A Eugster/Frismag Portugal afirma-se hoje como uma referência industrial que combina precisão suíça, engenharia portuguesa e uma cultura de exigência partilhada com algumas das marcas de café mais prestigiadas do mundo. Em diálogo com João Cachatra (CEO), Luís Novo (COO) e Bruno Carvalho (CFO), a direção revela como a filial de Torres Vedras tem consolidado o seu posicionamento no ecossistema global do Grupo, equilibrando inovação tecnológica, fiabilidade produtiva e uma discrição que é, mais do que um valor, uma forma de estar.
De que forma a Eugster/Frismag Portugal define hoje o seu posicionamento competitivo num mercado global de máquinas de café de alta qualidade?
A Eugster/Frismag AG é um grupo suíço, especializado no desenvolvimento e fabrico de máquinas de café de alta qualidade. Como um dos principais players internacionais no setor de Fabricantes de Equipamento Original (OEM), o Grupo exporta para todo o mundo e mantém parcerias sólidas e duradouras com as marcas líderes do mercado. A Eugster/Frismag Portugal, subsidiária do Grupo localizada em Torres Vedras, é uma das cinco fábricas, juntamente com três na Suíça e uma na China. Operamos em consonância com a direção estratégica do Grupo e mantemos o seu compromisso com a inovação, a qualidade e a excelência no fabrico.
Como é que a empresa equilibra o foco em inovação tecnológica com a necessidade de garantir fiabilidade e robustez industrial em grande escala?
Olhamos para a inovação tecnológica como um meio e não como um fim em si mesmo. Qualquer nova tecnologia é primeiro testada em ambiente controlado, em processos piloto, com critérios claros de avaliação: impacto nos fluxos produtivos, estabilidade do processo, retorno no resultado operacional e facilidade de manutenção ao longo do ciclo de vida. Só depois de demonstrar robustez e repetibilidade é que é implementada e escalada. Este trabalho é sempre feito de forma integrada entre as várias equipas e os nossos sistemas, para garantir que a inovação acrescenta valor sem comprometer a fiabilidade industrial que os nossos clientes esperam.

Que processos internos asseguram que a “compreensão irrepreensível de qualidade” se traduz, de forma consistente, em produtos competitivos e duradouros no mercado?
Para nós, a qualidade começa muito antes da linha de montagem: na definição do produto, escolha de materiais, especificações funcionais, conceção e fabrico dos moldes e nos testes de vida que realizamos para compreender todas as interações num produto tecnológico como o nosso.
Acreditamos que a qualidade se constrói no processo, com normas internas rigorosas, autocontrolo na produção, instruções claras e formação contínua das equipas com metodologias comprovadas.
Além disso, os sistemas de seguimento em tempo real permitem-nos reagir rapidamente a qualquer desvio.
Esta combinação de fatores garante produtos competitivos, consistentes e duradouros.
Em que medida o design – tanto funcional como estético – influencia as decisões de engenharia e desenvolvimento de novos modelos para diferentes geografias e perfis de consumidor?
O design influencia diretamente as nossas decisões de engenharia, mas trabalhamos desde o início para garantir que a identidade visual e a experiência de utilização pretendidas são compatíveis com soluções técnicas robustas, manufaturáveis e adaptadas às diferentes geografias e perfis de consumidor. Defendemos um mindset que procura encontrar o equilíbrio entre a visão da marca, as expectativas de cada mercado e a fiabilidade industrial que temos de garantir.
Pode partilhar exemplos de como a colaboração com grandes marcas internacionais impulsionou soluções técnicas ou de design que não surgiriam num contexto puramente interno?
A colaboração com parceiros internacionais de grande notoriedade, tem sido um dos nossos principais motores de evolução técnica. A complexidade crescente das máquinas atuais, que combinam extrações de café muito consistentes, sistemas de fluidos capazes de preparar uma variedade alargada de bebidas quentes e frias e requisitos elevados de precisão mecânica e eletrónica, leva-nos a explorar soluções que dificilmente surgiriam apenas dentro da empresa.
A exigência partilhada obriga-nos a acelerar a inovação e faz-nos elevar sempre o nível técnico do que produzimos.
Como é que a Eugster/Frismag Portugal interpreta e antecipa as tendências de consumo em diferentes mercados, de forma a apoiar os seus parceiros na criação de linhas de produto com maior probabilidade de sucesso sustentável?
O facto de trabalharmos com clientes de mercados distintos dá-nos uma leitura muito clara dos padrões de consumo e da sua evolução.
Acompanhamos dados de utilização, preferências por tipo de bebida, sensibilidade ao tema da sustentabilidade e expectativas de funcionalidades digitais. Por exemplo: em alguns mercados tem crescido a procura por bebidas frias e extrações mais leves, enquanto em outros o foco continua a ser intensidade e consistência do expresso. Esta diferença leva a soluções técnicas que influenciam as decisões de engenharia culminando em máquinas que conseguem tirar 51 tipos de bebidas diferentes.
A partir destas tendências, ajudamos os nossos parceiros a combinar o que o consumidor valoriza com o que é industrialmente viável e sustentável no longo prazo.

Que critérios são determinantes para que novos parceiros de marca selecionem a empresa, tendo em conta os elevados requisitos de qualidade, design e reputação que caracterizam a vossa carteira de clientes?
Normalmente, são valorizados pelos parceiros três aspetos: a nossa experiência na industrialização de produtos tecnicamente complexos com elevados padrões de qualidade e design; a capacidade de adaptar o modelo industrial a diferentes produtos, volumes e mercados, garantindo flexibilidade; e a forma como encaramos a relação, como uma parceria que cria valor, inspira confiança e entrega uma experiência completa. Esta visão orienta o nosso trabalho e explica porque continuamos a ser escolhidos por marcas que procuram diferenciação e fiabilidade.
A discrição é apresentada como um valor central. Como se traduz esse princípio em práticas concretas no dia a dia, sobretudo quando trabalham com várias marcas concorrentes entre si?
Essa descrição faz parte do ADN da Eugster/Frismag e está profundamente enraizada na forma como trabalhamos. No dia a dia, traduz-se numa relação de total confiança e respeito mútuo com as marcas para quem produzimos. Estas sabem que trabalhamos com outros parceiros do setor, mas têm a garantia de que nunca partilhamos informações sensíveis ou detalhes técnicos sobre produtos concorrentes. Esta postura estende-se também à nossa comunicação externa, quase inexistente em termos de marketing. As poucas divulgações que fazemos focam-se sobretudo no nosso papel enquanto entidade socialmente responsável e empregador de referência, reforçando a confiança e a longevidade das parcerias.
Que traços culturais e de governance considera essenciais para manter, a longo prazo, relações de confiança com algumas das marcas mais exigentes e reconhecidas do mundo?
Baseamos as nossas relações com as marcas numa cultura de rigor, transparência e respeito mútuo. A empresa mantém autonomia estratégica ao focar-se exclusivamente na produção, enquanto a distribuição permanece a cargo dos parceiros, garantindo clareza de papéis e ausência de conflitos de interesse.
Embora os clientes não participem nas decisões estratégicas, contribuem de forma essencial para o desenvolvimento dos produtos, numa colaboração técnica que valoriza a confiança e a partilha responsável de conhecimento. Este equilíbrio entre independência, cooperação e confidencialidade sustenta relações duradouras com algumas das marcas mais exigentes do setor.
De que forma a aposta contínua na formação dos vossos colaboradores tem contribuído para desenvolver competências internas e reforçar a competitividade da Eugster/Frismag Portugal?
A formação tem um papel estratégico na nossa competitividade. A nossa Academia certificada pela DGERT garante padrões de qualidade na capacitação das equipas e permite-nos desenvolver colaboradores qualificados em áreas críticas como engenharia, qualidade e liderança, e em áreas mais operacionais.
Temos processos de aprendizagem estruturados (desde acolhimento, integração, formação técnica e desenvolvimento comportamental) respondendo mais rapidamente às necessidades dos clientes e às exigências de um setor altamente tecnológico.

A saúde, segurança e bem-estar são hoje fatores críticos de sustentabilidade industrial. Como é que a vossa equipa médica e de SST influenciam o desempenho, a retenção e o ambiente de trabalho?
A prevenção é um eixo central da nossa estratégia de pessoas. Por isso, investimos numa equipa de saúde multidisciplinar (médicos de trabalho, psicólogo, nutricionista, enfermeiros e fisioterapeuta) para monitorizar riscos, intervir precocemente e acompanhar de perto as equipas. Contamos também com Técnicos Superiores de SST, ergonomistas e socorristas e desenvolvemos programas de formação e melhoria que reduzem riscos e previnem acidentes e doenças profissionais. Ao cuidar da saúde ocupacional e das condições de trabalho, protegemos as pessoas e reforçamos a estabilidade, qualidade e fiabilidade, sustentando o desempenho de longo prazo da empresa.
Como antecipa a Eugster/Frismag Portugal os principais desafios e oportunidades do setor para os próximos cinco a dez anos e de que forma a empresa se está a preparar para responder a um mercado em constante transformação tecnológica, ambiental e social?
Os desafios e oportunidades são inúmeros. Mas podemos destacar alguns desafios como a Automação e digitalização de processos, a escassez de mão de obra, a gestão da cadeia de abastecimento, a gestão e racionalização dos custos e a Sustentabilidade (ESG).
Estes constituem simultaneamente oportunidades para a empresa melhorar a sua performance e o seu posicionamento no mercado.
Nesse âmbito, estamos a fazer o nosso caminho no sentido da atualização tecnológica, procurando simultaneamente equilibrar o desenvolvimento com as preocupações ambientais e sociais crescentes, que têm que necessariamente fazer parte da componente estratégica de qualquer empresa, no presente e no futuro.





