Casa Antero: Onde todos se sentem em casa
Caldas da Rainha tornou-se o palco de uma das mais emblemáticas histórias gastronómicas da região: a evolução do restaurante Casa Antero. O negócio, com raízes na tradição das tabernas portuguesas, transformou-se num espaço que equilibra a autenticidade com a modernidade, mantendo sempre um espírito acolhedor e familiar. Paulo Feliciano, um dos responsáveis pela Casa Antero e membro da segunda geração da família a liderar o empreendimento, conta-nos a história fascinante de um restaurante que se adaptou às exigências dos tempos sem perder a sua essência.
A história de geração em geração
A história da Casa Antero remonta ao início dos anos 50, quando Manuel Calisto, proprietário da Taberna Coradinho, convidou o sobrinho, Antero Feliciano, a integrar o negócio. Num tempo em que as Caldas da Rainha contavam com 58 tabernas, foi nesse ambiente de tradição que Antero aprendeu os segredos do ofício. Poucos anos depois, Antero tornou-se proprietário do espaço, transformando-o na Casa Antero. Ao lado da esposa, Olímpia Simão, introduziram petiscos, lançando uma tradição culinária que continua a atrair clientes de várias gerações até aos dias de hoje.
Em 1987, Paulo e Anabela sucederam aos pais, Antero e Olímpia, na gerência da Casa Antero. Em 2007, a sobrinha e filha de Anabela, Filipa Pereira, deu início a uma nova era, marcando uma expansão com a abertura do moderno Pachá, que complementou o estabelecimento original.
O equilíbrio entre tradição e modernidade
A dualidade entre tradição e modernidade é uma das marcas da Casa Antero. Paulo destaca que, ao longo dos anos, os clientes nem sempre aceitaram de imediato as mudanças, como a fusão dos dois ambientes – um mais clássico e outro mais moderno. Contudo, foi durante o confinamento provocado pela pandemia que a Casa Antero encontrou uma forma de unir os dois mundos de forma harmoniosa. “Preservámos os elementos originais, como os mármores, e adaptámos o espaço para criar uma experiência onde tradição e modernidade coexistem”, explica.
Apesar da modernização, a essência da Casa Antero permanece intacta. “A autenticidade sempre foi o nosso valor mais importante. Os clientes sentem-se como parte da família, porque aqui todos são tratados como amigos”.
A arte de harmonizar vinhos e sabores
Desde os primórdios, o vinho desempenha um papel central na identidade da Casa Antero. Nos primeiros anos, era vendido a copo ou em pequenas garrafas, que acompanhavam as refeições trazidas pelos clientes. Atualmente, a tradição do vinho a copo mantém-se, mas com uma abordagem mais sofisticada. Além disso, o restaurante passou a ser também garrafeira, permitindo que os clientes escolham garrafas e as consumam no local mediante uma taxa de rolha. “Apostamos muito nos vinhos da região e temos parcerias com produtores locais para organizar jantares vínicos”, partilha o gerente.
Sem uma carta de vinhos fixa, a oferta varia consoante os fornecedores e as colheitas disponíveis, promovendo assim o que a região tem de melhor. “Adoro recomendar vinhos Espera para acompanhar pratos de peixe, ou um bom Castelão para carnes. Cada refeição aqui é pensada para ser uma experiência”.
Um cardápio que aquece o coração
A oferta gastronómica da Casa Antero é tão variada quanto cativante. Combinando pratos tradicionais e criações contemporâneas, o restaurante conquista pela frescura dos ingredientes e pela criatividade. “Os clientes confiam nas nossas sugestões, porque sabem que aqui servimos produtos frescos e de qualidade”, sublinha Paulo.
A cada dia da semana, há um prato especial: dobrada à segunda-feira, feijoada à terça, cozido à quarta, arroz de pato à quinta e arroz de cabidela à sexta. “Apostamos em ‘pratos de tacho’, que trazem o sabor da tradição e o conforto da cozinha caseira. É essa comida que nos reconforta, que faz as pessoas voltarem”, afirma o responsável.
Para além disso, o menu abrange desde petiscos tradicionais, como saladas de polvo e pastéis de bacalhau, até pratos modernos, como atum braseado e ovos com espargos, garantindo que até os clientes mais assíduos encontram sempre algo novo no menu.
O turismo e os desafios do crescimento
Com o aumento do turismo na região, a Casa Antero beneficiou da crescente visibilidade das Caldas da Rainha. No entanto, Paulo reconhece os desafios associados a esse crescimento: “O turismo trouxe novas oportunidades, mas também contribuiu para o aumento dos preços, o que afeta a vida local. É um equilíbrio difícil, mas essencial para preservar a autenticidade da região”, observa.
Apesar das dificuldades, a Casa Antero continua a ser um espaço que beneficia da beleza local, atraindo turistas que valorizam a autenticidade e o charme do restaurante. “Recebemos muitos turistas nacionais que vêm pela história e pela comida, mas também trabalhamos para que os clientes regulares continuem a sentir-se em casa”, acrescenta.
Um ambiente de trabalho saudável
Na gestão interna da Casa Antero, a prioridade é criar um ambiente de trabalho positivo: “Somos 14 pessoas a trabalhar aqui, e desde o confinamento aprendemos a valorizar a qualidade de vida dos colaboradores. Respeitamos os horários com turnos equilibrados e os tempos de descanso. Para mim, o mais importante é que a equipa se sinta feliz e realizada”, destaca o gerente.
Este ambiente positivo é essencial para manter um serviço de excelência, onde a dedicação de cada funcionário contribui para o sucesso do restaurante.
Futuro: um dia de cada vez
Para Paulo Feliciano, o futuro da Casa Antero passa por continuar a fazer o que sempre fez: proporcionar momentos de partilha e sabor. “Espero continuar a viver um dia de cada vez, mantendo a dedicação e o amor pelo que faço. Não faço grandes planos, mas sinto-me orgulhoso do que alcançámos até agora”, reflete.
Com 67 anos de história, o restaurante olha para o futuro com serenidade, mas com a mesma paixão que o viu nascer. A Casa Antero permanece um símbolo de autenticidade, onde tradição e inovação se unem para criar experiências inesquecíveis. “Este é um espaço de acolhimento, de amizade e de prazer genuíno. Um lugar onde o passado encontra o presente, e onde todos se sentem em casa”, conclui.