Entrevista exclusiva Teresa Guilherme
Teresa Guilherme é uma das caras mais conhecidas e queridas do público português. Ao longo de várias décadas, provou o seu valor em diversas áreas, como a apresentação, representação, produção ou ensino, e quase que a podemos chamar de “Mulher dos Sete Ofícios”. Em entrevista à Revista Business Portugal, falou sobre a evolução da sociedade, da televisão e daquela que é a sua visão para o futuro.
A Teresa é, sem dúvida, a maior referência nacional na área da comunicação associada ao entretenimento. Sendo este um mundo de egos, acredita que é mais difícil para as mulheres fazerem-se ouvir e alcançarem um lugar de destaque?
Como produtora e apresentadora, sempre trabalhei com homens que estavam sentados na cadeira do poder, mas as minhas capacidades de trabalho, de organização e de concretização dos projetos, fizeram com que me tornasse numa profissional respeitada. Continuamos num mundo onde os homens é que mandam, mas devagarinho, passo a passo, há cada vez mais mulheres que se destacam em várias áreas. Acredito que estamos a caminhar para a igualdade entre homens e mulheres.
Na sua ótica, quais as características que distinguem uma liderança no feminino da liderança no masculino? Acredita que o poder de argumentação, aliado à sensibilidade do sexo feminino podem ser fatores preponderantes para o sucesso das empresas?
Considero que as mulheres são mais organizadas e focadas nos objetivos que querem alcançar, talvez porque vivemos numa sociedade em que estas mulheres têm de provar, constantemente, que são capazes. Mas concordo que o poder de argumentação e a sensibilidade feminina são fatores que as tornam boas líderes.
A Teresa já apresentou uma enorme variedade de programas, com diferentes formatos, na televisão portuguesa. Se tivesse de escolher apenas um, qual é que diria ser o seu preferido?
É muito difícil escolher apenas um, porque cada um deles tem as suas particularidades e todos me deram prazer fazer, como apresentadora ou produtora. No entanto, se tivesse de escolher um, talvez fosse o “Eterno Feminino”, que foi o primeiro que apresentei e acaba por ser uma referência para mim. Naquela altura, não haviam programas que tivessem as mulheres como temática e o público feminino ainda não tinha sido completamente descoberto. Por esse motivo, gostei muito de fazer esse programa.
Além de produtora, apresentadora e atriz, ainda organiza palestras e cursos de comunicação como, por exemplo, “PALAVRAS VISTAS”. No seu ponto de vista, é importante partilhar a sua história e conhecimento com os mais jovens? Os alunos têm por hábito pedir-lhe conselhos?
Após fazer o “Eterno Feminino”, comecei a receber convites para discursar em universidades, organizar cursos ou dar palestras, e sentia que, daquela forma, podia ajudar aqueles jovens, que tinham o sonho de ser apresentadores. Portanto, ao longo dos anos, dei muitas aulas e masterclasses, acabando por juntar o “útil ao agradável” e concretizar um desejo que tinha desde criança, que era ser professora.
Nos meus cursos, tenho tido centenas de alunos que pensam que comunicar é só falar, mas, na verdade, comunicar é falar e ser ouvido. Um dos principais problemas que as pessoas enfrentam, no que à comunicação diz respeito, é o medo de falar em público e, felizmente, tenho visto resultados fantásticos na evolução dos meus alunos. Eles conseguem ultrapassar esse medo, vencê-lo e alcançar o sucesso nos seus negócios.
Depois de tantos anos a marcar presença nos “ecrãs” e na vida dos portugueses, o que é que o público ainda não conhece sobre si?
Eu sempre me mostrei ao público como sou: a rir, a chorar, a mostrar as minhas emoções. Nunca escondi aquilo que sou e, enquanto profissional, acho que há pouca coisa que ainda não saibam sobre mim.
Se há algo que sempre se mostrou ser, é uma mulher sem tabus e, ultimamente, tem abordado temas como a sexualidade feminina nos seus espetáculos (“Monólogos da Vagina” e “Agora é que São Elas”). Acredita que é cada vez mais importante debater estes assuntos, de modo a desmistificar algumas ideias pré-concebidas da sociedade?
Não faz sentido que, em 2023, o sexo ainda seja um tabu. Com os “Monólogos da Vagina”, têm acontecido episódios muito engraçados. Inicialmente, as pessoas mostram-se um pouco envergonhadas, mas depois, quando eu desço para a plateia e atiro perguntas como: “A que deve cheirar uma vagina?”, o público solta-se e dá respostas totalmente inesperadas e muito divertidas. Isto só prova que é importante falar destes assuntos sem qualquer espécie de preconceito.
Com mais de 30 anos de experiência em televisão, a Teresa foi acompanhando a evolução do meio. Com a transformação digital e o aparecimento das plataformas de streaming, por onde é que poderá passar o futuro da televisão?
A televisão deixou de ser só a “caixinha mágica” que mudou o mundo, e a forma como as pessoas veem e usufruem da televisão começou a alterar-se quando nos deram a opção de “puxar para trás” e gravar programas, quase como se fosse um direto que podemos ver quando quisermos. Sinto que já não se olha tanto para a televisão como uma companhia e as plataformas de streaming contribuíram para isso. Atualmente, vemos televisão em vários dispositivos e cada pessoa cria o seu próprio canal, com os programas que quer ver, e faz a sua própria programação. No entretenimento, há muito tempo que já não aparecem coisas novas. É sempre a cópia, da cópia, da cópia. Ou então, repetem vezes sem conta os mesmos formatos, é uma programação horizontal. Não diria que a televisão poderá acabar, mas talvez se possa tornar numa plataforma.
Para terminar, uma vez que nos aproximamos do Dia Internacional da Mulher, gostaria de deixar algumas palavras às mulheres que ambicionam traçar um percurso de sucesso?
Nas últimas décadas, a atitude, quer dos homens, como das mulheres, tem mudado e é notória a evolução da sociedade, e é muito bom assistir a isso. As mulheres, que antes teriam de abdicar de uma parte da sua vida, normalmente o trabalho, hoje podem dedicar-se a várias facetas da sua vida e viver num equilíbrio. Principalmente as gerações mais jovens, demonstram uma enorme determinação e vontade de provar o seu valor. Agrada-me ver que as mulheres já são membros da sociedade a tempo inteiro e podem ser exatamente aquilo que quiserem.
Para aquelas que ambicionam um percurso de sucesso, tenho três palavras: trabalhem, trabalhem e trabalhem. Este tem sido o meu mote. Sou muito exigente comigo mesma e sei que consigo sempre fazer melhor.