A competitividade é um dos grandes desafios do país. Não obstante as empresas portuguesas estarem, atualmente, mais capacitadas para enfrentar a globalização económica, a verdade é que as lacunas ao nível da inovação continuam a pesar sobre a nossa competitividade empresarial.
É certo que, na última década, o investimento em capital de risco decuplicou, o emprego no setor tecnológico cresceu seis vezes, os unicórnios de origem portuguesa já ascendem a seis, há sete empresas tecnológicas entre as 25 maiores do país e as patentes nacionais mais do que triplicaram. Mas à semelhança do que acontece no resto da Europa, conforme está plasmado no relatório Draghi, o investimento em inovação ainda não é suficiente para catapultar a economia portuguesa para patamares mais elevados de competitividade.
No centro da inovação está, hoje, a Inteligência Artificial (IA). Apesar de ainda gerar dúvidas e muita desconfiança, a IA deixou de ser uma promessa distante para se afirmar como uma realidade incontornável. O seu verdadeiro alcance ainda não é totalmente discernível, mas parece claro que esta tecnologia está a revolucionar a forma como as organizações operam e concorrem entre si.
Entre os benefícios mais evidentes da adoção da IA, destacam-se o aumento da produtividade, a eficiência operacional, a redução de custos e a intensidade de conhecimento. A estas vantagens juntam-se a capacidade de analisar grandes volumes de dados, de apoiar decisões estratégicas, de melhorar a experiência do cliente e de impulsionar a criação de bens e serviços inovadores.
Contudo, os riscos não podem ser ignorados. No plano ético e legal surgem preocupações quanto à privacidade, à utilização indevida de dados, à discriminação algorítmica ou à perda de autonomia humana. Já no mercado de trabalho, a ameaça da automação impende, fundamentalmente, sobre funções repetitivas ou de menor valor. Mas mesmo as profissões criativas começam a sentir o impacto da IA generativa, que é capaz de produzir textos, imagens e vídeos.
Apesar destes desafios, a tendência é clara: a IA está a ser incorporada, gradualmente mas de forma irreversível, nas operações empresariais. Nos EUA, a adesão é mais acelerada, enquanto na Europa o ritmo tende, infelizmente, a ser vagaroso. Em Portugal, um dos maiores entraves à IA é a escassez de competências digitais, situação que pode ser colmatada com formação especializada, reconversão de profissionais e reforço do ensino superior em áreas tecnológicas.
Mais do que adotar tecnologias emergentes por modismo, as empresas precisam de compreender como a IA pode transformar os seus processos, libertar os trabalhadores de tarefas rotineiras e direcionar o talento para atividades de maior valor acrescentado. O sucesso dependerá de uma implementação estratégica, responsável e sustentável desta tecnologia, apoiada numa aprendizagem contínua que maximize benefícios e reduza riscos.
Para acelerar a introdução da IA, é fundamental promover uma ação concertada entre Estado, setor privado, associações empresariais e universidades. Através deste esforço coletivo será possível criar uma base sólida, que permita às empresas portuguesas aproveitar todo o potencial da IA e torná-la um verdadeiro motor de inovação e crescimento.
É também essencial que a Europa seja soberana na IA, deixando de estar dependente dos gigantes tecnológicos norte-americanos e asiáticos. Isto pressupõe que surjam, no espaço europeu, empresas líderes nas tecnologias emergentes. Ora, para isso, a UE precisa de criar um ambiente empresarial mais dinâmico e competitivo do que o atual.
Armindo Monteiro, Presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal