ANIM apoia a Produção Nacional – 15000 toneladas moídas em 2018

A Associação Nacional dos Industriais de Moagem, Trigo, Milho e Centeio tem vindo a desenvolver um papel essencial juntos de todos os associados, tendo em vista a
preservação do setor das moagens de cereais. Em entrevista à Revista Business Portugal, os membros da direção da ANIM, destacam o esforço feito em apresentar novas soluções para combater os maiores entraves do setor.

Pedimos que comecem por nos apresentar a ANIM e qual os valores pelos quais a associação se rege.
A ANIM é uma associação sem fins lucrativos de entidades nacionais que no território nacional e internacional exercem a produção, moagem e comércio de todo o tipo de cereais, leguminosas, massas e derivados. Tem por fim defender os justos interesses da indústria que representa e contribuir para o seu progresso. É a mais antiga associação do setor existente no país, com mais de 50 anos de história.

Uma vez que este setor também tem uma outra associação a si dedicada (refiro-me à Associação Portuguesa da Indústria da Moagem – APIM) será importante esclarecer os nossos leitores da diferença entre as duas.
A APIM é uma outra associação do setor. Conta atualmente com dois grupos moageiros associados.
A nossa associação junta todos os tipos de moagens desde a tradicional, com mós de pedra, às mais industrializadas com moinhos de cilindros. As tradicionais podem ser movidas a água, a vento ou através de motores elétricos.

Quais são as vantagens de ser sócio da ANIM?
A ANIM além de ser representante dos seus associados junto de entidades públicas, organizações profissionais e sindicatos, apresenta também várias parcerias com empresas nas áreas de consultoria, formação, contabilidade e gestão, software, segurança alimentar, segurança e higiene no trabalho, entre outras, ou seja, tentamos assegurar as necessidades dos nossos associados ao nível de todas as exigências legais.
É do conhecimento comum que a legislação e a sociedade são cada vez mais exigentes. Por isso, e como forma de a indústria de moagem se manter na vanguarda da segurança alimentar, a ANIM pretende disponibilizar acordos com várias entidades por forma a conseguir reduzir custos fixos aos seus associados. Custos esses que são comuns a empresas modernas e a empresas que trabalham segundo o processo tradicional.
Consideramos também de elevada importância certificar os nossos associados. À semelhança da marca DOC e DOP queremos implementar uma certificação que permita à panificação saber que pode confiar no produtor e na qualidade do produto que recebe na sua empresa.

Será, com certeza, do vosso interesse angariar mais sócios, uma vez que a união faz a força. O que têm feito nesse sentido?
Procedemos recentemente à alteração dos estatutos, pois estes eram muito limitativos. No passado, a ANIM tinha mais de 400 associados, no entanto e após várias crises no setor ficamos reduzidos a menos de duas dezenas, também muito por conta do encerramento de pequenas unidades produtivas. A nova direção tem feito um grande esforço no sentido de agregar vantagens para os associados. Desde que o cereal é plantado até o pão chegar à mesa passa por muitos processos. Por isso e após consulta aos nossos associados foi decidido que devíamos incluir nos possíveis sócios, empresas cujo ramo de atividade esteja integrado nesta cadeia de produção.

Existe, por parte dos jovens, interesse neste setor de atividade? Que incentivos são dados pela associação para motivar o interesse?
As empresas de moagem são maioritariamente familiares. Muitas estão já na terceira geração enquanto outras, que cessaram atividade, foram recuperadas pelos jovens, que decidiram revitalizar empresas do tempo dos seus avós. À semelhança do que acontece com a agricultura, também no setor de moagem encontramos diversos casos de retorno às origens.
Assim, a nossa associação através de parcerias ou junto de entidades, tentamos ajudar estas gerações a recorrer a apoios que existem para o setor, redução de custos de produção e todo o apoio necessário para se manterem no mercado de trabalho.

O setor da moagem passou por uma fase menos favorável. Já se sentem os sinais da retoma? Que fatores podem contribuir para o desenvolvimento do setor?
Gostávamos de conseguir ter o otimismo necessário para encarar o futuro do setor moageiro sob uma perspetiva mais ambiciosa. O setor da panificação, do qual dependemos está a passar por sérias dificuldades, muito por culpa da impunidade com que o grande retalho prospera. Tudo isto acaba por ser uma ‘bola de neve’ que se reflete no nosso setor. Aliado a esta situação, é importante fazer referência à entrada de grupos moageiros espanhóis que vão conquistando mercado à custa da redução de preços e com os quais se torna difícil competir.
Seria um bom ponto de partida se algumas destas questões tivessem uma resolução à vista.

A farinha é a matéria-prima do pão mais passível de negociação. Como é que os moageiros se podem tornar mais competitivos?
Apesar do processo de moagem ser muito industrializado existe pouca diferença na farinha de trigo proveniente da moagem tradicional. Já na de milho é precisamente o contrário, não podemos fazer farinha com processo tradicional igual à do processo industrial nem vice-versa.
A forma que as moagens têm de se tornar mais eficientes passa por efetuarem boas compras de matéria-prima, reduzirem custos energéticos, adquirirem valências que permitam tornarem-se numa mais valia perante a industria da panificação, referimo-nos às certificações como a ISO 22000, BRC, IFS. Para além disto apostar em produtos diferenciados.

Portugal é um país com produção competitiva de milho, centeio e trigo?
Os nossos associados têm apoiado muito a produção nacional. Na presente campanha de cereais, mais de 15 mil toneladas de cereais moídos por sócios da ANIM são de origem nacional.
A produção de cereais em Portugal passou a ser praticamente inexistente nos anos 90 após a extinção da EPAC (Empresa Pública de Abastecimento de Cereais). No entanto, recentemente algumas associações têm tentado revitalizar o setor e já temos alguma produção. Apesar disso, estamos completamente dependentes das importações de cereais para fazer face ao consumo de farinhas e outros produtos derivados. Estas importações provêm essencialmente de países como a França, Alemanha alguns países de leste, Canadá e Estados Unidos da América.

Quais são os maiores entraves que o setor enfrenta neste momento?
O decréscimo acentuado na produção de cereais a nível nacional tem contribuído substancialmente para perda de competitividade face à concorrência estrangeira, ou seja, como referimos anteriormente a concorrência das fábricas de Espanha é cada vez mais uma preocupação para o nosso sector. Por um lado, estas moagens têm acesso à matéria-prima a custos muito mais reduzidos pelo facto de serem produtores de cereais, nomeadamente de trigo. Por outro, em termos fiscais acabam por ter mais benefícios quando comparado com as empresas portuguesas.
As questões que recentemente se levantaram sobre as intolerâncias ao glúten bem como os fundamentos sem base credível (em muitos dos casos) acabam por desqualificar o nosso setor e os produtos que fabricamos. Existem, sim, problemas associados ao consumo de farinhas refinadas devido à presença de glúten, no entanto deveríamos questionar-nos mais à cerca dos produtos que intervêm na composição de determinado pão. Como é possível existirem profissionais de saúde a recomendar o consumo de ‘pães de forma’ ao invés do típico pão português, feito de farinha, água e sal? Que fundamento está por trás dessa recomendação? O pão está na nossa alimentação há mais de cinco milénios e faz parte de uma boa dieta alimentar. É importante a desmistificação do pão escuro, porque quando um médico ou nutricionista diz que devemos comer pão escuro, refere-se à quantidade de fibra incluída nesse pão. Ou seja, devemos comer pão o mais perto do integral possível, seja ele de trigo, centeio, milho ou outro cereal apto para a panificação.
Com ajuda governamental esperamos equilibrar o mercado, para que as moagens ainda existentes prosperem e o setor da panificação possa continuar a comprar produtos nacionais para transformar e colocar nas mesas dos portugueses.

O que é que a ANIM ambiciona para o seu futuro?
O principal objetivo da ANIM é que os seus sócios prosperem e que sejam cada vez mais. Como disse inicialmente, a união faz a força. Contamos também interceder junto das entidades estatais de forma a corrigir situações menos boas para que num futuro próximo o setor possa afirmar que a crise é só uma palavra do passado.

You may also like...