Cuidar a pessoa em todas as dimensões

A Congregação das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus nasceu com a missão de cuidar de forma integral e personalizada pessoas com doença mental/deficiência intelectual. Miguel Ângelo Queirós, em entrevista à Revista Business Portugal realça a importância de priorizar a saúde mental em tempos de pandemia.

O vosso trabalho em Portugal há mais de 125 anos foi evoluindo numa resposta às necessidades em cada momento?

Sim, a nossa Congregação de Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus nasceu em 1881 em Espanha pela mão de São Bento Menni, para responder à situação de abandono sanitário e exclusão das doentes mentais da época. Em 1894 abrimos em Portugal a Casa de Saúde da Idanha, em Sintra. Desde então fomos crescendo, sendo hoje uma presença significativa em Portugal, com doze estabelecimentos de saúde, oito situam-se no Continente e quatro nas Regiões Autónomas (dois na Madeira e dois nos Açores).

O nosso estilo de cuidar, unindo ciência e caridade, dá sentido humanizador aos serviços de saúde que prestamos. Somos uma Instituição centrada na pessoa e no seu maior bem-estar, em todas as dimensões. Acolhemos, tratamos, cuidamos, reabilitamos e acompanhamos pessoas com todo o tipo de perturbações de saúde mental. Para isso, contamos com uma diversidade de serviços especializados, de ambulatório e consulta, internamento e estruturas de reabilitação e apoio domiciliário.

Desenvolvem a vossa missão em várias áreas da saúde, mas a preferencial desde sempre é a saúde mental. Esta é uma das grandes preocupações neste momento?

A pandemia da Covid-19 tem já um impacto muito grande, afetando em particular as pessoas mais vulneráveis, e que não receberam a resposta dos serviços de saúde que necessitavam.

Os desafios que agora se colocam no âmbito da saúde mental e a complexidade das situações que enfrentamos, exigem superar ideologias e assumir a responsabilidade de intervenções num verdadeiro modelo de rede integrando publico, privado e social na resposta às necessidades das pessoas. O Instituto de Irmãs Hospitaleiras e os Irmãos de São João de Deus são duas instituições seculares com uma presença muito significativa, em termos de capacidade de resposta, abrangência de serviços, e distribuição geográfica. A competência clínica e técnica e o saber por experiência para responder à situação de emergência que o país enfrenta capacita-nos como efetivos parceiros na Rede de serviços de cuidados de saúde mental.

As Irmãs Hospitaleiras têm um modelo de cuidar que integra a dimensão técnica e científica com a espiritual e humanizadora. Esta harmonia é importante para quem vos procura?

Acreditamos que sim. Cuidar a pessoa em todas as dimensões, é essencial para a Hospitalidade. A par com as melhores práticas clínicas, médicas e científicas, o cuidar espiritual, faz a diferença dos serviços que prestamos. Olhamos para a pessoa, definimos um acompanhamento terapêutico que a ajude a recuperar-se na sua dignidade, sentido e projeto de vida. Esta dinâmica terapêutica compreende respostas diferenciadas e especializadas aos problemas das perturbações mentais, desde os mais novos, crianças e jovens, aos adultos e idosos.

Para estes cuidados temos protocolos de prestação de serviços de saúde com diferentes entidades públicas, privadas e também municípios.

É importante criar uma nova dinâmica entre vários agentes da sociedade para contrariar a deficiente resposta ao nível da SM no país, agravada pela pandemia?

Sim, e talvez seja importante equacionar o modelo de Rede de Serviços e de referenciação ao nível da saúde mental, por forma a respondermos com maior celeridade às situações de doença. A saúde mental é um dos rostos que a pandemia mais revelou, não sendo por acaso uma das preocupações do Plano de Recuperação e Resiliência. As necessidades são crescentes e ainda não temos efetivamente implementada uma Rede de serviços e respostas, integradas e especializadas. Temos a expectativa que poderemos dar passos efetivos, mas é fundamental, compromisso, recursos e capacitação, vontade política e um respeito enorme por tantas vidas silenciosas, que a doença mental fragiliza.  

Como Instituição com equipas especializadas e capacidade instalada estamos disponíveis para integrar o processo de reforma da saúde mental, contudo, as dificuldades que atravessamos levam-nos a apelar à urgente intervenção do Estado. Não basta valorizar o papel importante do setor social da saúde e o trabalho realizado, é preciso e urgente reconhecer estas instituições como verdadeiras parceiras, proporcionando as condições justas e necessárias para a sustentabilidade dos serviços de saúde que prestam. A comparticipação do Estado com uma diária de internamento de 43 euros por doente é manifestamente pouco para cobrir os cuidados prestados.

As Irmãs Hospitaleiras além da Saúde mental têm também outros programas de saúde, como as respostas de reabilitação de AVC e lesão cerebral e os Cuidados Paliativos. Como funcionam estes serviços tão essenciais na ajuda aos que se encontram em fase terminal da doença? 

A nossa resposta na área da saúde tem vindo a ampliar-se e diversificar-se, privilegiando áreas onde a nossa intervenção possa ser também diferenciadora. Temos algumas estruturas de reabilitação de AVC e lesão cerebral, além de uma Unidade de Cuidados paliativos, na Casa de Saúde da Idanha, que desde 2006 tem sido uma área especial, onde o cuidado integral à vida segundo o estilo hospitaleiro marca a diferença.

https://irmashospitaleiras.pt/

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