Doença venosa crónica- um problema de saúde pública

Dr. Roger Rodrigues, Especialista de Angiologia e Cirurgia Vascular pela Ordem dos Médicos, Assistente Hospitalar de Angiologia e Cirurgia Vascular no Hospital de Braga e Angiologista e Cirurgião Vascular no Hospital Lusíadas de Braga

 

A doença venosa é uma patologia crónica e evolutiva, cujas manifestações clínicas mais graves estão registadas desde tempos bíblicos. Em Portugal, à semelhança de outros países ocidentais, a doença tem uma elevada prevalência, atingindo cerca de 35% da população adulta, com maior incidência nas mulheres, a partir dos 30 anos, embora também afete os homens.

Esta patologia resulta do mau funcionamento das veias das pernas, em consequência de alterações na sua parede e nas válvulas das mesmas. O sangue tem mais dificuldade em ser transportado de regresso ao coração e acumula-se nas pernas, desencadeando uma inflamação crónica na parede das veias.

 

O impacto desta doença na saúde dos portugueses é, sem dúvida, impressionante, ficam aqui alguns dados:

 

  • 2 milhões de mulheres são afetadas por esta patologia.
  • 58% da população feminina com mais de 40 anos de idade tem a sua qualidade de vida significativamente afetada pela doença venosa crónica.
  • Em Portugal, é responsável pela perda de um milhão de dias de trabalho por ano.
  • 21% dos doentes portugueses referem ter tido que mudar de posto de trabalho.
  • É responsável pela reforma antecipada de 8% dos doentes em Portugal.

 

 

A doença venosa, na maioria das vezes, começa com um desconforto nas pernas, progredindo gradualmente para varizes, edema, alteração da cor da pele (hiperpigmentação) e úlceras. Por vezes, é complicada por trombose venosa superficial ou profunda, que é quando um coágulo se forma numa veia, causando a sua obstrução. Vários fatores de risco podem estar ligados ao início e à progressão da doença venosa crónica, alguns deles estão relacionados com o estilo de vida.

 

A doença apresenta vários graus de gravidade, que vão desde a presença de telangiectasias (derrames) até ao aparecimento de uma úlcera da perna.

A úlcera varicosa tem um grande impacto na qualidade de vida dos doentes, devido ao seu caráter crónico, recidivante e por ser difícil de tratar.

Esta patologia acaba por ter também um impacto sócio-económico muito relevante, 54.8% acabam por pedir suspensão laboral temporária.

 

Os derrames, apesar de serem, na sua grande maioria, assintomáticos afetam a autoestima das pessoas, condicionando, em muitos casos, a forma como se vestem, na medida em que muitas mulheres evitam usar saia, com vergonha de expor as pernas e, noutros casos, deixam de frequentar locais como praias e piscinas, por esse mesmo motivo.

 

Assim, sempre que existam sintomas de insuficiência venosa, deve ser realizada uma avaliação por um especialista em Cirurgia Vascular, com o objetivo de se obter um diagnóstico precoce e, dessa forma, permitir um tratamento atempado e adequado à situação clínica.

O tratamento deve ser iniciado, o mais precocemente possível, de forma a prevenir o aparecimento de varizes e de outras complicações mais graves associadas à doença. Um estilo de vida saudável é um dos melhores hábitos a ter, passando por caminhadas e uma alimentação equilibrada. Evitar ficar muito tempo sentado ou em pé, e não usar saltos altos todos os dias são outras medidas que podem reduzir os sintomas.

Os fármacos venoativos e o uso de meias elásticas são também eles chave para melhorar o funcionamento do sistema venoso.

 

Em relação aos tratamentos cirúrgicos mais comuns, cada paciente deve ser avaliado do ponto de vista clínico e analisadas as alterações no funcionamento do sistema venoso, de forma a definir uma estratégia cirúrgica individualizada.

O tipo de cirurgia utilizada depende de vários fatores, sendo a preocupação estética e o tempo de recuperação aspetos importantes na tomada de decisão.

 

Atualmente, estão disponíveis técnicas minimamente invasivas, das quais se destacam a radiofrequência e o laser. Estas técnicas têm resultados a longo prazo, sobreponíveis à cirurgia clássica, mas com menor dor pós-operatória e retoma do trabalho mais precoce. Cerca de 90 a 95% dos casos podem ser realizados em ambulatório, com uma estadia média hospitalar inferior a 12h.

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