Liderança com empatia, propósito e foco nas pessoas

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Com um percurso marcado pela coragem, visão estratégica e compromisso social, Luiza Trajano transformou o Magazine Luiza num dos maiores casos de sucesso empresarial da América Latina. Nesta entrevista exclusiva à Revista Business Portugal, a empresária brasileira partilha os momentos-chave da sua trajetória, os princípios que norteiam a sua liderança e a força do movimento Mulheres do Brasil – mostrando como os desafios se podem converter em oportunidades quando se lidera com empatia, propósito e foco nas pessoas.

A sua trajetória é um verdadeiro caso de sucesso no mundo empresarial. Como começou o seu percurso profissional e que momentos considera determinantes para ter chegado onde está hoje?

Comecei aos 12 anos a trabalhar nas férias escolares como vendedora na loja fundada pelos meus tios Luiza e Pelegrino, em Franca, no interior do estado de São Paulo. Eu sou filha única e gosto muito de dar presentes, assim a minha mãe, que tinha uma grande inteligência emocional, disse-me para ir à loja, vender e com o dinheiro comprar os presentes. Aos 18 anos, ingressei na faculdade à noite, a trabalhar e passei por todos os departamentos da empresa até que, em 1991, tornei-me superintendente do Magazine Luiza. Foram inúmeros os momentos determinantes, o importante é que precisamos de vivenciar cada um deles e aprender, além de estar constantemente a aprender e evoluir.

 

Luiza Helena Trajano, Empresária

 

Desde cedo demonstrou uma visão muito à frente do seu tempo. Sempre teve esse espírito empreendedor ou isso foi ganhando forma com os desafios que enfrentou ao longo do caminho?

Acho que foi uma combinação das duas coisas. Sempre tive uma vontade de fazer diferente e melhorar a vida das pessoas. Mas, sem dúvida, os desafios moldaram a minha forma de empreender. Cada dificuldade foi uma oportunidade de aprender, inovar e de me reinventar. O importante é não ter medo de errar, pois faz parte da aprendizagem, e também, não errar duas vezes na mesma coisa.

Ao longo do seu percurso, liderou com coragem num setor tradicionalmente dominado por homens. Que principais desafios enfrentou enquanto mulher em cargos de liderança, e como os transformou em oportunidades?

Nunca me permiti ser discriminada e sempre me fiz ser ouvida e respeitada. Eu era jovem, do interior, mulher e estava num setor muito masculino. Precisei de aprender a posicionar-me com firmeza, sem perder a minha essência nem feminilidade. Transformei esse desafio em força: mostrei resultado, liderei com empatia e criei um ambiente de trabalho onde o mérito e o respeito sempre falaram mais alto.

Acredita que existe uma forma feminina de liderar? Que impacto essa abordagem tem nas equipas e nos resultados de uma empresa?

Sim, acredito que há um jeito feminino de liderar, mas não significa que só mulheres possam ter. Falo de uma liderança mais colaborativa, empática e com foco em pessoas. Isso cria um ambiente mais inclusivo e produtivo. Empresas que valorizam diversidade e equidade têm equipas mais engajadas e resultados mais sustentáveis.

Hoje é uma referência mundial em liderança com propósito. Que valores considera essenciais numa liderança transformadora e como os aplica no seu dia a dia?

Acredito em três pilares: colocar as pessoas em primeiro lugar, ter coragem para fazer o que precisa ser feito e agir com ética e transparência. No meu dia a dia, isso significa estar próxima das equipas, tomar decisões com responsabilidade social e olhar para o futuro respeitando a cultura da empresa.

O grupo Mulheres do Brasil tornou-se uma força ativa na promoção da equidade de género e inclusão social. O que a inspirou a criar este movimento e que mudanças concretas gostaria ainda de ver acontecer através dele?

Fomos convidadas para uma reunião em Brasília em 2014, e pediram-me para levar um grupo de mulheres. Como sempre procurámos incluir um grupo mais diverso possível, acabamos por juntar 40 mulheres, e criou uma ligação forte entre todas, tanto que decidimos criar um grupo, para trabalhar no avanço nas políticas públicas e na representatividade feminina. Já conquistámos avanços importantes, mas o meu sonho é ver mais mulheres em cargos de decisão, menos desigualdade social e um Brasil mais justo e inclusivo.

Está muito atenta às realidades sociais e económicas de diferentes países. Que diferenças mais nota entre o ambiente empresarial brasileiro e o português? E que oportunidades vê em Portugal para o futuro?

Vejo que o ambiente empresarial em Portugal é mais estável, com um ritmo mais planeado, enquanto no Brasil vivemos, muitas vezes, num cenário de instabilidade que nos obriga a ser criativos e resilientes o tempo todo.

Portugal tem uma vantagem competitiva muito grande por estar dentro da União Europeia e por ser uma ponte natural com o Brasil e outros países de língua portuguesa. O Magazine Luiza ainda tem muito a crescer no mercado brasileiro, repleto de oportunidades, por isso, não temos plano de expansão para o exterior.

 

 

 

 

Como avalia a evolução do papel da mulher no tecido empresarial português nos últimos anos? Quais avanços destacaria e que áreas ainda precisam de atenção?

Vejo avanços importantes, com mais mulheres em cargos de liderança e um debate mais forte sobre equidade de género. Mas, como em muitos países, ainda há um longo caminho pela frente, especialmente em setores mais tradicionais e em conselhos de administração. Acredito que ações afirmativas e políticas de inclusão podem acelerar esse processo.

Vivemos tempos de constante transformação – tecnológica, social e económica. Que competências acredita que serão essenciais para os líderes empresariais do futuro?

Os líderes do futuro precisam ter capacidade de adaptação, empatia, visão estratégica e, acima de tudo, humildade para aprender o tempo todo. Saber trabalhar com a diversidade, integrar tecnologia ao negócio e ter um propósito claro também serão diferenciais fundamentais.

O Magazine Luiza é frequentemente apontado como um exemplo de transformação digital no retalho. Que princípios orientaram esta inovação e como antecipa o futuro do setor?

O principal princípio foi entender que a transformação digital não é só tecnologia, é uma mudança de cultura. Colocamos o cliente no centro e integramos o físico com o digital, criando um verdadeiro ecossistema. O futuro do retalho será cada vez mais conectado, personalizado e com foco em experiência do cliente. E o ser humano continuará a ser essencial nesse processo.

Tornou-se uma inspiração para milhões de pessoas, especialmente mulheres. Que mensagem gostaria de deixar aos leitores da Revista Business Portugal, em especial àqueles que ambicionam empreender ou liderar, mas ainda enfrentam dúvidas ou desafios?

Acreditem em vocês próprias. Não esperem estar 100% prontas para começar. O medo faz parte, mas a coragem tem que ser maior. Empreender e liderar é uma aprendizagem contínua. Tenham propósito, façam com verdade e estejam sempre abertas ao novo. E lembrem-se: ninguém faz nada sozinho. Construam redes de apoio.

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