risco, como a hipertensão, a diabetes, o colesterol elevado ou as arritmias cardíacas, são pilares essenciais para a redução dos casos de AVC. O acompanhamento médico regular, com realização de avaliações clínicas e exames periódicos, é também uma peça importante desta promoção para a saúde.

Outro vector fundamental é a capacitação da população para o reconhecimento precoce dos sinais de alarme do AVC – Fala (dificuldade em falar), Face (desvio da face) e Força (diminuição da força num braço ou numa perna) – perante os quais deverá ser contactada de imediato a linha de emergência médica – 112. Só desta forma é possível activar a Via Verde do AVC e fazer chegar, rapidamente, os doentes com suspeita de AVC aos hospitais, com capacidade para realizar os tratamento necessários, evitando ou minimizando os danos causados ao cérebro e as suas consequências. “Tempo é cérebro” e todos os minutos contam, pois a eficácia destes tratamentos é fortemente dependente da rapidez da sua realização, uma vez que a tolerância do tecido cerebral à privação de sangue é muito limitada. É, portanto, fundamental, que todos consigam reconhecer atempadamente estes sinais de alarme.

Numa fase posterior, para todos aqueles que ficam, de alguma forma, limitados pelo AVC, o processo de reabilitação é decisivo para o desejado retorno a uma vida “normal”. Dotar os hospitais de condições para o início precoce da reabilitação, incluindo fisioterapia, terapia da fala, terapia ocupacional, reabilitação cognitiva, entre outras modalidades, é, mais do que uma necessidade, um direito das vítimas de AVC e que deve ter continuidade em programas de reabilitação de fase pós-aguda, em Centros de Reabilitação e outras estruturas diferenciadas. Só com estes recursos, infelizmente nem sempre acessíveis, poderemos potenciar e maximizar a recuperação dos doentes e aumentar as probabilidades de uma recuperação completa e de uma adequada reintegração familiar, social e laboral.

Como se percebe do exposto acima, o caminho é sinuoso e desafiante, não se esgotando nas acções dos profissionais de saúde, mas antes impondo um esforço concertado e transversal de toda a sociedade. O período pandémico que vivemos e os desafios geopolíticos, sociais e económicos com que nos vemos confrontados nos dias de hoje, não nos devem, ainda assim, desviar do caminho do combate a este verdadeiro problema de saúde pública. Sejamos todos agentes activos do combate ao AVC!

 

O Dr. Alexandre Amaral e Silva não escreve segundo o novo acordo ortográfico.

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