Arquitetura com Alma: A paixão por criar espaços que despertam emoções
João Paulo Vieira, Arquiteto e Fundador da Nonarquitetura, reflete sobre a evolução do atelier desde a sua criação em 2012, destacando a fusão entre a tradição e a contemporaneidade na sua abordagem arquitetónica. Com uma trajetória marcada pela paixão, partilha em entrevista a sua visão de uma arquitetura sustentável que valoriza a harmonia com o meio ambiente e o contexto sociocultural. Assim, a Nonarquitetura é um atelier e um compromisso com a qualidade, a simplicidade e a valorização da essência dos lugares.
A evolução da Nonarquitetura
O arquiteto traça uma história desde a fundação da empresa em 2012 até os dias de hoje. Desde jovem, mostrou uma inclinação natural para o desporto e uma paixão pelas artes, especialmente pelo desenho e escultura. Essa preferência inicial, cultivada na escola secundária através de disciplinas onde o experimentalismo permitia abordagens relacionadas com a arquitetura como foi o caso da construção de maquetes de edifícios, levou-o a escolher a arquitetura como carreira. “Decidi seguir arquitetura e entrei na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, num tempo em que o curso ainda era ministrado na Escola Superior de Belas Artes do Porto”, recorda.
A sua formação foi marcada por uma relação próxima com os professores e a integração de diversas expressões artísticas, o que aprofundou ainda mais a sua paixão pela arquitetura. Depois de concluir o serviço militar, dedicou-se completamente ao curso e ao interesse por livros de arquitetura. A experiência de estágio com o arquiteto Ginestal Machado, que promovia a autonomia conceptual nos seus projetos, foi um marco formativo. “Foi uma experiência formativa importante, que me ajudou a lidar com desafios e a evoluir”, relata.
A sua trajetória arquitetural, começou com a recuperação de edifícios em contextos complexos e em projetos de turismo rural, sempre com uma ênfase na preservação do ambiente e no uso de materiais tradicionais. Ao longo dos anos, expandiu a sua prática para incluir a construção de industria e escritórios. No entanto, o seu percurso não foi isento de dificuldades. O arquiteto enfrentou crises como a Troika e os desafios impostos pela pandemia da Covid-19, momentos difíceis na gestão do atelier superados pela revitalização da economia graças ao turismo que emergiu pela procura crescente por novos espaços.
Trabalhar em Portugal apresenta ainda outro desafio: a necessidade de navegar entre múltiplas entidades reguladoras que, embora restritivas, instigam a criatividade. “As constantes restrições sobre o território, onde se pode ou não construir, obrigam à adaptação a novas soluções que se vêm a revelar-se como inovadoras”, explica. Para o arquiteto, essas condicionantes, embora não visíveis para o público, são fundamentais no processo criativo e na promoção do bem-estar de quem habita. “O meu objetivo é criar espaços que ofereçam felicidade e serenidade, onde as pessoas se sintam em harmonia com os espaços que as rodeia”, remata.
A identidade da Nonarquitetura
A identidade do atelier é marcada pela fusão entre o tradicional e o contemporâneo. Partilha que essa abordagem é um reflexo da sua filosofia de trabalho, que valoriza a observação e a absorção de influências. “Durante a faculdade, tive um professor que considerava que deveríamos evitar olhar para certas influências na arquitetura, adotando uma postura seletiva, mas hoje, com a maturidade arquitetural, percebo que o contrário é necessário: precisamos observar e absorver o máximo de informação possível para que a nossa mente retenha, no seu sub inconsciente, o essencial”. Este processo de integração de diferentes referências, sejam elas provenientes de revistas, livros, internet ou experiências quotidianas, é fundamental para a sua prática.
O arquiteto também destacou a importância dos livros de arquitetura. “Eu valorizo a análise de um projeto no papel, é uma experiência tátil e imersiva que a leitura digital não oferece”. Para si, a leitura física de obras arquitetónicas proporciona um aprofundamento que não se encontra na superficialidade das telas.
Ao falar sobre o impacto do contexto local nos seus projetos, partilhou uma experiência marcante: “Quando visitamos um lugar, observar os pequenos detalhes, como a luz ou o vento, faz toda a diferença. Recordo uma visita a Paris, onde esbocei partes da cidade num caderno . Lembro-me de ter passado uma tarde inteira a desenhar a Torre Eiffel , o que me permitiu observa-la e sentir o seu detalhe”. Essa prática de desenhar, em vez de apenas fotografar, permite uma conexão mais profunda com os ambientes, enriquecendo a prática arquitetónica.
No entanto, lamenta a perda do tempo dedicado à observação no contexto atual. “Desenhar ou simplesmente parar para absorver um ambiente permite-nos capturar algo que vai além da imagem visual: é uma vivência que fica em nós e que alimenta a prática arquitetónica de uma forma singular e essencial.” Refere que “As casas, que tenho em projeto, são o resultado de uma vivência com o passado. A exemplo procuro buscar na arquitetura tradicional dos telhados, uma inovação para que se reinvente sem perder a sua materialidade”, enfatizando que a atenção ao detalhe é crucial, levando o arquiteto a acompanhar frequentemente as obras para assegurar que cada elemento respeite o conceito inicial.
A integração da tradição e inovação na arquitetura contemporânea
A Nonarquitetura destaca-se por abordar não apenas a conceção de projetos arquitetónicos, mas também a gestão dos projetos das especialidades, o design de interiores e a arquitetura paisagística. “Hoje, exige-se uma colaboração multidisciplinar. Além de conhecimentos em diversas áreas, o arquiteto precisa de dialogar com equipas de design, paisagismo, iluminação e artes”. Esta abordagem holística é essencial para criar espaços que proporcionem experiências sensoriais e emocionais únicas aos utilizadores.
Na conceção dos seus projetos vê a tecnologia digital como um papel fundamental neste processo. Atualmente, a realidade virtual permite visualizar projetos com grande detalhe antes da execução final,o que se revela como uma mais valia na comunicação com o cliente.
No momento, o atelier tem um conjunto de projetos em mãos, nomeadamente, várias moradias, nos concelhos de Marco de Canaveses e Cinfães e dois hotéis, no âmbito do turismo rural.
Ao falar sobre os materiais utilizados nos projetos, o Arquiteto revela que a Nonarquitetura tem uma forte filosofia de utilizar recursos locais. “Estamos a trabalhar com uma boa classificação energética, aplicando soluções construtivas que diminuem os custos de energia”. A sustentabilidade é um pilar da sua prática, destacando a importância de adaptar os projetos ao ambiente local, promovendo a utilização de materiais regionais como ardósia e o granito. “Defendo que os materiais devem ser usados de forma autêntica, sem camuflagens”, acrescenta. Com a reabilitação, em mãos, de um hotel rural, em Peso da Régua, o arquiteto expressa a necessidade de respeitar as restrições impostas, optando por estruturas em madeira e garantindo a autenticidade dos materiais. “A arquitetura deve ser um processo de seleção e clareza, onde se procura a essência estética da obra”.
Projetos emblemáticos e desafios
O arquiteto destacou ainda os desafios e as lições aprendidas ao longo dos anos , especialmente no emblemático projeto da Casa do Lago, o primeiro do atelier. “Este foi, sem dúvida, um grande desafio. Junto à palmeira, consegui ver que a parede encobria grande parte do telhado de ardósia, material que eu queria dar destaque. Então, pedi para cortarem a platibanda, porque queria ver o telhado e desenhar um percurso, uma promenade arquitecturale ”, recordando a complexidade da obra, que exigiu a sua presença durante todo o processo para que a obra transmitisse fielmente a sua ideia.
Além da Casa do Lago, o Arquiteto destaca a Casa do Pardieiro e o projeto do Hospital Veterinário como outros marcos importantes. “Preocupo-me em criar algo que apaixone quem observe os edifícios”.
A visão para o futuro
O futuro da Nonarquitetura é uma fonte de otimismo : “Estou com grandes expectativas. Sou um otimista por natureza. Acredito que, quando sorrimos para a vida, quando fazemos o que mais gostamos com um sorriso então a vida também sorrirá para nós”. Considera essencial manter o entusiasmo e a visão de que os projetos resultarão, mesmo diante de dificuldades. “A simplicidade na arquitetura é necessariamente o resultado de muito trabalho e dedicação e quanto mais complicado for o seu percurso mais gratificante será o seu resultado. O importante é manter o entusiasmo e a visão de que as coisas vão resultar, lutando para isso”, completa. Por fim, reflete sobre as palavras que melhor descrevem o atelier: “Desejo que aqueles que apreciam as minhas obras sintam felicidade e alegria, emoções que são fáceis de entender, mas complexas de transmitir. Valorizo palavras que traduzem a minha paixão, qualidade e simplicidade”.
A Nonarquitetura continua a traçar um caminho em busca da harmonia entre tradição e a contemporaneidade, com um forte compromisso com a sustentabilidade e a qualidade. O futuro é promissor e João Paulo Vieira está pronto para enfrentar os desafios que virão, sempre guiado pela sua paixão pela arquitetura.