Dia Nacional de Luta Contra a Dor – 21 de outubro 2022
Porque é que são os anestesiologistas os líderes como especialidade no controle da dor?
A atividade da Anestesiologia não se restringe ao bloco operatório e ao apoio à realização dos exames complementares de diagnóstico e tratamento.
Na verdade, e de acordo com as suas competências, os médicos Anestesiologistas são médicos do Péri-Operatório, especializados em Anestesia, Medicina da Dor e Cuidados ao Doente Crítico.
Embora o seu trabalho mais conhecido seja o de anestesiar os doentes no bloco operatório, a sua ação médica é muitíssimo mais abrangente: inicia o planeamento anestésico no pré-operatório, muitas vezes com uma consulta para avaliar o doente, estabilizar as doenças de base, planear a técnica anestésica e a analgesia pós-operatória de forma individualizada para aquele doente, naquela situação clínica.
O seu trabalho inclui também o diagnóstico e tratamento de complicações potencialmente fatais que podem acontecer subitamente durante a cirurgia enquanto o doente estiver submetido a uma técnica anestésica.
A sua capacidade na abordagem da via aérea e na resolução de situações de risco de vida, confere aos anestesiologistas uma grande destreza no âmbito da Medicina de Emergência e Medicina Intensiva.
Os anestesiologistas são peritos em analgesia, inerente à sua formação: estudam a farmacologia dos analgésicos e especializam-se em técnicas loco-regionais de anestesia e analgesia. Coordenam as Unidades de Dor Aguda, cuidando dos doentes com dor aguda operatória e não operatória.
Segundo a IASP, mais de 80% dos pacientes submetidos a cirurgia relata DOR no pós-operatório, manifestada como um conjunto de experiências sensoriais, emocionais e mentais desagradáveis que desencadeiam diferentes respostas físicas e comportamentais no ser humano.
Anos de pesquisa por Anestesiologistas levaram ao desenvolvimento de procedimentos e protocolos sistematizados de intervenção em DOR, revisão de critérios de referenciação e de alta da consulta de Dor, que tornaram as técnicas anestésicas e de controlo da dor mais seguras e eficazes do que nunca.
O tratamento da DOR aguda no pós-operatório facilita o processo de recuperação, minimiza o sofrimento do doente e evita a cronicidade da DOR.
Estima-se que cerca de 30% dos doentes submetidos a cirurgia desenvolve DOR CRÓNICA pós-operatória. Uma das grandes áreas de investigação médica é exatamente essa, perceber os mecanismos que levam à cronificação da dor e a desenvolver medidas que a mitiguem.
Por este curriculum de base, os Anestesiologistas integram também Unidades de Dor Crónica, que tratam doentes oncológicos e não oncológicos, com impacto importante na funcionalidade e qualidade de vida.
A Anestesiologia é uma especialidade médica centrada na segurança e bem-estar do doente.
Desvenda-se na frase de Hipócrates – Pai da Medicina:
“Curar quando possível, aliviar quando necessário, consolar sempre.”
16 de outubro – Dia Mundial da Anestesiologia
Qual é o posicionamento da Anestesiologia na segurança do doente?
“Não podemos mudar a condição humana, mas podemos mudar as condições em que os humanos trabalham”
Reason J. BMJ,2000
O risco associado à prestação de cuidados de saúde é real e incontornável embora em níveis residuais.
O Dia Mundial da Segurança do Doente foi aprovado em 2019 pela World Health Organization.
O foco na segurança do doente, visa chamar a atenção para a melhoria contínua dos cuidados de saúde.
Entre as principais dimensões visadas na mudança na saúde estão os cuidados centrados no doente. O foco na qualidade dos cuidados e na segurança do doente, no trabalho de equipa com envolvimento de todos os profissionais das diferentes áreas; onde cada vez mais a Anestesiologia ocupa um posicionamento diferenciador; (recorrendo sempre que for necessário a tecnologias de informação como suporte desse continuum de cuidados) são também dimensões dessa mesma mudança.
Como o devemos fazer? Reitero que os Anestesiologistas são profissionais de “mão cheia”, exercendo na sua atividade clínica diária, um valioso trabalho capaz de prevenir e reduzir danos evitáveis nos cuidados de saúde. Daí que a presença do Anestesiologista seja imprescindível em uma diversidade de serviços hospitalares que todos os dias aumenta e a falta destes profissionais conduz inequivocamente ao adiamento de cirurgias ou exames (quer de diagnóstico quer de tratamento). Isto porque o Anestesiologista é o PILAR da SEGURANÇA e como tal o elo da cadeia mais importante que uma vez ausente se se insistir em executar essa ação, pode levar a um erro de execução-falha no trabalho planificado que não termina como previsto.
A ausência do Anestesiologista conduz inequivocamente a uma diminuição da satisfação do doente e da confiança relacional médico-utente, tendo por isso consequências até a nível social.
A Anestesiologia é uma especialidade transversal, com a envolvência dos seus especialistas em múltiplas tarefas e funções, na maioria das vezes multidisciplinares, o que os obriga a ter uma visão holística do ser humano, assim como a necessidade de aquisição de vastos conhecimentos científicos integradores e competências técnicas em diversas áreas da ciência médica. Tudo isso torna o Anestesiologista o médico que mais zela pela segurança do doente.
Compete, pois, à Sociedade Portuguesa de Anestesiologia e a mim como Presidente continuar a investir na elevação da fasquia da Anestesiologia, reforçando o papel da formação especializada e da investigação científica – através da realização de reuniões anuais, updates e webinares e continuar a promover a elaboração de guidelines por grupos de consenso de Anestesiologia, com o objetivo de uniformizar práticas e procedimentos clínicos que culminem com atualizações e auditorias.
O suporte científico torna sempre mais fácil o envolvimento multidisciplinar “inside the hospital”, dado que as evidências sobre o benefício desta combinação são abrangentes e transversais a todas as especialidades médicas e cirúrgicas.
É uma das prioridades da nova Direção reforçar o papel desta Sociedade Científica como um vetor de confiança e de mudança, onde cada anestesiologista sinta o desejo de aumentar o seu potencial clínico, culminando a Anestesiologia num PILAR que promove a segurança e “empowerment” profissional.
Para além da preparação dos Anestesiologistas, a nível individual, devem ser procuradas também soluções no seio das organizações no que concerne à SEGURANÇA dos cuidados de saúde.