Há 520 anos a servir a comunidade de Montemor-o-Velho
A Santa Casa da Misericórdia de Montemor-o-Velho vai fazer 520 anos. A instituição é, dessa forma, uma das mais antigas do país, tendo celebrado, no ano de 1998, os 500 anos desde a sua fundação – foi, assim, considerada uma das 13 Santas Casas da Misericórdia penta centenárias. O Provedor, Manuel Carraco, acredita que é importante ter a noção de que o serviço é para e com a comunidade. Em entrevista à Revista Business Portugal realça a importância da atuação junto das comunidades locais.
Passado e presente: ao serviço da comunidade
A história que se encontra por detrás da origem da Santa Casa da Misericórdia de Montemor-o-Velho é, por vezes, motivo de conversa. A não existência de documentação da época que comprove a sua data de fundação, tem causado alguma dúvida sobre a idade. Mas não há dúvida face ao serviço que a Santa Casa da Misericórdia de Montemor-o-Velho tem vindo a desenvolver na comunidade local. Promovendo o profissionalismo e o respeito pela dignidade humana, a prestação da Santa Casa passa, principalmente, pelo apoio social, ao longo dos últimos cinco séculos. O percurso tem sido umas vezes melhor, outras vezes pior, mas sempre de encontro ao que a sociedade necessita. A situação política mais delicada marca também o trabalho que a instituição desenvolve.
Numa comunidade onde as reformas são muito baixas, a população envelhecida não consegue suportar o custo de uma mensalidade. Assim, há uma comparticipação por parte do Estado, ainda que não seja suficiente – a dificuldade é, por isso, “tremenda e complicada de gerir. Equilibrar o barco é, para Manuel Carraco, fundamental. O setor da saúde é, todavia, um “apoio fundamental para que as contas se vão aguentando”. O Provedor realça que “trabalho e iniciativas não nos faltam”. “É com o espírito de pró-atividade e iniciativa que conseguimos trabalhar com a comunidade local, durante tantos anos”, destaca.
“O problema da gestão das instituições onde os gestores não têm rendimentos vai sendo cada vez mais delicado”, salienta. Ainda que já se considere na idade da reforma, a mesma não tem sido possível, pois a Santa Casa precisa de si. “Estou aqui por gosto”, confessa. “Somos responsáveis civil e criminalmente e o vencimento é zero”, por isso é “cada vez mais raro aparecer alguém que queira aceitar este cargo”. As associações culturais e desportivas, em todo o país, “sentem o mesmo problema que nós”. O Provedor salienta ainda o papel que tem vindo a ser assumido pelas mulheres. Contudo, “a complicação da vida e a necessidade de remuneração”, leva a que também elas optem por não escolher este tipo de cargos, à semelhança do que já acontecia, anteriormente, com o sexo masculino. “As mulheres têm capacidades extraordinárias e são mesmo muito capazes”, destaca. Em entrevista à Revista Business Portugal, Manuel Carraco realça a relação profissional entre o homem e a mulher – “a verdade é que a mulher tem razão vezes demais e o homem, ao ver que a mulher consegue fazer várias coisas e as faz bem, também se acomoda pois sabe que ela é capaz de fazer aquilo”.
O envelhecimento da população é, também, uma das preocupações da instituição. Quer seja em centro de dia ou lar, quer seja através de apoio domiciliário – “que é muito complicado porque as pessoas estão em suas casas e recebem o conforto mas é relativamente caro”, a Santa Casa da Misericórdia de Montemor-o-Velho tenta apoiar a populaça mais envelhecida. Em muitos dos casos, acrescenta, “as únicas pessoas que os idosos vêem durante o dia são os nossos colaboradores”. “Se eles têm familiares? Claro que têm… Mas não lhes prestam o cuidado que é preciso”, lamenta. Salienta ainda que “a saúde não pode ser um monopólio dos médicos”, sendo por isso fundamental a atuação e os serviços prestados pela Santa Casa da Misericórdia. Ao longo dos mais de 15 anos em que está à frente da Instituição, Manuel tem tentando, também, combater a falta de nascimentos que se sente. “O que deve ser procurado é o melhor para as pessoas”, conclui.