“Todas as fases da construção com o máximo rigor e profissionalismo”

O Segmento Urbano, empresa portuguesa de arquitetura e construção, celebra 18 anos de sucesso, marcada por uma trajetória de adaptação e inovação. Maria João Correia, Arquiteta e Fundadora da empresa, revela os desafios e as estratégias que permitiram construir um legado de excelência.

 

Maria João Correia, Arquiteta e Fundadora

 

 

Com um percurso de 18 anos, que balanço faz da trajetória do Segmento Urbano? Quais foram os maiores desafios enfrentados e como foram superados?

O percurso de 18 anos do Segmento Urbano teve muitos altos e muitos baixos, como acontece em qualquer percurso (longo) que sempre tentamos usar como aprendizagem para crescermos, adaptando-nos às mudanças que eram necessárias. Começamos por ser apenas um atelier de projeto vocacionado para o mercado externo, porque em Portugal, ainda hoje se paga muito mal pelos projetos de arquitetura. O trabalho do arquiteto (normal, não famoso) é muito mal pago, porque Portugal ainda é um país muito ignorante no que concerne à arquitetura e para o que serve um bom projeto de arquitetura. As pessoas, no geral, tendem a achar que o arquiteto “serve para gastarem dinheiro” e que “no fundo sabem exatamente como querem as suas casas” só precisam de quem as legalize. Por esta razão estivemos mais vocacionados para o mercado onde a arquitetura é vista como uma mais-valia quer no sentido do investimento (imobiliário) quer em culturas onde as pessoas estão habituadas a pagar por projetos. No final de 2015, com a crise do petróleo que deixou os países sem dólares, fomos obrigados a procurar uma solução rápida para nos inserirmos no mercado nacional, e como só com projeto era impossível, decidimos passar a vender projetos com a construção. Ou seja, mudamos o destinatário, em vez de “vender” apenas projeto, passamos a “vender” a obra através do projeto. Primeiro aliados a uma marca, e depois, por questões alheias à nossa vontade, novamente a solo.

O Segmento Urbano assume hoje um conceito diferenciador de conceção e construção. Assim, como descreve o processo de conceção e desenvolvimento de projetos desde a fase inicial até a finalização da obra?

Passarmos a fazer quase em exclusivo conceção e construção foi um caminho também. Quando entramos na construção percebemos rapidamente que com a arquitetura conseguíamos mostrar aos clientes como ficaria a sua obra. Sempre trabalhamos em tecnologia BIM, o que nos permite rapidamente fazer com que a obra exista na realidade virtual e isso é uma grande vantagem. Já vínhamos habituados a fazer projetos “a sério” com mapas de medições e mapas de quantidades portanto foi só uma questão de irmos contratando profissionais da construção para fazer, primeiro, as “pequenas obras”. Isto porque, fazer obras com subempreitadas em Portugal é uma quimera e continua a ser o grande problema da construção civil. A primeira construção de raiz que nos foi adjudicada, cujo projeto é da nossa autoria, decidimos subempreitar a estrutura, porque ainda não tínhamos, achava eu, mão de obra para esse trabalho, e isso quase nos arruinou a empresa. Aí percebi, da pior maneira, que a única hipótese de fazer bem as coisas era formar. Agora, já só construímos projetos nossos, porque chegamos também à conclusão, que construir projetos de colegas, muitos mal instruídos e sem o cliente ter noção dos riscos associados a isso e o seu impacto no valor de obra, trouxe-nos muitos problemas. Fizemos muitos favores e muitos deles acabaram por se virar contra nós. Basicamente na conceção e construção nós fazemos os projetos de acordo com o que o cliente tem para gastar na obra e gerimos quer a arquitetura quer as especialidades em função disso. Como não subempreitamos, conseguimos com a gestão de projeto, controlar os custos de obra e arranjamos soluções de projeto que otimizem recursos e soluções para que a obra fique de acordo com o preço acordado. Em suma, o cliente chega até nós com o terreno ou com a necessidade, fazemos o projeto de acordo com o orçamento que tem, apresentamos em 3D, licenciamos e construímos.

Um dos principais desafios da construção civil é o cumprimento de prazos com a qualidade desejada. Como é que articulam esses parâmetros, a relação com o cliente, e ainda assim garantir um projeto único e exatamente à medida, com tanto sucesso?

Penso que a base tem sido a nossa capacidade de nos adaptarmos constantemente aos desafios do setor, que são, em grande parte a falta de profissionais competentes, qualificados e sérios. Só assim é que conseguimos cumprir com os nossos clientes portanto para nós, é essencial o que temos hoje, uma equipa de 26 trabalhadores de construção civil, competentes e felizes por serem trabalhadores da construção civil. Da mesma forma que é essencial para nós trabalharmos (apenas) com clientes que respeitam o nosso trabalho, que entendem que ter um projeto e obra feita por nós, é muito diferente de ter uma obra feita por uma empresa com colaboradores que trabalham de sol a sol sem condições de trabalho dignas, onde se trocam diâmetros de ferros para ficar mais barato. O que nos diferencia, de facto, é tratarmos todas as fases da construção com o máximo rigor e profissionalismo, e tratarmos das nossas pessoas com o máximo de rigor e respeito, contribuindo para que a construção civil seja vista de outra forma.

 

 

 

 

 

Como é que o Segmento Urbano acompanha as tendências e inovações no mercado de arquitetura e construção? De que forma a Segmento Urbano pretende adaptar-se às demandas crescentes por tecnologias verdes e construções inteligentes?

Somos profissionais atentos e por isso tentamos cada vez mais incorporar tecnologias verdes e sistemas de construção mais eficazes do que os tradicionais. Infelizmente, há pouquíssimos apoios para “descarbonizar” a construção e legislação ainda é muito castradora para os sistemas construtivos melhores para o ambiente. Penso que ainda há um longo caminho a percorrer nesse sentido principalmente porque os materiais como cimentos com baixo teor de carbono, que requer menos clínquer, ou o betão verde, são mais caros do que os normais, e normalmente os clientes não estão dispostos a isso, nem o podemos impor. Na medida da nossa responsabilidade enquanto projetistas, damos o nosso melhor para o que projeto seja o mais eficaz possível em termos de eficácia energética, orientação solar, ensombramento, reciclagem de águas, uso de painéis solares, etc. Usamos de forma crescente materiais reciclados, técnicas de construção passiva e o design biofílico a par de tentarmos, em obra, a redução do desperdício de materiais, diminuição dos custos de água, energia e combustível. No que respeita a sistemas como domótica/inteligência artificial, propomos, mas fica muito do lado do cliente se quer/pode incluir esses custos na sua obra.

Do vasto portfólio da Segmento Urbano, que projetos pode eleger como mais significativos ou mais desafiantes?

18 anos de projetos são mesmo muitos projetos, mas há certamente três que me marcaram como pessoa e como profissional. O Condomínio Palmeiras, o primeiro projeto do segmento urbano, um condomínio de 32 moradias que ganhamos precisamente por fazer o que os arquitetos devem fazer na minha opinião, responder com pragmatismo, arte, engenho e eficácia às necessidades do cliente. A nossa intervenção nas Conservas Portugal Norte, um projeto de conceção e construção, que conseguimos executar em 27 dias, que possibilitou que fosse inaugurado na data de aniversário do fundador, e que nos valeu estar na final do Mundial de Arquitetura em Amesterdão, e sem dúvida, o mais marcante de todos, o PORTA DO VALE, em Paços de Ferreira, que está em execução neste momento e que é o puro exemplo do (bom) funcionamento da conceção e construção.

À medida que avançamos para o futuro, quais são os desafios que vê para a arquitetura e construção?

Os desafios para a arquitetura são os mesmos, as pessoas que acham que sabem arquitetura e que de arquitetura sabemos todos um pouco. Isso aliado às centenas de aplicações de modelação tridimensional que qualquer pessoa pode usar para ver como fica é quase o nosso fim! (Mas, como as câmaras ainda precisam de projetos assinados por arquitetos, à partida, estamos safos por enquanto). No que respeita à construção propriamente dita, o maior desafio é a falta de mão de obra. A área é tão mal vista que não há jovem nenhum que queira trabalhar na construção. Como se dizia antes “se não estudas vais trabalhar para as obras” como se fosse uma espécie de punição. O que tentamos fazer é contrariar essa “punição cultural” associada às obras e fazer com que o trabalho na construção seja cada vez mais atrativo para os nossos colaboradores, porque acreditamos que só pessoas felizes a trabalhar podem gerar resultados. Tenho imenso orgulho em saber que quase todos os colaboradores do segmento urbano têm a sua casa, férias e os filhos a estudar. Que jovens que entraram há quatro anos na empresa sem saber fazer “nada” na área, são hoje ajudantes de eletricista ou aspirantes a pedreiro/oficial/encarregado. Que a arquiteta que fora minha estagiária, é, ela própria hoje também, Júri no Mundial de Arquitetura. Ao mesmo tempo usamos a tecnologia e equipamentos de vanguarda o mais possível para poupar o esforço humano. Temos a ambição de continuar a profissionalizar o setor da construção e a formar para conseguirmos cumprir com os nossos clientes e continuar a fazer obras, porque essas dificilmente serão alguma vez executadas por inteligência artificial.

You may also like...