Os resultados da primeira fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior Público (Universitário e Politécnico) assinalam, face a 2024, uma redução nas candidaturas e um acréscimo expressivo no número de vagas sobrantes – mais de onze mil, que terá correspondido ao máximo da última década.
É essencial compreender e agir sobre as causas desta evolução, que serão várias:
- Reflexos da dinâmica demográfica? Sim, seguramente.
- Consequências dos custos associados, nomeadamente do “proibitivo” custo do alojamento em contexto de mobilidade geográfica do estudante? Sem sombra de dúvida.
- Sinais de uma menor valorização do ensino superior por parte dos jovens? É um risco a considerar, mas acredito que a formação superior continua a ser vista como um investimento estratégico, tanto do ponto de vista individual como coletivo.
- Limitações do modelo de acesso? Os especialistas saberão avaliar …

O ensino superior tem sido, com justiça, descrito como um “elevador social”. Para além da melhoria individual da condição social, a sua relevância estende-se à esfera económica: promove a inovação, sustenta a evolução tecnológica, contribui para a sofisticação da estrutura produtiva e conduz a acréscimos de produtividade das empresas e da economia nacional, condição essencial para uma trajetória consistente de crescimento e desenvolvimento económico do país.
É verdade que a maior taxa de colocação poderá indicar um ajustamento entre oferta e procura no ensino superior público. Porém, é preocupante a perceção de que o futuro profissional dos jovens passa pelo estrangeiro. São vários os jovens que vão ingressar no ensino superior público a afirmarem, com convicção, de que, finalizado o seu curso, vão escolher trabalhar no estrangeiro. Portugal não será a sua opção, por não oferecer perspetivas remuneratórias competitivas.
Reconhecendo o valor estratégico do ensino superior, as políticas públicas devem garantir as melhores condições para as pessoas e para a melhoria da produtividade e competitividade das empresas, os fatores que viabilizam a prática de melhores níveis de remuneração dos seus colaboradores. Em todo este sistema, as empresas não são meras recetoras, são agentes ativos na valorização dos percursos académicos, na criação de oportunidades qualificadas e na retenção de talento.
Embora, em termos de calendário, estamos a alguma distância das propostas para o Orçamento do Estado para 2026, esta é matéria que deve merecer redobrada atenção.
A atual conjuntura internacional – vincada por uma clara tendência de políticas económicas protecionistas, com países a reforçarem barreiras comerciais e a priorizarem cadeias de valor nacionais ou regionais -, constitui um ambiente muito desafiador. Simultaneamente, abre oportunidades para os países que souberem dotar as suas empresas de talento bem preparado. O tecido empresarial, independentemente da sua dimensão ou setor de atividade, enfrenta uma pressão crescente para inovar, adaptar-se rapidamente às mudanças tecnológicas, com destaque para o avanço exponencial da Inteligência Artificial, e posicionar-se de forma competitiva num mercado internacional cada vez mais feroz. Jovens com formação superior estão, por norma, mais bem preparados para responder a estas exigências, apresentando capacidade de pensamento crítico e resolução de problemas complexos. Além disso, a presença de quadros muito qualificados nas organizações promove práticas de gestão mais eficientes e fortalece a capacidade de internacionalização das empresas.
Valorizar o capital humano não é um luxo, é, hoje mais do que nunca, um imperativo estratégico. Reafirmo, as pessoas são o principal ativo, em qualquer organização!
Por último, é essencial assegurar um esforço contínuo de articulação entre o sistema de ensino superior e o tecido empresarial, garantindo que os planos curriculares acompanham a evolução do mercado.




