“Devemos prevenir a infertilidade e promover a fertilidade”

Numa entrevista exclusiva, Luís Ferreira Vicente, Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina de Reprodução (SPMR), partilha a sua visão sobre os desafios enfrentados, as recentes conquistas científicas e as expectativas para o futuro da reprodução assistida no país.

 

 

 

Recentemente, assumiu a presidência da Direção da Sociedade Portuguesa de Medicina de Reprodução (SPMR). Que visão tem para a SPMR e que inovações e avanços pretende implementar?

A Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução tem vivido, nos últimos anos, uma atividade muito intensa. É muito interessante participar no rejuvenescimento duma Sociedade científica.

Com a evolução científica constante e com atualizações que revogam paradigmas e dogmas anteriores, a discussão científica dentro de uma sociedade torna-se premente na nossa área.

Para além disso, tem vindo a ser alargada a atividade a todos os profissionais que trabalham nesta área: médicos, embriologistas, enfermeiros e psicólogos. Conseguir um equilíbrio entre todos é um desafio que nos motiva para tornar a Sociedade mais forte. Tenho a honra de contar com uma equipa da direção excecional, que está preparada para orientar a Sociedade nos próximos três anos.

 

Quais os principais objetivos e prioridades da medicina da reprodução em Portugal?

Neste momento, a Medicina da Reprodução não se limita apenas aos tratamentos de infertilidade. É essencial na preservação do potencial reprodutivo, dos homens e mulheres, quer num contexto de ameaça oncológica, quer num contexto social. A Medicina da Reprodução permite também a realização do diagnóstico genético pré implantação. A Medicina da Reprodução é muito abrangente e implica um trabalho de equipa entre todos os envolvidos nos procedimentos. A atividade da Medicina da Reprodução portuguesa está ao nível dos melhores centros em todo o mundo, em termos de técnicas efetuadas e de resultados.

 

Que estratégias gostaria de destacar ao nível da colaboração e parcerias com outras instituições médicas, organizações de saúde, associações de doentes, entidades governamentais (portuguesas e internacionais), entre outras?

Vamos dar continuidade ao estreitamento de relações com sociedades congéneres com condições especiais aos sócios. Foi o caso da fundação de Federação Ibero-Americana de Reprodução Humana (FIbARH) que decorreu na Corunha em maio de 2024. A SPMR é uma das Sociedades fundadoras, que vai promover a ligação de todos os profissionais destas sociedades. A SPMR está pronta para colaborar com o Conselho de PMA, outras entidades governamentais e associações de doentes no interesse último dos doentes.

 

Junho é Mês de Consciencialização para a Fertilidade. Que iniciativas se podem desenvolver no sentido de aumentar a consciencialização sobre questões relacionadas com a medicina da reprodução (incluindo a importância da saúde reprodutiva) e os avanços científicos nessa área?

Como Sociedade científica, temos a preocupação de promover a divulgação e atualização da área da Medicina da Reprodução entre os pares. Mas, para além disso, consideramos extremamente importante o papel social de promoção dos conhecimentos de saúde reprodutiva na população em geral. De facto, temos as soluções científicas para permitir a preservação social, mas temos de ter a preocupação de pressionar os decisores políticos para criar as condições para que a gravidez seja possível em idades mais jovens, por exemplo.

Devemos prevenir a infertilidade e promover a fertilidade. Este mês foi criado para idealmente se alertar e consciencializar para a fertilidade, numa altura em que a OMS publicou que a prevalência global da infertilidade atinge 1 em cada 6 casais em alguma fase das suas vidas.

 

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Mês da Consciencialização para a Fertilidade

Assinala-se durante o mês de junho e foi instituído no sentido de se alertar para um problema que, segundo a OMS, afeta 48 milhões de casais e cerca de 186 milhões de pessoas que vivem com infertilidade em todo o mundo. Em Portugal, 15% a 20% dos casais em idade reprodutiva sofre de infertilidade e 30% das causas da infertilidade são associadas aos dois sexos. Esta iniciativa visa ainda estimular os casais a procurarem os tratamentos adequados para concretizarem o sonho de serem pais.

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