Determinada, resiliente e apaixonada pelo que faz, Carina Rosado é um nome de referência na gestão da Cacelcer. Com uma trajetória marcada pelo compromisso com a qualidade e pelo respeito pela história da empresa, Carina partilha com a Revista Business Portugal a evolução da Cacelcer, os desafios enfrentados e a importância da adaptação num setor em constante mudança.
A Cacelcer nasceu no ano 2000, fruto da fusão de duas empresas do mesmo ramo, cujas raízes remontam a 1981. O projeto resultou da visão empreendedora de Carlos Rosado e Manuel Justo, dois sócios fundadores que, com apenas o quarto ano de escolaridade, demonstraram uma notável capacidade de arriscar e inovar. “Naquela época, as fusões não eram tão comuns como hoje. Eles ousaram e fizeram acontecer”, destaca Carina, evidenciando a fibra e a determinação que sempre caracterizaram os fundadores.
Apesar dos desafios iniciais, a empresa cresceu, consolidando-se no setor da distribuição. A liderança e a experiência dos sócios fundadores foram fundamentais nesse percurso. “Eles ainda hoje estão ativos, mantêm-se presentes, acompanham as evoluções e incentivam-nos a seguir em frente”, afirma Carina. Mais do que sócios, são parte da identidade e da cultura da empresa.

Resiliência e adaptação
Ao longo dos anos, a Cacelcer manteve-se fiel à sua parceria histórica com a Super Bock Group, um dos pilares do seu crescimento. “Foi a nossa marca fundadora, foi a SBG que nos lançou na distribuição”. Durante mais de 20 anos, a empresa operou quase exclusivamente com a Super Bock, assegurando uma presença forte no mercado Horeca.
A pandemia da Covid-19 trouxe desafios inesperados. “Muitas empresas faliram, mas nós conseguimos manter-nos, sem despedir um único funcionário”, recorda Carina. No entanto, a Cacelcer resistiu devido à sua gestão financeira prudente. “Trabalhamos exclusivamente com capitais próprios, e durante a pandemia, não estarmos expostos a dívidas bancárias foi o que nos salvou”, afirma. A empresa manteve todos os funcionários e assegurou o pagamento integral dos salários, reforçando os laços internos e a cultura de partilha.
Após esse período crítico, a Cacelcer diversificou as parcerias estratégicas para reduzir a dependência da Super Bock e adicionar novo portefólio que permitisse a expansão do negócio. “A única parceria que nasceu depois da pandemia foi a Coca-Cola, todas as outras como Parmalat e a Sogrape já vinham de trás”. Com isso, a empresa expandiu a sua atuação para além dos cafés, atendendo novos mercados com uma estratégia bem estruturada.
O impacto da sazonalidade
A sazonalidade é um dos principais desafios, moldando o ritmo de trabalho ao longo do ano. Nos últimos tempos, a empresa conseguiu reduzir significativamente a sua “época baixa”, estendendo o período de atividade intensa de abril até quase novembro. “Em vez de termos nove meses de época baixa, passámos a ter só três ou quatro meses.” No entanto, fatores climáticos imprevisíveis continuam a influenciar os resultados. Um verão mais fresco, como o do ano passado, pode impactar diretamente o consumo e as vendas.
Apesar dessas oscilações, a estrutura da empresa permanece estável, com uma equipa fixa de 30 colaboradores ao longo de todo o ano. “A nossa estrutura é sempre a mesma. São trinta pessoas, de inverno e de verão.” No verão, a carga de trabalho é intensa, compensando os meses mais parados do inverno. Essa estabilidade garante que a empresa esteja sempre preparada para os desafios da sazonalidade, ajustando-se às variações do mercado.
Eficiência operacional e logística
A Cacelcer diferencia-se pelo suporte completo ao cliente, fornecendo materiais promocionais e equipamentos exclusivos, como máquinas de extração de cerveja e vinho à pressão. “Qualquer pessoa pode ir buscar todas estas marcas à prateleira do supermercado. O que nos distingue? São os materiais de apoio e de publicidade, os equipamentos e os acordos comerciais de desconto”, destaca. A operação é organizada por rotas bem definidas, mas a sazonalidade impacta diretamente a logística. No verão, a procura aumenta significativamente, exigindo maior flexibilidade para atender os pedidos urgentes. “A nossa equipa atua como um verdadeiro ‘bombeiro de serviço’, garantindo que nenhum estabelecimento fique sem produto, mesmo que isso signifique entregas até altas horas da noite”.
O papel da equipa
A cultura organizacional da Cacelcer valoriza a dedicação da sua equipa. Os comerciais são polivalentes, assumindo funções adicionais quando necessário, ajudando na logística e na distribuição. “Os nossos vendedores terminam as vendas, vestem a farda da distribuição e ajudam os colegas nas entregas”, afirma Carina.
Além dos comerciais, a equipa de distribuição é considerada a ‘espinha dorsal’ da empresa. “É a equipa de distribuição que desenvolve o verdadeiro trabalho duro, o mais pesado”. Muitos funcionários estão na empresa há décadas, alguns reformando-se após uma vida inteira de dedicação. A resiliência e o empenho da equipa são fundamentais para o sucesso da Cacelcer. “A empresa mantém um ambiente de trabalho onde os funcionários se sentem motivados e reconhecidos, garantindo boas condições salariais e benefícios, como seguros e apoio jurídico. “Nesta empresa ninguém recebe o salário mínimo. É outra prática que nós implementámos desde há muitos anos. Não pagamos mal aos nossos funcionários. Damos-lhes seguro, prémios de produtividade e apoio jurídico naquilo que precisam”.
Desafios no setor
A escassez de mão de obra qualificada é um dos maiores desafios. “Pagamos bem, mas quem quer carregar barris de cerveja numa praia ao sol?” questiona. O trabalho físico intenso e as exigências do setor dificultam a contratação, levando a empresa a recorrer a imigrantes, proporcionando-lhes estabilidade e respeito às suas necessidades culturais e religiosas.
Além da dificuldade em encontrar trabalhadores dispostos a assumir as funções de logística e distribuição, a burocracia imposta pelas leis do setor representa um entrave ao crescimento. “As leis não estão ajustadas a quem precisa de trabalhar e ser altamente produtivo. Tivemos que reajustar a nossa frota, fizemos investimento de mais de 250 mil euros para que pudéssemos adquirir viaturas ligeiras, equiparadas às pesadas, para qualquer um de nós poder conduzir”. As regras rigorosas, como a exigência de documentação detalhada para cada entrega e a crescente regulamentação dos tempos de condução ou limitações de peso das cargas, impõem desafios diários à operação.
Expansão e crescimento
Geograficamente, a empresa atua nos concelhos de Vila Real de Santo António, Castro Marim, Alcoutim e Tavira. Apesar das áreas de atuação serem bem definidas e respeitadas entre os distribuidores da região, a empresa procura formas de crescimento através da diversificação de produtos e do acompanhamento da evolução económica local. “Podemos diversificar o máximo possível. A nossa esperança para poder crescer na nossa zona depende exclusivamente do desenvolvimento da economia local e no investimento estrutural de qualidade em infraestruturas de base”.
A hotelaria e o turismo são setores fundamentais para impulsionar o negócio, mas o crescimento é lento e condicionado por processos burocráticos que dificultam a agilidade nas operações. Ainda assim, a Cacelcer mantém-se atenta às oportunidades de mercado, garantindo a qualidade das suas ofertas e explorando novas parcerias estratégicas sem comprometer o seu foco principal: a distribuição de cerveja e Coca-Cola.
Embora não tenha como competir diretamente com empresas especializadas na venda de bebidas espirituosas, aposta na complementaridade do seu portefólio, oferecendo soluções diversificadas para os seus clientes.

Liderança e visão
Para Carina Rosado, liderar uma empresa é um processo de aprendizagem contínua. “Quando cheguei, trazia a teoria dos livros, mas o meu pai ensinou-me que as contas só se fazem no final do ano”, recorda. A experiência prática e a capacidade de adaptação foram essenciais para enfrentar os desafios do mercado e consolidar a empresa.
Sob a sua gestão e do colega Carlos Justo, a Cacelcer continua a crescer, impulsionada pela inovação e pelo compromisso com a qualidade. “Os nossos valores são a base de tudo. Trabalhamos com grandes marcas e focamo-nos na excelência do serviço”, afirma Carina. A sua liderança reflete a resiliência e determinação que sempre marcaram a história da empresa.
Para ela, o sucesso é fruto do trabalho e da coragem para superar desafios. “Os nossos fundadores ensinaram-nos que muitos caem, mas não caem todos. O nosso segredo é acreditarmos e continuarmos em frente com responsabilidade e seriedade”. A trajetória da empresa demonstra como a visão estratégica e a perseverança fazem a diferença no mundo dos negócios.
Sustentabilidade e visão para o futuro
A Cacelcer tem apostado na sustentabilidade, com investimentos na reciclagem de plásticos e embalagens, e no futuro planeia a transição da frota para veículos elétricos e híbridos. “Estamos a iniciar a descarbonização da nossa frota. O próximo passo será esse”, revela Carina. Um parque solar também está nos planos da empresa para garantir a autossuficiência energética.
A tecnologia desempenha um papel fundamental na operação da empresa. “Trabalhamos com o sistema SAP, desenvolvido especificamente para distribuidores da Super Bock, permitindo um controlo mais eficiente da logística, das encomendas e das entregas”, explica.
Apesar das incertezas do mercado global, a empresa mantém um objetivo claro: estabilizar a operação e garantir crescimento sustentável. “Num mundo instável e em constante mutação, manter o negócio rentável já é um grande objetivo. Se conseguirmos crescer, ainda melhor”, conclui Carina. A história da Cacelcer é um exemplo de resiliência e visão estratégica, provando que a determinação e a capacidade de adaptação fazem toda a diferença no mundo dos negócios.